terça-feira, 8 de novembro de 2022

Do parque infantil à reforma aos 56 anos


Não chovia, ao contrário dos últimos dias e, depois da escola, ainda deu tempo para irmos um bocadinho ao parque:

- Avó, podemos ir ao parque? Os meus amigas vão e eu gosta.

- Está bem, vamos então um bocadinho.

Muitos meninos ficam lá a brincar quando está sol  ou, pelo menos, não chove. Há país e mães que vão conversando, enquanto os veem e esperam. Um pai que eu já conhecia sentou-se próximo e começámos a falar. Como as brincadeiras no baloiço, escorrega, etc iam durando, íamos conversando. Eu não entendia tudo, ele sabia-o e falava de forma clara e pausada (eu estava contente comigo própria porque achava que não conseguia ter uma conversa prolongada em inglês e, afinal, conseguia). Falámos do Brexit, da imigração que muitos não aceitam mas que a ninguém rouba o emprego,  do trabalho que o satisfaz, da família, etc

Como o meu interlocutor era uma pessoa comunicativa, surpreendeu-me o que disse sobre o pai: tinha 56 anos quando se reformou e, nos anos que se seguiram, não tinha quaisquer interesses, para além de estar em casa a ver a televisão. Perguntei-lhe se ele convivia com alguns amigos. Não, só a família. Estranhei pela idade ainda jovem e pelo país cheio de possibilidades.

A tarde ia ficando cinzenta e voltámos para casa, de mão dada porque a rua era populosa. Quantas histórias nela caberiam?



5 comentários:

  1. O que a Maria Dolores não sabe é a idade com que o pai dele começou a trabalhar. Pois é...
    Como eu o entendo, faço parte do grupo. Poucos nos entendem, nem a minha mulher. Porque não te metes numa imobiliária e sempre estavas entretido, mas eu estou entretido, tenho perto de duzentos livros para ler e ainda continuo a comprar, tenho dezenas e dezenas de filmes para ver, músicas para ouvir nem se fala, passeios e caminhadas para dar e blogs para comentar. O tempo não me chega. Mas que me serve ganhar mais mil se depois vou descontar sobre esse e o outro mais de 40%, então vou deixar de fazer o que gosto para ganhar mais quinhentos e ainda gastar gasolina e almoços? Aqui e assim estou ao dispor de todos, sou o motorista da mãe e da filha e da neta se houvesse e da sogra e da cadela. Então e depois? E a casinha limpa à sexta e as compras no frigorífico e na despensa. Então isso não conta?

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  2. Penso muita vez nesse pormenor. Sobretudo em transportes públicos, vem-me tal sensação. A das histórias que se cruzam, as que moram naquelas casinhas idílicas rodeadas de frondoso verde e que, provavelmente, pouco ou nada vivem do idílio que lhes sonho. As mesmas pessoas que vejo, sentadas ou de pé, que desgostos vivem, o que as empurra diariamente, a quem amam com certo travo de desespero. Quem segue de mãos no regaço ou adormecidas nas asas de um saco, será calmo e descontraído ou a doença o rói, um problema o molesta, uma fraqueza se fez domínio. Que sabemos nós dos outros pelo que deles nos aparece. Tão pouco.
    Boa noite, Maria

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  3. Há pessoas que depois da reforma perdem toda a alegria de viver.
    Abraço e saúde

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