terça-feira, 31 de outubro de 2023

E, camélia puxa camélia...

 

A minha filha mais nova veio visitar a família. Apenas por um par de dias, mas deu para um lanche de abraços mais alargados em tarde de sábado e de forte invernia.

Felizmente,  o domingo acordou uma hora mais tarde e de céu mais sossegado. E assim continuou sereno para um passeio no belo parque de Serralves, onde já havia camélias abertas, tal como algumas já reluzem no jardim da nossa casa.

- Mãe, já há camélias? Em Londres, ainda não vi nenhuma.

E, camélia puxa camélia, falou-se de alterações do clima e da memória que nem sempre  se mantém intacta.

- Filha, já não me lembro se no ano passado as camélias abriram mais tarde ou nesta altura.

E, ao almoço, o apetecido e apetitoso peixe grelhado. Com salada de pimentos. 

- Que saudades eu tinha desta maravilha, disse ela, com o sorriso meigo de quando não está com pressa ou cheia de coisas urgentes para fazer.

Ao fim da tarde, veio de novo a chuva intensa. Sobretudo na hora da despedida. No dia seguinte, a umas duas horas de distância de avião e quase outras tantas de comboio, havia trabalho e escola. No meio de pessoas a partir e a chegar, as lágrimas da minha neta soltavam-se dos bonitos olhinhos claros já saudosos.

No meu regresso do aeroporto, uma densa neblina fechava o horizonte e caía uma chuva persistente. A tarde escurecia cinzenta e a lembrança da cor viva das camélias ia-se-me apagando. As lágrimas da minha neta é que não.

 

7 comentários:

  1. Mas foi um encanto estar com elas, não foi? Serralves é um bom lugar de passeio, ainda que a não recorde com chuva e frio. Sempre visitei em tardes soalheiras. Lembro-me de ver ali, pela primeira vez, os ouriços envolvendo as castanhas; trouxe comigo um ou dois.
    As separações afectam mais as crianças? Nem por isso. Elas são apenas mais espontâneas, a vontade chorar quando alguém querido se aparta de nós, é a mesma. Mas aprendemos a suavizar a partida, quantas vezes pensando que afectaríamos mais o outro se nos deixássemos invadir pela comoção. Lembro um amigo que saía muito à pressa do nosso círculo e dizia "até logo". Ficaríamos meses sem ver-nos. Muita coisa acontecia entretanto. Mas ainda hoje julgo ser a sua forma de lutar contra a ternura e aquele humano vacilar .

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    1. Também gosto muito de Serralves, apesar de não ir lá com muita frequência. E, para além da beleza do parque e das exposições, desenvolvem atividades muito boas e muito diversificadas.
      Também acho que a tristeza nestas separações normais também fazem do crescimento de uma criança e para mais vivendo num mundo que é cada vez mais global.
      É curioso que a minha neta, nas despedidas, também diz sempre 'até logo', com o seu sotaque inglês.
      Também acho bem a atitude do seu amigo. Se calhar, é a melhor maneira de dizer até à volta, porque nunca se sabe ao certo quando vai ser!
      Um dia feliz, Bea

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  2. Belíssimas palavras! Obrigado por elas.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  3. Que ternura Maria Dolores colocou neste pequeno texto. Ficou-me "o sorriso meigo de quando não está com pressa", porque realmente faz a diferença quando se visita entes queridos sem o tempo contado - o sabor da conversa que rola é logo outro.
    E o peixe grelhado com salada de pimentos (adoro mas ficam-me sempre a trabalhar no estômago) deixou-me água na boca. Não se come muito em terras de sua majestade?
    O afeto que sua neta demonstra por si tornam-lhe as despedidas mais difíceis, não é?!
    Uma boa tarde Maria Dolores.

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  4. Bom dia, Joaquim.
    Sim, é bom quando há tempo para passear um pouco e conversar ainda mais, porque no dia a dia nem sempre é fácil, sobretudo para quem vive longe, trabalha muito e não tem família por perto.
    Em Londres há peixe também, mas assado na brasa, como o vemos aqui com frequência, tal como os pimentos, terão um sabor ainda mais especial para quem vive fora. Eu, por mim, ao peixe também junto batatinhas!!!
    Sim, a despedida da minha neta custa sempre bastante. Apesar de não vir cá muitas vezes, sempre teve uma grande ligação à família. Porém, o sorriso bonito dela volta, depois de ela voltar à sua rotina diária. Felizmente.
    Quanto a mim, ficam as saudades e fico a pensar no próximo encontro que deve ser lá (só espero é que não haja tanta ventania na viagem como há hoje).
    Uma boa 5ª f, Joaquim.

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