quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Privilégio?


Cada vez gosto mais de ouvir podcasts. Podem-se ouvir quando e onde quisermos e pudermos. Ajudam, na minha opinião, pelo menos os que gosto de ouvir, a conhecer diferentes visões do mundo, com tempo para dizer e explicar.

Numa manhã de um dia destes, deliciei-me a ouvir dois episódios de ‘A beleza das pequenas coisas’, podcast de Bernardo Mendonça. Sentada no sofá, a fazer crochet, ouvi as duas longas entrevistas com duas mulheres tão diferentes mas com vidas de uma imensidão de coisas para partilhar. 

Gostei particularmente da entrevista a Lídia Jorge pela serenidade profunda que põe nas suas palavras, a propósito dos livros que escreve, do que se passa à sua volta, etc, expondo-se, embora com contenção. 

Fiquei com vontade de ler o livro que escreveu a pedido da mãe, já próxima da morte: Misericórdia. A escritora disse ter tido essencialmente a preocupação de lhe dar voz, um modo também de escutar quem é idoso e está num lar.

O episódio seguinte foi com Maria Filomena Mônica, que falou da sua vida e da sua obra num grau de maior de exposição. O pano de fundo foram quase sempre os livros e a vida pessoal e familiar que está por trás de vários: Bilhete de identidade,  Duas mulheres,   etc

A investigadora padece de cancro há vários anos e faz sessões de quimioterapia, que às vezes são longas. E foi bonito o elogio que fez ao marido, António Barreto, que sempre fez questão de a acompanhar.

Ora, a propósito destas sessões, disse que muitas mulheres, no hospital, só falam de doenças e referiu o privilégio que é gostar de ler e de escrever. Partilho deste sentimento. A vida teria bem menos beleza sem a leitura  e sem a escrita. Mesmo destas pequenas coisas.



10 comentários:

  1. Texto que muito gostei de ler. Elogio os seus gostos.
    Cumprimentos poéticos

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    1. Obrigada, Ricardo, julgo que são comuns como pessoa comum que sou.
      Obrigada por me bater à porta tantas vezes, ainda que eu, mal agradecida, agora fazer poucas visitas aos bloggers amigos.
      Cumprimentos amigos e, quando possível, um bocadinho poéticos.

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  2. Subscrevo: a vida tem menos beleza sem a leitura e sem a escrita. Mas, quem fala só de doenças, raro tem hábitos de leitura. A vida não proporciona o mesmo a todos e entendo cada vez melhor que exista quem não lê, o que não significa que não se deva tentar mudar a tendência. E a escrita ainda é mais selectiva, nem todos se ajeitam ou tiram dela prazer (a maioria dos viventes, digo eu). A Leitura pode ainda ganhar muita gente, o saco nõ chega a meio, é bem que se desconhece; contudo, a ferramenta existe, quase todos sabem ler. Mas a escrita pode apenas conquistar alguns, os que sempre gostaram de escrever e a vida levou por outros caminhos. Que muitos são os caminhos e é necessário que assim seja. Lê-se em qualquer lugar, mas não acontece com a escrita. São dois mundos próximos, a escrita vive da leitura. Que eu saiba, não há escribas que não sejam leitores, mas há um mundo de leitores que só escreve o necessário.
    Também oiço alguns podcasts sempre que posso. Fazem de companhia. E aprendo algumas coisas que esqueço de seguida. O que significa que distraio e dou duplo trabalho à mente: tomo atenção e esqueço:). Gosto das duas escritoras que refere, como profissionais e como mulheres; li um pouco de ambas. Sem paixão por nenhuma.
    Boa tarde, Maria.

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    1. Reli o seu comentário, como faço muitas vezes, porque são sempre sábias as suas palavras. Sem a preocupação de o ser, o que ainda é melhor.
      Peço-lhe muita desculpa de não ter respondido ultimamente. Não vale a pena dizer que é por falta disto ou por falta daquilo. A Bea compreende com certeza, mas, mesmo assim, peço-lhe desculpa, porque a forma como sempre o faz não merece o silêncio, embora este seja apenas aparente.
      Conheço casas sem nenhum livro e casas com muitos livros. Ter muitos livros em casa nem sempre significa que se leia muito e, se tal acontece, sim, ainda menos se escreve.
      Também subscrevo que, emmuitos casos, ' a leitura é bem que se desconhece' e ainda mais na era do telemóvel na mão em todo o tempo e lugar.
      Salvo raras exceções, quem gosta de ler já contactou de perto com gente que lê. Talvez se passe o mesmo com a escrita e com o caminho redentor que ela possa trazer, embora por trás haja sempre leituras.
      Será que as coisas irão mudar? Às vezes há surpresas. Só que, às vezes, são boas, ou assim-assim, ou más.
      Quanto aos podcasts, às vezes ficam-me algumas coisas de que me lembro nalguns momentos, o que me agrada e ajuda.
      Um abracinho, Bea

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  3. Influenciado pela Maria Dolores e como tinha um "tempinho", palavra açucarada tão ao gosto do povo irmão, ouvi um dos podcasts, tendo a escolha recaído no da insurreta Maria Filomena Mónica.
    Gostei do que ouvi e ainda gostei mais do entrevistador, tendo ficado com a sensação de que com um entrevistador assim é meio caminho para o sucesso da entrevista. E pronto, isto foi o aspeto formal, porque sobre o conteúdo já falou (e bem) a Bea.
    Um bom domingo Maria Dolores.
    PS: constato, com pena, que deixou de responder aos comentários. O tempo não dá para tudo, não é?

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    1. Tem razão, Joaquim, e eu já tinha pensado nisso. Pode até parecer ingratidão e peço desculpa.
      Gostei do que disse e achei piada ter chamado 'insurreta' a M.F.M. Ela realmente fala com um desassombro que até me espanta. Deve ser o caso de 'poder dizer tudo, porque já não tem nada a perder'. Louvo-lhe a coragem.
      Também tenho gostado muito do entrevistador do podcast 'A beleza das pequenas coisas' (Bernardo Mendonça) porque é atento, delicado, culto, conduzindo a conversa dando tempo ao entrevistado e valorizando-o.
      Como vê, foi bom o reparo que me fez, porque gostei de 'falar' um bocadinho consigo.
      A tarde ainda vai no início, o meu neto dorme a sestinha, pressuponho que o céu está cinzento e vou continuar. É que os comentários/desafios também iluminam as horas.
      Uma tarde luminosa para si e obrigada.

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  4. Fiquei curiosa sobre os podcasts e já tinha também pensado que queria ler o livro Misericórdia
    um beijinho e uma boa semana

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    1. Olá, Gábi, és sempre muito bem-vinda.
      Acho que os podcasts são bons para quem gosta de ouvir sobretudo diálogos com pessoas que têm coisas interessantes para dizer.
      Ainda não sei como ouvi-los no carro, mas quero aprender.
      Participaste este ano nos Lugares e Palavras do Natal? Espero que sim, porque gosto sempre de ler o teu conto.
      Um beijinho

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  5. Gostei de ler. Sou tão ignorante que nem sei o que é um podcasts.
    Abraço, saúde e uma boa semana

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  6. Se fosse ignorante, Elvira, não conseguia produzir como produz. Só que é impossível saber tudo. Eu gostava de saber bem mais, mas colhe-se o que se pode, nesta imensidão de saberes.
    Para mim, um podcast é um programa ou uma rubrica que, periodicamente, vai produzindo um episódio que podemos ouvir no telemóvel, no computador, etc. Basta instalar (ou pedir a alguém para instalar) a aplicação. Há podcasts muito bons e podemos ouvi-los à hora ou ao ritmo que quisermos. Sem as publicidades que nos gritam aos ouvidos em tantos programas de rádio e televisão.
    Aceita uma sugestão? Oiça o Martim Sousa Tavares no 'Encontro com a beleza'.
    O moço é calmo, simpático, sensível, culto, etc e fala de coisas boas e bonitas, a partir, muitas vezes da música.
    Um beijinho e muita saúde

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