segunda-feira, 18 de julho de 2022

Dias de Londres - primeiro dia

 

No dia anterior a vir para Londres, houve uma forte trovoada. Assustada, acabei de fazer a mala e a minha insegurança duplicou. Como estaria o tempo no dia seguinte, quando o avião subisse com velocidade e se prolongasse nos céus?

 Imaginava forte turbulência nos ares do dia seguinte quando ouvi o rebentar do trovão mais forte. Uma espécie de remate ou de anúncio de possível regresso.

A noite passou intranquila. 

Porém, à hora mais ou menos prevista, aterrei em Gatwick, depois de uma viagem bastante serena, sem cenários mais inseguros como tinha imaginado.

Já na estação, apanhei o comboio com destino a Bedford. Já lá dentro, oiço falar português. Por um telefonema, apercebo-me que um elemento do casal tem um filho também a trabalhar em Londres. Ouve-se a conversa. Do lado de cá, alguém que chegou e não conhece a cidade. Do outro lado, ouve-se uma voz impaciente a dizer que não tem tempo para ir ao hotel. 

Deste lado, o interlocutor tenta amenizar, dizendo que compreende e que em breve podem falar melhor. Do outro lado, ouve-se a voz ainda mais impaciente dizendo que tem a vida dele como eles têm a sua.

Deste lado, a despedida com ar de enfadada desesperança.

Eu volto a cabeça para a paisagem, fingindo desatenção para não aumentar o embaraço do casal. E fico a pensar que, muitas vezes, as boas-vindas nem sequer chegam a pressentir-se nos encontros que se julgavam redentores, embora a ilusão persista quando se está em tão poderosa e bela cidade.

Em breve, na pequena estação já minha conhecida de outras chegadas e partidas, saio e quase logo abraço a minha filha. Sempre o mesmo sorriso bonito e doce. Sempre o cabelo forte um pouco despenteado, agora com uns fiozinhos brancos e reluzentes. 

Não têm carro porque acham desnecessário numa cidade com tão bons transportes públicos. Vamos a pé até casa. Está calor, bem mais do que o costume, tanto como em Portugal. Vamos caminhando e conversando e entremeando o diálogo com recordações e coisas novas que vou descobrindo.

Chegámos. 

Filha, que bom.

Mãe, daqui a pouco são horas de ir buscar a Clarinha à escola. Eu vou, mãe, estás muito afogueada.

Bebi água.

Vou contigo, filha. Quando conhecer melhor o caminho, vais mais depressa e vêm depois ao meu encontro.

Estava feliz por ter vindo ao encontro de uma parte tão boa de mim. E de uma cidade onde não me importava de viver e onde conto ficar três semanas.

 

8 comentários:

  1. Boa tarde
    Duas situações bem diferentes. É a vida !

    JR

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    1. O que não quer dizer que sempre assim seja. Como diz, Joaquim, é a vida!

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  2. É sempre recompensador quando estamos juntos dos nossos amores!
    -
    Seria a vigilância da desventura alheia

    Beijos, e uma excelente semana.

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    1. É mesmo. E a Cidália, pelo que conta, tem boas e felizes experiências familiares. Que bom!
      Um beijinho

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    1. Obrigada, Ricardo.
      Já voltei à terra, mas, se não vierem novas covids, pode ser que em breve lá vá outra vez.

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  4. Boas férias/semanas em Londres. um beijinho

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    1. Olá, Gábi
      Não foram bem férias, apesar de serem três semanas bem saborosas.
      Pensando melhor, assim sendo, posso mesmo considerar férias!
      Um beijinho, Gábi

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