Felizmente
há bastantes pessoas que falam da sua infância como um tempo feliz.
Nesses casos de felicidade recordada, para além dos pais, quase sempre há um avô ou uma avó a amaciar
os caminhos com amorosa candura.
Os meus avós maternos não os conheci. Morreram ainda novos, já com muitos cansaços e muitos filhos.
Os
meus avós paternos, que tiveram também uma família numerosa, esses, felizmente, conheci-os. O meu avô era um homem grande e
forte, muito ternurento, que alimentava as suas alegrias e histórias quotidianas vendo
o futebol da terra e ouvindo bandas de música nas festas populares. Não falava muito da sua infância, mas tinha começado a trabalhar ainda menino.
A minha avó, porém, estava mais fechada ao amor e a meigas interações. O momento feliz do seu dia era quando ouvia o Tide, o folhetim da rádio. Esses momentos eram a hora do sonho e da vida a tornar-se leve. Ou o refúgio numa vida que gostava de viver mas que lhe fugia ou não tinha força de agarrar.
Enquanto
eu ia crescendo, ia-me apercebendo de muitas pessoas à minha volta com muita inteligência, mas nas quais se pressentiam mágoas de não acederem à felicidade que conseguiriam atingir mais facilmente se tivessem, por exemplo, estudado ou sido apoiadas por figura boa e amaciadora dos seus caminhos.
Como uma corrida de maratona
que se deseja, mas para a qual não se tem apoio para treinar nem se arranja treinador.
Foram muitas pessoas de diferentes idades que fui conhecendo, dentro e fora da família, muitas delas a trabalhar desde crianças pequenas, e que se ressentiam, ao longo da vida, da falta de valorização e do roubo de direitos tão comum nessa época de enorme desamparo social.
Muitas dessas pessoas talvez gostassem de voltar à infância, mas por uma única e complexa razão: com o que já sabem, poder viver um tempo mais feliz do que aquele que conheceram.
Eu poderia voltar, e se calhar fazia algumas coisas diferentes! :))
ResponderEliminar.
A Vontade de lá voltar...
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Beijo, e um excelente fim de semana,
Imagino que, a haver céu e lugar de transcendência, ele será qualquer coisa de infantil e sem problemas. E não uma fase da vida, mas um sempre. E que os homens serão inocentes e espontâneos como crianças.
ResponderEliminarNão sei se isto responde à questão da Maria Dolores sobre voltar ao que não se pode; porque não se volta a coisa nenhuma.
Um abraço
Eu de certeza não quereria. Não quereria voltar à miséria, que foi a minha infância.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo