segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Silêncios

 O corpo modifica, a voz segue outras planícies; a beleza mantém-se infinita.

  
A música caminha e seduz em qualquer lugar. Tal como o silêncio.


"Quero a Fome de Calar-me

Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete

A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo

Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco

Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos

As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas

Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança"

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

Daniel Faria - 1971-1999

 

 

4 comentários:

  1. Belíssimos temas musicais, acompanhados de um excelente poema, de um autor que desconhecia por completo.
    Abraço e saúde

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  2. Que bom ter voltado, Elvira, espero que seja sinal de que tudo está melhor.
    Um beijinho e muita saúde.

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  3. A gente volta atrás no tempo de cada vez que os ouve cantar. Houve muito sonho que deu em nada. Mas outros fizeram-se vida. E é tudo que importa: o que conseguimos realizar com o material que nos foi posto no colo. "A quem muito foi dado muito será pedido".
    Mas admiro Hauser e mais seu violoncelo que toca de forma tão empenhada que nem sabemos quem mais vibra, se ele, se o instrumento.
    Um abraço, Maria Dolores

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  4. Conheci este músico há pouco tempo (vi-o no Altice Arena) e apreciei o entusiasmo dele no palco e o seu poder de comunicação. E goste de ver as pessoas felizes depois do espetáculo.
    Outro abraço, Bea.

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