quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Ó dona!

 

A minha irmã chamava-se Leonor e muitas vezes sou confundida com ela, o que será natural, porque tínhamos idades muito aproximadas e muitas semelhanças físicas. O mais estranho é que às vezes me chamam Leonor, mesmo pessoas que não a conheceram.

Há umas semanas, chamaram-me dona Manuela, depois compreendi porquê: há outra pessoa na família com esse nome. Para dona Olga, como também me chamaram há dias, é que não encontrei explicação. Achei graça e passei à frente. 

Já dona Dores, como acontece com frequência, aproxima-se mais e leva-me até a sorrir e a brincar com o nome que os meus pais e talvez padrinhos preferiram pôr-me traduzido e que, quando eu era menina e moça, de cabelo forte e preto e brincos de argolas, levava a que me perguntassem se eu era espanhola.

Ora, a confusão de nomes não me faz confusão. Às vezes é até divertido e não me faz perder a identidade. Do que não gosto mesmo nada é quando me chamam ó dona, como é hábito de algumas pessoas. Uma vez, um ex-vizinho dirigiu-se-me ó dona, a propósito de um assunto qualquer que tinha a ver com o quintal. Eu respondi-lhe, pondo a palavra no masculino e ele levou a mal!!!

Pronto, nesta tarde em que o meu computador marca 26 graus, mas no Sul e noutros países marcaria bem mais, lembrei-me deste fait divers, mas as altas temperaturas não o são, marcando que, afinal, somos donas e donos de muito pouco. E isso é um assunto cada vez mais sério.

 

2 comentários:

  1. Não somos donos de nada, nem dos nossos pensamentos. Nem do corpo que temos e tanta vez, física e psicologicamente, não obedece . De resto, o que possuímos e de que temos título de propriedade, de que pagamos imposto e por que zelamos como podemos, tudo isso está exposto ao acaso ou ao divino como vontade e poder; e raro nos vale nas grandes aflições.
    Dantes, julgava-me dona do corpo que me pertence, mas hoje já penso que é ele quem manda e não eu - ainda que também ele seja parte do eu. Ora bolas. Isto chateia-me.

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  2. Pois chateia chateia, mas ter a consciência calma disso já consola um bocadinho.
    Cada vez tenho menos certeza do que pode acontecer amanhã. Ou até hoje, por isso, vou cuidando do que posso e, de preferência, sem angústia.
    De vez em quando, dou comigo a dizer para mim própria: calma, vive o momento que nem esse é completamente certo, e tenta descobrir coisas boas e bonitas à tua volta.
    Um abracinho, Bea, e bom verão.

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