quinta-feira, 28 de julho de 2022

Dias de Londres - os arredores também podem estar no centro

 

Aqui em Londres, o tempo permite-me boas paragens. Mesmo que nós, adultos, estejamos em casa, o almoço é rápido e às vezes arranjado por cada um, consoante o trabalho no computador.

Respeito a necessária concentração e procuro não a perturbar para que o trabalho deles renda. É desse modo que leio, escrevo uma página do meu diário, vou às compras para a casa, para além das tarefas domésticas para que as coisas estejam organizadas e a vida deles mais facilitada enquanto cá estou. A meio da tarde, vou buscar a Clarinha à escola. O percurso  serve de caminhada e vou vendo os jardins floridos. Há um em que reparo sempre e às vezes até paro para me deliciar com a variedade e com as cores de flores. Quem trata dele é a dona da casa, uma senhora idosa e muito simpática. 

Há dias, num dos jardins de rosas de várias tonalidades, vi outra velha senhora sentada numa cadeira e a regar as plantas com a mangueira. Quase me chegava a água, sorri-lhe e ela desviou a mangueira, sorrindo-me também. Nesse mesmo dia, passei por um homem de muita idade que levava um jornal debaixo do braço que devia ter acabado de comprar. Imaginei-o a ler as notícias, o que será bem mais interessante do que estar a dormitar em frente à televisão com longos e impertinentes anúncios a calcitrins milagrosos.

Nessa mesma ida à escola, cruzei-me com outra mulher nada nova, muito magra, de passo muito rápido. Nem o rosto parecia querer mostrar. Mais abaixo, outro velho, de roupão,  estava com os cotovelos apoiados no portão, vendo quem passava. Olhei para ele e sorrimo-nos. Deve sorrir a todas as pessoas que olham para ele. 

Não poderei concluir que aqui só haja velhos, mas será possível dizer que a maioria dos velhos que vi pareciam gostar que olhassem para eles. Tal como em qualquer sítio.

Quando falo de Londres, logo me perguntam o que visitei no centro da cidade e às vezes tenho pouco a contar sobre isso, embora lá vá de todas as vezes que cá venho. Gosto muito do pulsar das cidades, de museus, de ruas de esplanadas e pequenas lojas, etc. Contudo, para mim, conhecer uma cidade também são os seus arredores, ver o que lá existe, cruzar-me com pessoas que lá vivem, etc. E, sobretudo, estar com as pessoas de quem fomos ao encontro.

Ou será que caminho para a fase da vida das pessoas com quem às vezes por estes dias me cruzei?

 

6 comentários:

  1. Também gosto de sentir o pulsar das povoações!bj

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    1. Olá, Gracinha, imagino que sim porque o revela bem nos seus olhares.
      Um beijinho

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  2. Boa tarde
    Aproveita a visita familiar e transforma-a também em visita de estudo ao centro e arredores .

    JR

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  3. Fiquei mais pelos arredores, mas como referi, também nos ajudam a conhecer as cidades.
    Uma tarde feliz, Joaquim

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  4. Eu gosto muito de conhecer e viajar mas não gosto da correria dos museus, igrejas, monumentos, estátuas, etc.... gosto de ter tempo para parar e sentir os lugares e se possível conversar com as pessoas e fazer as coisas que as pessoas locais fazem...
    obrigada pela partilha

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  5. Claro que caminha para aí (não caminhamos todos?), mas devagar, Maria.
    Se acaso estou de visita a lugares que desconheço ou conheço mal, creio que também aprecio essas coisas. Tenho boas memórias desses tempos.
    Boa noite.

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