No verão, passo algum tempo de férias em Mindelo, Vila do Conde. Nas esplanadas pertinho do mar, há um tema que é recorrente: o tempo. Que bom, hoje não há vento. A nortada de ontem foi terrível. Que nevoeiro se formou. Hoje está mais frio do que ontem. Não me lembro de um fim de tarde calmo como o de sábado. Foi um dia sem ver o sol...
Há meses que lá não vou e, se as esplanadas estiverem a funcionar (no café do Fernando há uns pregos deliciosos), o estado do tempo deve continuar na ordem do dia, mais os dados da pandemia, mais o confinamento decretado, mais as diferenças entre o Natal que se aproxima e os anteriores.
E não é só lá, é em todo o sítio onde vamos passando e sempre que falamos com alguém, para além do bom dia ou boa tarde!
Gosto sempre de ver o mar e olhar a praia, mesmo no inverno.
Neste momento, estou em casa, como milhões de portugueses; na rua, passa apenas um carro de vez em quando e não se ouvem vozes lá fora. No meio de silêncios, ao pensamento vieram-me imagens de maresia, que distam uns quarenta quilómetros.
O mais certo é as esplanadas em Mindelo estarem fechadas. O mar, esse nunca está.
Nestas tardes de confinamento, a praia pertencerá apenas às gaivotas. E à espuma com ondas. E aos sons das águas invernosas...
Ah! É costume haver uma lojista que deixa a loja ao fim da tarde para fotografar o mar. Nunca a ouvi falar do tempo porque quer aproveitar o tempo e ir a tempo de captar a melhor fotografia. Como deve estar a chover neste momento, olhará o mar através da janela mais alta da casa.
Afinada e confinada, fará contas à vida, mas não deve resistir a fotografar as gaivotas na sua avidez ruidosa. Raisparta a pandemia, ela dirá, enquanto colhe imagens de uma tarde cinzenta e fria. Mas nunca só.