quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Jornada de juventude

 

Na minha infância, a minha mãe pertencia à Lac - Liga agrária católica - e muito cedo nos inscreveu, a mim e à minha irmã, na Pré-Jac e, depois, na Jac - juventude agrária católica (É curioso que ao meu irmão a minha mãe nunca filiou)! 

Tínhamos reuniões mensais no Salão Paroquial, ao domingo antes da missa e às vezes à tarde, dinamizadas pela presidente, que era eleita democraticamente por todas nós. A que mais me ficou na memória foi uma rapariga das poucas que seguiram os estudos e que era muito alegre e empenhada.

Teve a coragem de se opor às ideias de um padre, que considerava retrógrado. Parte do grupo seguiu-a, outra parte não e o 'cisma' motivou algumas desistências, como foi o meu caso. Não me recordo do que a levou a estar contra o padre, mas tenho pena de não ter tido a mesma coragem. A minha desistência, se calhar, foi o caminho mais fácil, mas foi o que aconteceu. É a vida. Faltavam ainda muitos anos para se ouvir o Papa repetir: 'Não tenhas medo! Não tenhas medo!'.

Recordo-me de outra presidente, uma rapariga muito convicta e muito doce e que hoje continua a ser uma mulher que muito admiro. Recordo-me de, numa atividade, ter sugerido que vendássemos os olhos por uns instantes para sentirmos o que é não ver. 

A vida foi-lhe muito dura, roubando-lhe os seres que ela, naturalmente, mais amava, mas continua com o seu sorriso bonito, generoso e brando. E a interessar-se pelos outros. Há tempos, ouvi-a dizer que, pelo menos ao fim de semana ia tomar café onde sabia que encontrava pessoas conhecidas. Um dia, ouviu que o café de casa era bem melhor e ela logo respondeu: é bom o café tomado, mas é melhor quando é falado.

No tempo em que eu pertencia à ação católica, fazíamos reflexões interessantes, como, por exemplo, sobre problemas do mundo, ainda que geograficamente distantes, já numa perspetiva global e solidária. Hoje, nem sei se existem a Jac, a Jec, a Joc, a Juc... Atualmente, tais divisões - de género, de ocupação, etc. - não fazem qualquer sentido. Felizmente.

De outras presidentes não me recordo. Não devem ter feito nada de relevante, no meu entender, ou então, eu não estava devidamente atenta.

Tudo isto me veio à cabeça quando, perto do mar, ia acompanhando, de vez em quando, aquele alegre mar de jovens na JMJ. 

Voltando à filiação na Jac, na minha juventude, não dou por perdido esse tempo e algumas coisas me ficaram. 

Ah, também havia festas anuais com teatro, danças, etc. Dessas não me ficaram as recordações que eu desejaria. Os irmãos - rapazes - tinham liberdade maior. Isso, é claro, também me ficou.

 

2 comentários:

  1. Minha mãe também pertencia à LAC. Mas não me inscreveu em nada. Acho muito bem, ela sabia o que fazia. De qualquer modo, permaneci em colégios religiosos até aos vinte e um anos.
    Parece-me que de tudo que vivemos tiramos lições proveitosas. Se quisermos, claro. E também me é evidente que, queiramos ou não, ajuda a moldar o carácter, permanece.
    Nas poucas reuniões de carácter religioso a que assisti e eram de discussão, contestei. Não por espírito de contradição. Por tentar entender em plenitude, o que não consigo ainda hoje. Não retirei grandes lições; não lembro ninguém em especial e nem sequer sei o que contestava. Mas continuo a crer que, para o bem e para o mal, deixaram marca.
    Boas férias, Maria Dolores

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  2. Viva, Bea.
    Também frequentei um colégio religioso mas só durante um ano. O meu percurso escolar não foi o normal, porque só recomecei a estudar na adolescência. Desse colégio, ficaram-me umas poucas boas recordações e as más foram muitas mais, sobretudo pelo modo agressivo como alguns religiosos tratavam rapazes que não seguiam as regras impostas dentro da sala de aula.
    Quero crer que agora seria diferente, porque há olhos e ouvidos mais atentos, nomeadamente da comunicação social. E mais famílias contestam quando não concordam, em vez de aceitarem quase acriticamente.
    Boas férias também, Bea, e que o verão traga igualmente boas maresias.

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