sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Nem só diferenças

 





 

Desta vez, foram as flores que me chamaram na casa materna - minha e delas.

 

 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Ternura 2 em 1

 

          

 Foto tirada hoje na casa materna - minha, e dos gatos!!!



quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Mina

 

Há muito tempo que o grupo tinha o hábito de se encontrar à hora do almoço. Todos trabalhavam nas imediações e foram-se conhecendo em circunstâncias várias. À hora do costume, chegavam, sentavam-se e havia sempre peripécias do dia para contar. Os empregados do restaurante já lhes conheciam os hábitos.

Naquele dia, a conversa foi para casos de família. Como já sentiam à vontade uns com os outros, Mina não se ficou pelo anedótico. Também não fazia muito o seu género. Falou do pai. Que nunca tinha ouvido um elogio da boca dele. E que lhe dizia com frequência e com ar recriminatório que era uma desajeitada, ao contrário das filhas dos amigos. A sua mágoa era grande.

Os dias sucederam-se. Também os almoços e as conversas. Um dia, Mina, num estender do braço, partiu um copo. A água jorrou sobre as calças da colega do lado que, perante o incidente, logo disse: o teu pai tinha razão, és mesmo desajeitada.

Mina nunca mais foi almoçar com o grupo.


terça-feira, 3 de agosto de 2021

O sabonete

 

Sempre que os vejo em prateleiras do supermercado, não resisto a olhar e muitas vezes a comprar. E então quando os vi numa loja Ach. Brito bem apelativa, o fascínio foi ainda maior. Refiro-me aos sabonetes Patti. Cheiram a bocados bastante felizes da minha infância. 

Na casa de banho das minhas tias - viviam numa casa de lavoura, grande e antiga - nunca conheci outro cheiro. Sempre que ia a casa delas, gostava de ir lavar as mãos para que o perfume do sabonete Patti ficasse entranhado na minha pele durante algum tempo. Os sabonetes eram pequeninos e verdes - via-os sempre sem o papel de fora.

Havia uma janela de vidros pequenos que estava sempre aberta para os campos, mas o perfume do sabonete Patti nunca desaparecia.

Na última vez que fui à casa das minhas tias, há um par de meses, antes de a última delas falecer, lembrei-me apenas do cheiro do sabonete Patti. O mais certo era já não existir. Assim, continua a perfumar bocados bastante felizes da minha infância.

 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

O campo de férias

 

Hoje era o primeiro dia do campo de férias. A menina estava felicíssima. A mãe, perante o entusiasmo dela, sorriu-lhe. 

- Também acho que vai ser bom o campo de férias. 

- Para mim, vai ser bom por duas coisas importantes.

- E quais são?

- Uma delas é porque duas amigas da minha sala também vão.

- Que bom. E a outra, filha? 

- Estou feliz por levar a minha lancheira.

Despediram-se.  Saboreando a maravilha de uma simples lancheira também o poder ser.

 

 

domingo, 1 de agosto de 2021

O sorriso namorador

 

Ela não lhe chama ritual. Apenas o dia de domingo.

Ao fim da tarde de sábado, prepara a roupa que quer usar no dia seguinte. Não é que a variedade seja muita, mas como não engorda nem emagrece, a roupa dura-lhe muitos anos. Vai à caixinha das joias e escolhe os adereços a condizer: brincos, anéis, um alfinete, pulseiras e um fio de ouro com uma medalha. Fora o fio, é tudo pechisbeque, mas acha tudo lindo e colorido, assim como a caixinha que comprou numa excursão a Aveiro. Pega nela com muito jeito para não partir, nem cair nada, porque já lhe custa vergar-se.

Depois é só esperar pelo domingo. Antes das nove horas da manhã, já está feliz e esmerada na paragem da camioneta que a leva ao Porto, onde se encontra com as amigas, no mesmo Centro Comercial. 

São sempre as mesmas e os vizinhos de mesa também. Um deles namora-a com o olhar e sorri-lhe. Um dia, arranjou coragem para lhe dizer que ela era bonita e que gostava muito do cabelo dela aos caracóis. 

Quando ouve elogios, ela sorri com sorriso namorador, porque não os ouviu durante longos anos.

Nem quer pensar no tempo em que o Centro Comercial esteve fechado por causa da pandemia. Um dia, nervosa, quase deixou cair a caixinha das suas joias a limpar o pó. O que vale é que se lembrou do elogio namorador, quando viu os caracóis grisalhos, mas ainda juvenis do seu cabelo. Até são bonitos, pensou, namorando a sua imagem refletida. 

Há muito que voltaram as manhãs de domingo passadas no Centro Comercial. Hoje, antes das nove da manhã, já estava ela à espera da camioneta. Acenei-lhe e parecia feliz. Talvez à espera do sorriso namorador no Centro Comercial.


 

sábado, 31 de julho de 2021

Tirar o dia para si. Leia-se para mim

 

Hoje resolvi tirar o dia para mim, sem tirar o carro da garagem. Levantei-me cedo e o pequeno almoço foi o do costume, mas talvez mais devagar. Reforcei a caneca do café várias vezes e a minha compota de framboesa no pão escuro soube-me bem.

Fui regar o jardim e o quintal. Já não o fazia há uns dias. À hora em que o sol aquece menos, tenho tido outras coisas para fazer. Não sei se mais importantes, mas que, para mim, tinham de ser feitas. Neste momento, as plantas estarão a saborear a frescura da água que lhes dei a beber pela fresca.

Depois a mangueira deu sinais de o precioso líquido ter esgotado por umas horas. Desliguei o interrutor. Descansa, recupera o fresco alento, pensei eu. Hoje não te canso mais. Mereces o descanso. Sei que amanhã voltarás, água do meu poço tão antigo e tão presente. E cada vez mais necessário.

Agora escrevo as minhas coisas, que serão pequenas, mas que sem elas a minha vida não seria a mesma coisa. E não me posso queixar. Isso seria uma afronta e desrespeito para tanta gente com tanta carência e tanto sofrimento. 

E também quero ler. Avançar nas páginas do livro que ando a ler de Afonso Cruz - um escritor-poeta-ilustrador-músico... De corpo grande e largo. E também o sorriso. Parece quase ingénuo, mas não é de certeza. Deve é conhecer verdades que muitos desconhecem.

Também a mim - eu que não sou nada disso (a não ser no corpo) - já me chamaram lírica várias vezes. E também ingénua. Se calhar, até sou, embora ache que não sou, mas, neste momento, não estou preocupada em pensar se o sou ou não sou.

Pronto, estou a tirar o dia para mim. Tirar um dia para si também pode saber bem.

Bom sábado e que seja um sábado que a todos saiba bem. 

 

 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Dunas


        de azur

                           ar

                                     Azurara - Vila do Conde



 

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Olga de seu nome

 

Às vezes, passava aqui à minha porta na caminhada que fazia diariamente. Sempre apressada em andar quase nervoso no seu corpo grande e ossudo. Também o rosto era magro e os olhos pareciam mais negros e fundos. Um dia, eu ia a sair e perguntei-lhe como estava. Mal, respondeu, e foi dizendo: antes da pandemia, chegava à noite cansada de trabalhar, agora chego à noite cansada e desanimada de não ter trabalho. O que me vale são as caminhadas para arejar a cabeça. 

E a cena repetiu-se mais duas ou três vezes. Depois, achei que o melhor era dizer só olá, sorrir-lhe e deixá-la seguir no seu passo largo e decidido. Também nunca tido sido de muitas falas, para além do essencial.

Hoje, reencontrei-a na empresa onde sempre trabalhou e que, durante largos meses, quase deixou de laborar por falta de encomendas. Sorriu-me. Vejo que agora anda mais contente. Ai não, disse ela, continuando apressada, agora para a banca de trabalho onde os seus dedos traquejados 'enchiam' as peças de filigrana, desenhando e cortando os finos fios de prata.

 

terça-feira, 27 de julho de 2021

'Diz o avô' - Luísa Ducla Soares

 

Gosto muito da escrita de Luísa Ducla Soares - uma escritora para crianças, como é conhecida. Haverá, porém, barreiras na escrita? Julgo que não, apesar de necessárias diferenças.

 Por estes dias, tem-se falado mais dos avós. Bem merecem. E que a atenção continue, é claro. 

 

'Tens cabelos brancos.
Mas porquê, avô?
Caiu muita neve
na estrada onde vou.

Tens rugas na face.
Mas porquê, avô?
Bateu muito sol
na estrada onde vou.

Tens olhos baços.
Mas porquê, avô?
Pousou nevoeiro
na estrada onde vou.

Tens calos nas mãos.
Mas porquê, avô?
Parti muita pedra
na estrada onde vou.

Tens coração grande.
Mas porquê, avô?
Nele mora a gente
que por mim passou'.

 

Luísa Ducla Soares in A Cavalo no Tempo


 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A língua francesa, os gatos e je t'aime.

 

Todos estranhámos. Uns mais do que outros, é verdade. Ela entrou na reunião a falar francês e assim continuou até ao fim. No início, as pessoas entreolharam-se, sorriram, e alguém perguntou até por que não falava português como toda a gente. Ela respondeu, convicta, que naquele dia preferia usar a língua francesa e assim continuámos. Todos nós que estamos aqui sabemos francês, acrescentou, para pôr ponto final ao assunto.

Toda a gente sabia que ela era excêntrica, que vivia só e rodeada de gatos. Tinha-os às dezenas no quintal e como a porta da cozinha estava sempre aberta, os bichanos circulavam pela casa toda à vontade. Dormiam onde queriam, saltavam onde podiam e brincavam com tudo o que encontravam que era quase tudo porque tudo estava à mão, ou melhor, ao alcance da patita. Era assim que se sentia bem. Já feliz, não sabia bem se era, porque preferia tratar dos gatos a pensar nisso. O pensamento ficava para o trabalho.

Pois bem, os assuntos agendados para a reunião foram tratados e no final ela despediu-se, usando sempre a língua francesa: au revoir, je vous aime.

Como se afastou logo, não ouviu um comentário: 

Gostava de saber se alguma vez esta mulher ouviu um 'Je t'aime'. 

                   Sabia, no entanto, que ela nunca lho diria.

 

domingo, 25 de julho de 2021

O tanque, a água e as gotas do oceano

 

Era eu adolescente quando nos mudámos para a casa onde a minha mãe continua a viver. É aldeia, mas onde nós morávamos era mais aldeia ainda, apesar de ser a mesma aldeia. Havia muitos campos à volta e os lavradores deslocavam-se com os seus carros de bois que passavam ronceiros.

Ora, alguns desses campos tinham nascentes que eram aproveitadas para tanques onde as mulheres iam lavar a roupa e, tantas vezes, limpar a alma do pó duro das suas vidas, enquanto ensaboavam, esfregavam, espremiam, torciam a roupa.

Como não havia máquinas de lavar, também a minha mãe lá ia. E muitas vezes eu ou a minha irmã. O meu irmão não, porque era mais novo e esses sítios eram como o chorar, isto é, não eram para homens.

Como a nova casa ficava um pouco mais distante, foi feito um tanque para lavarmos a roupa. A minha mãe queria-o grande, porque estava habituada a larguezas de água. Com o tempo, foi vendo que havia muito desperdício do líquido que viria a fazer muita falta - dizia ela, mesmo sem se ouvir ainda falar do assunto. Por isso, algum tempo depois, mandou fazer uma parede, reduzindo o tanque em mais de metade. Quando agora o uso para lavar algumas peças de roupa mais sujas ou mais delicadas, recordo essa mudança e os alertas da minha mãe, tão atuais e necessários agora.

E sempre a vi a aproveitar água da chuva para regar as plantas ou para lavagem de alguns espaços. Também as águas de lavar legumes não iam pelo cano abaixo. Louvo-lhe esses cuidados que mais pareciam nascer dela, porque nunca foi de passar muito tempo a ouvir rádio ou a ver televisão.

Não sei como estará esse lavadouro da minha infância, agora que já ninguém lá vai. Deus queira que a nascente não tenha secado. Parece que não tem nada a ver, mas não me posso esquecer de fechar a torneira enquanto lavo os dentes. A gente às vezes esquece-se de que o oceano é feito de muitas gotas.

 

sábado, 24 de julho de 2021

'BEMBOM'

Bem Bom (2021)


Vi o filme BEMBOM, estreado recentemente, sobre as DOCE, a famosa girlband portuguesa dos anos oitenta. Dentro do género, achei engraçado, vivo. Contando a história da formação da banda, levanta problemas como  questões de género, mentiras sensacionalistas, entre outros.

E estão lá canções que estão no ouvido de muitos de nós, em gravações das vozes originais das DOCE, com interpretação de quatro atrizes que, na minha modesta opinião, vestiram muito bem o seu papel, não lhes faltando alegre energia. São elas: Bárbara Branco, Lia Carvalho, Ana Marta Ferreira e Carolina Carvalho.

Também aparecem no filme figuras do espetáculo muito conhecidas naquela época: Tó Zé Brito, Mike Sergeant, o costureiro Zé Carlos, etc.

Talvez não seja um filme para voltar a ver. Permite, no entanto, (re)conhecer hábitos dos idos anos oitenta, compreender a vida daquele grupo - tão ousado e tão popular - e relembrar músicas que podem trazer boas memórias para muitos, o que também não deixa de ser doce. E bem bom.

Realização: Patrícia Sequeira

Argumento: Cucha Carvalheiro e Filipa Martins. 

 

Passou, no início desta tarde, uma entrevista de Inês Maria Menezes, no programa 'Fala com ela', da Antena 1, com a realizadora do filme: Patrícia Sequeira. Vale a pena ouvir na RTP play.

As DOCE no original:

 

As atrizes que as interpretam:

sexta-feira, 23 de julho de 2021

À volta das rotundas

 

De há uns anos a esta parte, não faltam rotundas. Quando começaram a aparecer, foram criticadas, tal como acontece com muita coisa que é novidade. Mas, pensando bem, dão jeito e organizam melhor o trânsito. Pelo menos, as que conheço melhor.

Só não gosto é quando têm erva daninha alta, arbustos secos, pedaços de terra ressequidos. ou plantas grandes que não deixam ver bem para o outro lado. Como acontece às vezes em espaços separadores de estradas. Podendo-se mudar de sentido, não se consegue ver bem os carros que vêm em sentido contrário, de tão altas que as plantas são.

Pois bem, tenho reparado ultimamente que muitas rotundas se estão a alindar. E de que maneira. Ele são flores, ele são cores e formas combinadas. O resultado dá gosto e os olhos gostam de espaços bonitos. Se gostam. Eu diria que também os corações.

Oxalá que assim continue depois das eleições autárquicas. Os olhos gostariam e os corações também. Ah, assim como a crença nas instituições.

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

O homem da gasolina

  

Vou com frequência a uma bomba de gasolina onde há um funcionário que põe o combustível, recebe o dinheiro, tem máquina multibanco à mão, passa o recibo, enquanto o cliente fica sentadinho no carro a fazer essas operações. 

Ora, nessa bomba de gasolina, há sempre alguns carros em fila de espera, como esteve o meu nesse dia.

Como estava parada à espera, fui observando que o funcionário não parecia muito satisfeito com o que estava a fazer. Ou com a vida, não sei. Era a primeira vez que o via naquele posto de abastecimento. Punha o combustível a correr na garganta do carro e entrava na loja para logo depois sair.  Eu não podia ouvir o que dizia aos clientes, mas parecia-me ser parco em palavras. Deve ser antipático ou estar de mau humor, pensei eu.

Bom, chegou à minha vez. Logo que ouvi aquela voz das bombas de gasolina: 'você pediu gasolina simples', chegou uma rapariga com um café, dizendo-lhe que ia pô-lo na loja com o pires por cima para não arrefecer.

Compreendi, então, que, coitado, o funcionário ia almoçando ao mesmo tempo que vendia o combustível. Daí as constantes entradas e saídas. Ah, parecia discreto e foi muito simpático. 

Às vezes, as lentes da distância desfocam a realidade, levando-nos a formular juízos sem juízo nenhum.


quarta-feira, 21 de julho de 2021

Desta vez, com rio ao fundo!

 

Ilusão, mas não mentira


terça-feira, 20 de julho de 2021

Neblina na cidade com mar ao fundo

 

Hoje de manhã, este pedaço de praia de Espinho era quase um deserto. Caía uma chuvinha miúda. No passadiço, havia, no entanto, quem corresse, quem caminhasse, quem olhasse as ondas quase silenciosas do mar, quem fechasse o guarda-chuva, quem procurasse um abrigo... E desejei que o sol brilhasse. E que aparecessem mais pessoas. E que as esplanadas se recheassem. E que a praia ganhasse cores. E que o mar fosse abraçado...

Talvez à tarde. Às vezes, é preciso esperar.

Marcas de dias com pés mais quentes

Cadeiras vazias e palmeiras do sol saudosas

O areal que já foi bem maior



segunda-feira, 19 de julho de 2021

Juliette Binoche - Et Si Tu N'existais Pas

 
E se a música não existisse? Ou o sorriso? Ou o amor? Ou a amizade? Ou a arte? Ou a boa comunicação? Felizmente, sim! 
Malgré tout!
BOA SEMANA!
 
 
Canção na voz de Joe Dassin 
Imagens da atriz Juliette Binoche

domingo, 18 de julho de 2021

Conversa mansa com teste dentro

 

- Por que tenho de fazer novo teste covid?

- Avó, porque esteve com o João e ele testou positivo.

- Eu já estou vacinada.

- Não é suficiente.

- Tinha de usar máscara?

- Também, avó.

- Só para falar com o João?

- Sim, avó. Ele não vive cá em casa.

- Como posso ter ficado infetada, se ele é tão querido e tão mansinho?!

 

sábado, 17 de julho de 2021

O apartamento - o consultório

 

Quando saímos do apartamento, as minhas filhas eram muito pequenas. Eu ia com elas a um pediatra que me disse ir mudar de local do consultório e deu-me a nova a morada. Que coincidência, pensei eu. Ele tinha alugado o nosso ex-apartamento, para espaço de trabalho. 

Na consulta seguinte, lá fui eu com as meninas. No que era sala de visitas e sala de jantar, funcionavam escritórios; a cozinha era a sala de espera para o médico e a casa de banho era comum. À entrada, ainda lá estava o papel que eu havia colado no armário do quadro elétrico e reconheci um autocolante engraçado na parede da cozinha (agora sala de espera), deixado pelas minhas crianças. Não podia conter alguma emoção, porque, apesar de estar tudo bastante diferente, via marcas do tempo em que lá tínhamos vivido.

Ora, o consultório era precisamente no lugar que tinha sido o quarto. Quando entrei com as minhas filhas, ainda quase de colo porque a diferença de idades é pequena, logo contei ao pediatra que tinha vivido naquele apartamento. Contudo, o que tem uma carga emotiva para uns pode não a ter para os outros, porque as vivências também diferem. Foi o que aconteceu. Para ele, seria apenas o novo espaço de trabalho. Mudámos de assunto e a consulta decorreu normalmente.

Quando saí, acho que ainda olhei para trás, sentindo, porém, que aquele espaço já se tornara para mim bem mais distante. Como vai acontecendo ao longo da vida. Embora permaneçam emoções à flor da pele.