domingo, 9 de novembro de 2025
terça-feira, 4 de novembro de 2025
Encontrei hoje numa pasta qualquer
O silêncio da casa
Deixo coisas por fazer
para que a casa continue assim
em silêncio
não sei se exala passado
ou sobretudo o agora
mas o momento é sereno
e não quero desperdiçar nada
do silêncio da casa de hoje
a cama está por fazer
a cozinha por arrumar
a roupa por passar a ferro
mas nada disso importa
não posso perturbar
o silêncio da casa
olho a tua fotografia
e não te digo nada
volto a olhar
volto a nada dizer
não é preciso
conheces o meu amor
pelo silêncio
- Mas com arrumação!
pressinto que vás acrescentar.
15.09.2020
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Andamos nervosos ou é de mim?
Conheço um casal de brasileiros que vive em Portugal há uns anos. Ela diz que só soube o que era andar na rua sem medo aqui em Portugal. Com um brilhozinho nos olhos, fala da segurança que agora sente e, apesar de ter saudades do Brasil, diz que não quer voltar. Só se for para visitar a família e os amigos. Estão legalizados, trabalham, pagam impostos e têm um filho.
Quando ela me fala da maravilha que é andar fora de casa e a qualquer hora sem medo, eu lembro-lhe que aqui também há assaltos, roubos, etc. Ela sorri e diz: Nada a ver!
Para além desta grande dose de paz e segurança, que muitos querem contrariar, sinto que muitos portugueses andam tristes. Para além da tristeza, existe solidão e descrença em políticos e em instituições. Não se sabe se o que dizem é verdade, meia verdade, mentira ou jogo político só para caçar votos e continuar no poder. Por isso, desconfia-se cada vez mais de tudo e de todos.
Assistir, por exemplo, a uma sessão na Assembleia da República revolta, dececiona e cria um grande vazio. Todo aquele barulho, o ver quem arrasa mais o outro, o riso de escárnio, o insulto, as palavras indecentes, o desrespeito, as falácias, fazem com que o comum dos mortais se sinta confuso e cada vez mais só.
Andamos nervosos. E desconfiados. E desiludidos. E acabrunhados. Se for só de mim, é melhor.
Para muitos imigrantes somos, de facto, um oásis. Não pelas mentiras que os extremistas inventam, como a história dos subsídios a torto e a direito, mas pelo que encontram que é bem melhor do que a realidade dos seus países.
Também muitos portugueses emigram em busca de uma vida melhor e de mais reconhecimento. Nos países que os acolhem, trabalham, pagam impostos, constituem família e não querem voltar.
Mas disto não se fala porque não dá jeito.
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Bom dia! O que li hoje no EXPRESSO curto, com texto de Isabel Leiria
«Os primeiros cartazes do Chega a apoiar a campanha de André Ventura para as presidenciais foram colocados em concelhos da margem Sul com mensagens que os procuradores do Ministério Público (MP) deverão avaliar se configuram algum tipo de crime ou um mero exercício de liberdade de expressão, como advoga o próprio candidato a Presidente da República.
“Isto não é o Bangladesh”, lê-se num deles, “Os ciganos têm de cumprir a lei”, escreveram noutro e os “Imigrantes não podem viver de subsídios”, num terceiro. Se a ideia do primeiro é insinuar que Portugal foi ‘invadido’ por hordas de imigrantes oriundos daquele país, nada como apresentar os números para mostrar como se afastam da realidade vivida no país. Dos 1.543.697 cidadãos estrangeiros que residiam em Portugal a 31 de dezembro de 2024, pouco mais de 55 mil são originários do Bangladesh. É a sétima nacionalidade mais representada, muito longe dos 485 mil cidadãos brasileiros, que estão no topo da lista. A mensagem, a fazer lembrar slogans racistas e xenófobos do passado (e, lamentavelmente, do presente) mereceu já o repúdio de várias dirigentes. “Este racismo não existia em Portugal. Os portugueses não são assim”, declarava há dias o porta-voz da comunidade do Bangladesh em Portugal, Rana Taslim Uddin.
Sobre os ciganos terem de cumprir a lei, não se percebe outro alcance da mensagem que não a estigmatização gratuita de um grupo. Pessoas de outras origens étnicas, raciais ou culturais, tal como os militantes do Chega a braços com a Justiça, não têm de cumprir a lei? Um grupo de associações ciganas já disse que ia apresentar queixa junto do MP.»
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
As histórias que faziam mal ao cérebro
Quando a Clarinha era mais pequena, gostava muito de histórias de princesas, de brinquedos de princesas, jogos de princesas, adereços de princesas, de vídeos de princesas...
Lá por casa, não faltavam princesas em papel, em cartão, em livros, em adereços de princesa como tiaras, etc,
Quando havia qualquer data festiva, lá vinha a pergunta:
- Clarinha, o que queres para presente?
E a resposta não se fazia esperar:
- Um vestido de princesa! Ou um livro de histórias de princesas. Ou um livro de princesas para colorir...
Um dia, perante tanta princesa por todo o lado, o pai disse a Clarinha:
- Tantas histórias de princesas fazem mal ao cérebro!
A Clarinha ficou a olhar para ele muito séria, mas que ninguém lhe tirasse o mundo mágico das suas princesas.
Ou por aquilo que lhe disse o pai ou porque o tempo também vai dizendo muita coisa, ao amor pelo mundo das princesas seguiu-se o amor pelo Panda e depois o grande amor pelo Harry Potter. Que ainda continua.
Daqui a algum tempo, não sei o que virá. Mas todas estas diferenças de gosto só podem fazer... bem ao cérebro.
quinta-feira, 23 de outubro de 2025
'O lado oculto'
Tem passado na RTP, canal 2, pelas 20.40 da noite, uns documentários muito interessantes, na minha opinião. O nome da série é 'O lado oculto'. Karina Marceau, canadiana do Québec e principal dinamizadora do programa, fala de práticas culturais, sociais e económicas não muito conhecidas em diferentes países.
Num dos últimos programas, mostrou como a gastronomia do Peru é uma grande riqueza crescente, sem deixar de referir a violência que existe nalgumas cidades. Muitos chefes de cozinha utilizam elementos cada vez mais naturais para dar sabor e beleza aos seus pratos.
Hoje, julgo que o país apresentado é a Etiópia e estou com curiosidade sobre os aspetos que vão ser revelados, porque, habitualmente, esse país africano é mencionado pela sua pobreza. Ora, de certeza que outros lados serão mostrados. Não para fazer esquecer realidades mais duras, mas evidenciando aspetos também relevantes e que são muitas vezes esquecidos.
Quem ainda não viu o programa, se puder, veja. Vale a pena. E também o dinamismo da apresentadora e os diálogos empáticos que estabelece com as diferentes pessoas dos mais diversos lugares.
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
'Fui namorar (para) o Porto!'
Tenho uma amiga que é muito criativa e leva a sério coisas boas da vida, vivendo-as sempre que pode. Ora, este fim de semana, mandou-me esta mensagem, que puxei para título, e que achei deliciosa. Tinha ido com o marido a lugares bonitos do Porto, cidade onde, há muitos anos, tinham começado e continuado a namorar.
E revi, em pensamento, o nosso Porto, tão belo e importante, mas atualmente com muitas ruas e lojas que se vão descaracterizando para que o turista coma o pastel de nata e o bolinho de bacalhau com recheio de queijo da serra e compre o souvenir que é igual em muitas lojas também iguais.
Há tempos, procurei uma retrosaria porque precisava de fitas de cores variadas. Depois de muito procurar e perguntar, lá as encontrei quase escondidas numa loja de tecidos. Várias pequenas lojas, com donos ou empregados já muito antigos, onde se consertava tudo e mais alguma coisa, vão fechando, para darem lugar ao negócio de alojar os turistas, que é bem mais próspero.
Porém, quando critico muitos pedaços do Porto que crescem para turista ver, para turista comer, para turista comprar, não deixo de me lembrar que nós, portugueses, também visitamos cidades de outros países e os comportamentos não são muito diferentes, nem o que se pretende no imediato difere muito.
Mesmo assim, apesar de os novos tempos trazerem naturais diferenças, oxalá que a identidade, por exemplo, de alguns cafés seja preservada. Para se poder continuar a dizer com um brilhozinho nos olhos: 'Fui namorar (para) o Porto'.
domingo, 19 de outubro de 2025
'Bom sol em Spinum'
Ontem fui à 'minha' cidade com mar ao fundo. Disse a uma amiga que ia lá passar o dia. Ela, com graça, desejou-me bom sol em Spinum e pensei para mim: o raio da spinumviva salta logo à ideia quando se fala de Espinho, o que não tem graça nenhuma. Também há anos o Valentim Loureiro vinha logo à baila quando se falava de Gondomar, como se toda a gente recebesse eletrodomésticos do ruidoso major.
Pois bem, soube-me bem o dia calmo e despreocupado de ontem, sem ter nada marcado nem nada de especial para fazer. Tomei um café devagar, vi o mar, embora de longe (sou preguiçosa tantas vezes!) e, depois de almoço, passei no jardim junto à biblioteca. Num banco, havia uma mulher ao sol; mais à frente, um jovem casal chamava pela filha pequenina que corria atrás dos pombos que entravam na brincadeira e corriam ainda mais. Ou então fugiam do perigo. Entrei na Biblioteca. Um homem lia o jornal e uma mulher usava um computador. Li os anúncios, os titulos dos jornais, a biografia da autora do mês e saí.
O casal e a criança já não estavam no jardim, a mulher continuava sentada ao sol. Na rua também já não se ouviam as vozes das peixeiras a apregoar o peixe miúdo. Algumas lojas tinham fechado por ser fim de semana e as espalanadas iam-se enchendo, com muita gente a desfrutar do sol e das horas livres.
Para hoje prevê-se chuva aqui no Norte. Por mim, será bem-vinda, tal como foi ontem o sol em Spinum. As confusões da Spinumviva é que nunca o serão. Livra!
domingo, 5 de outubro de 2025
Por cá, também os livros entram na Festa!
Por estes dias, Gondomar está em Festa. É a Senhora do Rosário. Também conhecida pela Festa das Nozes, Festa do Rosário, ou, simplesmente, Rosário.
Pois bem, o tempo está de um outono quente e de céu azul e lá estão as agitadas e bem sonoras diversões e as barraquinhas de brinquedos, onde me vejo ainda criança a receber tachinhos e panelinhas das mãos da minha mãe. E, sendo já eu a mãe, a comprar um brinquedo para as minhas filhas e, agora como avó, para os meus netos.
E como me recordo dos Robertos, no largo do Souto, bonecos que se moviam num palcozinho pequeno e nos faziam rir às gargalhadas. Há muito que partiram, mas não as barracas das nozes, das castanhas, dos bolinhos de amor, dos figos secos... E dos nabos e do vinho doce e de tantas coisas boas que também o outono traz. Ah, e também não costumam faltar os vendedores ambulantes, com microfone preso ao peito, a apregoar o pague um, mas não leva só um nem dois, nem três... e ainda leva isto e mais aquilo...
Mas entremos agora nas tasquinhas, onde a esta hora, já haverá pessoas a saborear o caldo de nabos, as papas, as inúmeras iguarias tradicionais, cozinhadas e apresentadas por coletividades de Gondomar. É uma Festa para os sentidos.
Mas a Festa com palavras é ainda mais Festa! Por isso, junto às saborosas tasquinhas, há também uma bonita e bem disposta barraquinha com venda de livros, de temas muitos variados, e cujos autores estão ligados a Gondomar. Tal acontece graças à colaboração e entusiasmo de muitos desses autores que estão presentes, dando vida a esta e outras iniciativas de divulgação de obras que se vão produzindo.
Em breve, haverá uma bela e bem cuidada coletânea de textos escritos por autores de Gondomar e que nasceu de uma conversa feliz de um pequeno grupo, que não só teve a ideia, mas passou à sua concretização, através de um trabalho que se foi alargando e que é de louvar e de reconhecer. A seu tempo, darei conta dessa publicação coletiva. De facto, a Festa é mais Festa com união e com livros.
Boas leituras e bom domingo! E que haja sempre uma festa a celebrar!
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
A ameixoeira que não gostava de estar só
Era uma vez uma ameixoeira
que morava num quintal muito acolhedor. A vizinhança era muito variada: duas
macieiras, três pés de abóbora, um limoeiro, margaridas, camélias, azáleas,
arruda, erva-cidreira, manjericão, lúcia-lima, hipericão…
A ameixoeira dava frutos
escurinhos e aveludados. A família gostava de os colher e saborear junto à
árvore-mãe.
Um dia, as folhas da
ameixoeira começaram a secar. De princípio, era uma aqui, outra ali, mas, em
pouco tempo, ficaram todas murchas e sem vida. Bastava uma pequena brisa para
as fazer cair ao chão. Qualquer aragem as desprendia e atirava-as para terra.
No ano seguinte, o mais certo
era não haver compota de ameixa.
Ora, junto da ameixoeira,
vivia uma buganvília de cor bem vermelha.
Enquanto a ameixoeira secava, a buganvília
crescia viçosa em várias direções, às vezes um bocadinho intrometida porque
espreitava e saltava o muro.
E, vá-se lá saber como ou porquê, um ramo da buganvília foi ao encontro da
ameixoeira fraquinha e o outro encostou-se ao tronco, amparando-o.
Apesar de parecerem abraços,
os ramos da buganvília nunca taparam a ameixoeira, para que ela pudesse
respirar à vontade e ter o seu espaço.
Porém, o tempo foi correndo e
quem passava por lá só tinha olhos para a buganvília, porque a ameixoeira
mal se via. Ainda.
Um dia, a dona da casa foi ao
quintal apanhar couves para a sopa. Se estivesse com pressa ou a pensar em mil
coisas ao mesmo tempo, nem teria reparado no que lhe saltou logo aos olhos. A
ameixoeira, que parecia estar a desaparecer, tinha novas folhinhas verdes.
Olhou várias vezes
com atenção, afastou uns raminhos da buganvília e viu que as folhinhas
renascidas eram mesmo da ameixoeira. Até o tronco estava mais forte.
Foi então que ela logo chamou
o neto para ver a ameixoeira renascida.
O menino olhou para a avó e
disse:
- Ó avó, se calhar a buganvília não gostava de estar só!
A avó sorriu-lhe e imaginou a
compota de ameixas que faria no ano seguinte. E, na mesa, não faltaria um raminho de buganvília
ao lado da compota.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Vem aí o Natal
Já chegou o convite para participação na nova coletânea de Natal, da Editora Lugar da Palavra. É uma oportunidade de partilharmos o que escrevemos e ir deixando uma marca - por pequena que seja - no mundo em que vivemos. Já escrevi o meu conto. Apesar de o ter lido, relido, corrigido muitas vezes, ainda está a marinar. Há tempo para o envio: final de outubro.
Boa participação e boas escritas!
LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME XIV
sábado, 27 de setembro de 2025
Roupa, pra que te quero?
Nunca fui de comprar muita roupa, mas já comprei bem mais do que compro agora. Só vou às lojas quando preciso mesmo, porque, para além de não ter muita paciência, penso melhor, e vejo que, afinal, tenho peças de roupa suficientes para qualquer estação. Se bem que as diferenças de temperatura vão sendo cada vez mais pequenas.
Por vezes, compro algumas coisas on-line. Em segunda mão, recordo-me de comprar uma blusa branca em Bordéus, já lá vão muitos anos, mas acho que nunca a vesti. Lavei-a várias vezes, mas o tamanho era pequeno para mim e interrogava-me sobre quem a teria usado. Contudo não me desfiz dela durante muito tempo porque achava-a bonita. Há dias, seguiu, com outras coisas, para a loja social que está aberta perto de mim.
Também entre nós são cada vez mais as lojas de roupa em segunda mão, o que será um modo sustentável de reutilizar a roupa e evitar o seu excesso. Já para não falar do espetáculo degradante de ver roupa abandonada e espalhada pelo chão, junto de qualquer contentor.
As lojas de arranjos também são ótimas para tornar diferente uma peça de roupa, evitando, assim, nova compra, novos gastos e novos desperdícios. Às vezes, nem parece a mesma peça, graças apenas a um ou outro adereço e pequenas modificações.
A propósito, é tempo de arrumar o guarda-fatos para o outono. Eu, que não sou nada exemplo de celeridade, já comecei. Que remédio, o frio já nos vai vestindo e o fim desta tarde prevê-se com sinais da tempestade Gabrielle, que esteve nos Açores e que também vai passar por cá.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Arrumações
Não sei o que se passa comigo
Só me apetece arrumar
Armários e gavetas
Que não quero entulhar
Separo roupas antigas
E também limpo a poeira
Que se vai acumulando
Durante uma vida inteira
E lá vou pondo em sacos
Coisas pra dar ou contentor
Ou para a loja social
Onde se vendem restos de amor
E durante a arrumação
Não deixo de me lembrar
Do mundo desarrumado
Que o Poder quer conservar
O mundo não é sempre igual
Mas ver afastar a verdade
Ao mundo faz muito mal
E vai arrumando com a Liberdade!
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
A caixinha dos artistas
Todos os dias o Jornal de Notícias nos chegava a casa. Depois do almoço, o meu pai lia o jornal, prestando mais atenção às páginas de desporto. Quando era hora de ele retomar o trabalho, a minha irmã e eu pegávamos no jornal e a nossa maior atenção ia para as páginas que mostravam artistas de cinema e da canção.
Ora, a nossa vontade era logo recortar as fotos dos ídolos da época e guardá-las numa caixa de papelão, a que chamávamos caixinha dos artistas. Estavam lá Brigitte Bardot, Marisol, Adamo, Rita Pavone, Alain Delon e muitos mais, em folha fininha de jornal e a preto e branco.
De alguns artistas, havia várias fotos, ou porque viessem a Portugal ou porque deles se falava muito no momento. Uma dessas figuras era a belíssima e talentosa Claudia Cardinali, sempre com o seu risco preto nos olhos e sorriso sedutor. Nasceu na Tunísia em 1938 e morreu ontem em França.
A caixinha dos artistas, que íamos preenchendo na infância e folheando com fascínio, há muito desapareceu. Porém, alguns filmes que a atriz protagonizou, como O Leopardo, esses ficarão para sempre.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
Olá, outono!
O outono chegou hoje e logo se fez sentir. Está mais frio, apesar do sol acolhedor, que empalideceu e amarelou um pouco.
Colhi marmelos e olhei os dióspiros ainda verdes.
Observei as inúmeras belas-donas que, adormecidas até agora na terra, renascem coloridas e viçosas em canteiros, cantos e recantos, tornando-os vivos e festivos.
Vi que as hidrângias estão em despedida. Irromperam na sua plenitude azul que, ao longo do verão, se foi acastanhando e secando. Não sei, contudo, qual é a sua fase mais bela.
Tirei algumas fotografias, que nunca ficam perfeitas. A imperfeição também tem a sua beleza.
Pus umas tigelas de marmelada a secar ao sol da janela e lembrei-me de gestos que repetimos em muitas estações.
Procurei músicas para partilhar aqui e gostei destas. Oxalá gostem também.
Feliz outono!
sábado, 6 de setembro de 2025
Praia de (quase) outono!
Gosto muito do mar, ainda que raramente entre nele, porque não sei nadar (quando vejo as minhas filhas e os meus netos, felizes, a nadar, fico ainda mais feliz).
Também gosto de praia, mas não fico na areia durante muito tempo. No entanto, gosto de sentir o verão com todas as suas delícias e cores dadas pela presença das pessoas, pelas barracas, pelos guarda-sóis; por poder partilhar prazeres naturais e descontraídos que a praia oferece...
Porém, para mim, quando se aproxima o outono, a praia ganha dimensões que me agradam particularmente: abre-se, alarga-se e acalma. Olhar a praia deste (quase) outono é ouvir mais silêncio, é rever muita coisa (boa ou menos boa) que irrompe da memória. Parece que o tempo também se estende um pouco mais.
Que não se pressinta um adeus nostálgico a muitos dias de agosto: aos netos e sobrinhos-netos, todos juntos em bricadeiras divertidas e ruidosas ou em zangadas e infantis teimosias, esquecidas dentro de momentos; ao prego na esplanada do Fernando, à esplanada do Raminhos donde se avista mais areia e mais mar e se respira mais maresia, ao reencontro com pessoas amigas que a praia também chamou, à celebração dos aniversários em família em que sinto prazer de ver o prazer que dá a sopa de peixe que acabei de fazer...
Pronto, foi bom mas acabou-se, ou melhor, interrompeu-se. Para o ano há mais, como sempre se espera.
Logo que possa, quero ir a Mindelo, para olhar, calmamente e devagar, a praia bem mais sossegada, tal como a maioria das praias do país.
O outono está aí e a chuva parece que está também a chegar. Venha ela, é bem-vinda, mas sem fazer estragos. Que venha serena, como se espera que seja o outono, apesar do tumulto dos últimos dias.









