sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Deitar à cara

 

Não gosto desta expressão. Então, estarão a perguntar: por que razão ficou no título? 

E têm razão. De facto, acho esta expressão fria, justiceira e cega por parte de quem a usa e põe em prática.

Tantas vezes tantos de nós se calam porque sabem que, mais tarde, palavras ditas sobre o assunto serão atiradas de mansinho ou em desdenhosa acusação. E, muitas vezes, quem as vai buscar e as atira como pedras esquece que se abriga em telhados de vidro muito fino.

Outra coisa que me custa ouvir é: 'sou frontal, digo o que penso'. E o pior é que quem o diz muitas vezes se ofende com as palavras dos outros, sejam elas cor de rosa ou cinzentas ou de outra cor qualquer.

Sem falsidade, ingenuidade ou hipocrisia, podíamos e devíamos ser mais justos e compreensivos uns com os outros. E aqui também me incluo, é claro. Há tanta coisa (que tenho) a aprender.

Se fôssemos olhando uns para os outros como gostamos de ser olhados, dava um certo jeito e, pelo menos, o nosso mund(inh)o passava a ser melhor e mais feliz. E o mundo maior podia melhorar também. 

E, se assim fosse, ao ver caras também se viam corações. 

 

6 comentários:

  1. Concordo na íntegra com o teor do texto. O ser frontal é só para o que se diz aos outros e não para o que nos dizem a nós. Enfim ...Feliz fim de semana

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    1. Sim, e se calhar cada um de nós já viveu situações semelhantes. Nada agradáveis, por vezes.
      Enfim, felizmente, há outros momentos mais felizes.
      Bom fim de semana, Ricardo

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  2. Se ao ver caras se vissem corações talvez perdêssemos interesse e mistério. Mas entendo o que diz, embora ache que o tipo de frontalidade a que se refere seja quase sempre injusta para com o outro, "ser frontal" é uma espécie de desculpa, um motivo que se sublinha para atribuir qualidade ao defeito que têm. Admiro a frontalidade respeitosa - funciona como advertência ou ajuda. há frontalidades admiráveis e que são próprias da integridade de um sujeito, que lhe aportam respeito e reconhecimento por parte de quem os reconhece. Mas esses prescindem da justificação.
    "Deitar à cara" parece-me atitude de garoto de mau génio, aquilo que, na minha terra se comenta como "dizer tudo, como os malucos". Falta-lhes bom senso, a tal coisa que, sarcasticamente, Descartes dizia ser a mais bem distribuída entre os homens, dado ninguém se queixar de ter pouco ou em excesso.
    Bom fim de semana, Maria Dolores.

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  3. Tem razão, Bea, os provérbios são engraçados, retratam bem algumas realidades, mas não as mostram completamente. E embora o mistério humano muitas vezes traga constrangimentos, a falta dele ainda trazia mais chatices.
    Também aprecio muito essa frontalidade que se dá muito bem com a experiência, sabedoria e coragem.
    Eu fui para a frontalidade mais rasteira, a tal que 'diz tudo, como os malucos'. A esta talvez custe ainda mais responder porque é mais injusta e desarrumada.
    Desconhecia a frase de Descartes, que, mais uma vez, tinha razão.
    Um bom fim de semana também, Bea, com muitos momentos felizes e calmos.

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  4. Mais um excelente tema querida Maria Dolores que só agora li. Somos parecidos no sentir e isso é aconchegante ao espírito, pois sentimos que algures no mundo alguém pensa como nós.
    Bem... deixemo-nos de lamechices.

    Meu pai costumava dizer também que numa resposta quem usava o "obviamente" estava  a chamar estúpido ao outro.
    E eu, não gosto de ouvir alguém dizer "ponto final", como se não admitisse mais conversa, revelando intolerância ou fastio.
    Mas sabe, isto tem muito a ver com a educação, pois a minha mãe ainda um dia destes me ralhou numa atrapalhação minha: Mas que é isso? Apanhaste foi o autocarro, qual camioneta!
    Um resto de tarde tranquila Maria Dolores.

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  5. Bom dia, Joaquim.
    Sim, nós, humanos, como canta Rui Veloso, temos 'mais coisas que nos unem do que aquilo que nos separa'. Salvo os casos horríveis daqueles - e são muitos - que querem e podem dividir o mundo para reinar.
    E não digo 'obviamente', porque também não gosto muito da palavra. Às vezes é um modo de pôr o tal 'ponto final' (que também não aprecio) na conversa, deixando coisas entaladas na garganta.
    A comunicação (as minhas filhas dizem que eu uso muito esta palavra) tem muito que se lhe diga e as palavras assumem sentidos para todos os gostos e pretensões. Vejam-se os políticos. Até o António Guterres - que deve pensar tanto no que diz e no que escreve - meteu-se numa grande guerra por causa de uma frase dita.
    Um bom dia, Joaquim, e com boas palavras.
    Teve graça o reparo da sua mãe, querendo ouvir a palavra certa.

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