sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Será que se pode aprender?

 

Tenho, de certeza, idade para já ter aprendido, mas, apesar de algumas tentativas, acho que não o consegui.

Quando falo de alguma coisa que ainda vai acontecer, digo muitas vezes: se Deus quiser, conto, está previsto... Deve ser pessimismo ou não confiança no futuro e na previsibilidade das coisas. Ou o problema está em mim e já vem de muito longe?

E isto traz algum receio, alguma incapacidade de ser feliz (ainda que sem angústias) e de abrir bem as portas à novidade de cada momento, ao gosto que é viver e poder concretizar o que se pensou. Por exemplo, se ando de avião, penso em possível trovoada ou turbulência. Só quando estou prestes a chegar ao destino é que volto a acreditar que o tempo que se aproxima pode algumas alegrias esperadas.

Para além disto, que é um minúsculo grão de areia em areal imenso que é o mundo, conhecer um pouco do que se passa quanto à fome, guerra, violência, solidão, corrupção, etc em todos os continentes, retira qualquer ilusão de se ser feliz, a não ser que não se olhe para o lado. E os nossos olhos não foram criados para olhar numa única direção.

Longe de mim pensar que tudo é mau, que tudo está mal, mas dava jeito conseguir ser feliz, e de forma sustentada (não me refiro a quem diz viver num céu de infinita felicidade, que é um estado no qual não confio).

Será que se pode aprender? Ainda?


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Nada de especial

 

Hoje, a chuva vai caindo, miúda e insistente. Logo que pude, abri o computador. Queria escrever sobre o momento, embora sem nada de especial para dizer. Esta necessidade é em mim recorrente.

Na cozinha, ferve, devagar, a sopa de legumes variados. Oiço apenas o exaustor e os carros a passar na rua, um som de rodas rápidas sobre o piso molhado.

Estou longe da janela da rua, por isso não vejo ninguém a passar e também não deve haver ninguém porque não oiço vozes.

Perto de mim, o soninho dele é silencioso, macio e quente. Olho-o de vez em quando para confirmar que está bem.

O quarto está mais ou menos em ordem. Nunca está completamente em ordem. Nunca consegui que a casa estivesse sempre em ordem e também não devo vir a conseguir. Outras coisas me importam mais.

Há pouco, vendo noticias online, soube que Celso José da Costa, brasileiro, foi o vencedor, este ano, do prémio Leya. Ele desejou que, no próximo domingo, Bolsonaro não ganhasse as eleições, como prova de vitória da educação. 

Oxalá.

E dou comigo a pensar na importância efetiva da educação, para que haja mais harmonia e justiça no mundo, e também no hobby feliz e catártico que é a escrita para tantas pessoas e uma profissão, ou ocupação a tempo inteiro, como se queira, para algumas. E o grupo de autores premiados é ainda menor. A alegria que estes sentem pelo reconhecimento do seu talento e trabalho deve ser imensa, para além do dinheiro que recebem, é claro, e que é também uma boa recompensa.

Mas nós, os que escrevem por gostosa necessidade, muitas vezes quase diária, e que nunca receberão um prémio, também sentimos a alegria boa de poder usar as palavras e comunicá-las nos meios que, democraticamente, temos ao nosso dispor, dizendo um olá ou partilhando um sorriso, mesmo silencioso. Estamos cá e não estamos sós.

E os momentos, ainda que banais, tornam-se melhores ainda que simples.

Como neste dia sossegado em que a chuva cai, miúda, insistente e fecunda.


segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A melhor cidade do mundo

 

No dia seguinte, fomos ao British Museum.

Quando saímos, disse-me com voz de encantamento:

- Gostei tanto, Saturnino, das exposições. Que bom estarmos os dois aqui e agora, sentindo tanto amor um pelo outro. Dizem que Paris é a cidade do amor. Para mim, é Londres.

Fiquei extasiado, abracei-a e o British Museum passou a ser o melhor museu do mundo.

No penúltimo dia em Londres, tomámos o english breakfast no hotel e começámos a programar o sábado. Como gostava muito de falar inglês, ela optou por dizer saturday, começou a rir-se  e disse com desvanecida ironia:

- Como não gostas de Saturnino, posso chamar-te Saturday!, pronunciando o tê como se fosse dê.

Não achei piada à graçola e disse-lhe que bastava de picardias. E que ela não gostava de ninguém para além de si própria. 

Continuou no mesmo registo de zombaria, dizendo que a ela lhe poderia chamar Sunday, porque era bem mais luminosa do que eu e que, felizmente, como os pais sempre a tinham amado, não lhe tinham posto um nome que tolhesse a sua alegria à nascença. Isto tudo enquanto engolíamos o resto do café azedo e já morno e terminávamos um sumo deslavado de laranja.

De repente, disse-me com voz risonha de menina a pedir colo depois de birra insuportável:

- Desculpa, Saturnino, estava a brincar.

E logo me recordou que tínhamos combinado andar na Roda Gigante, para vermos Londres bem do alto. Fomos a pé, ela deu-me a mão e, com encantamento, ia partilhando comigo o que ia vendo.

Quando entrámos na cabina, abraçou-me, dizendo:

- Adoro-te, Saturnino.

Eu abracei-a, mas como pressentiu alguma desconfiança da minha parte (eu começava a ter consciência da efemeridade dos seus gestos e das palavras corrosivas em tantos e repetidos momentos), afastou-se um pouco, criticando a minha insegurança, a não entrega ao momento, o facto de parecer que estava sempre à espera do pior e de não desfrutar consistentemente do que de bom a vida nos oferece a cada instante.

Agarrei-a pela cintura, abracei-a e pedi-lhe que vivêssemos, então, aquele momento bem juntos, como se fosse o último.

-  I love you, Saturnino, disse ela.

Ao almoço, fomos a um pub comer fish and ships com cerveja local.

O tempo estava fresco, o céu com muitas nuvens, mas, mesmo assim, preferimos ficar no exterior, saboreando os petiscos que nos iam pondo na mesa de madeira, de forma efusiva.

Aconchegou a si o casaco e achei que o rosto dela ficava ainda mais bonito com o rosado que a aragem fria lhe punha na pele. O cabelo esvoaçava e ela deixava-o em liberdade.

Eu disse-lhe que ela era linda. Retribuiu-me, pondo a mão dela sobre a minha e dizendo:

-  És o homem da minha vida, Saturnino.

Pela primeira vez não lhe respondi, o que estranhou, mas vivemos as restantes horas do dia sem discussões nem azedume.

À noite, continuava deslumbrante, alegre e meiga. Depois do jantar, ela quis  ir beber um copo a um pub que tinha visto numa Time Out, no hotel. A distância era significativa. Disse-lhe que estávamos cansados, que tínhamos de nos levantar muito cedo no dia seguinte e que o melhor seria passarmos o serão mais perto, já que não faltavam bares e pubs acolhedores nas imediações.

Lançou-me um olhar feroz, acusando-me de não saber ultrapassar os meus constrangimentos e sobretudo os meus traumas que me impediam de apreciar a vida em todo o seu esplendor. E que, de facto, a escolha do meu nome tinha sido premonitória. Fomos para o quarto, ouvindo-se apenas os nossos passos no corredor do hotel.

Quando acordei, ela surpreendeu-me com um desnudado abraço largo e lânguido:

-  Amo-te tanto, Saturnino.

 Estendida na cama, com volúpia, começou a rir-se dos próprios caprichos, de ser tantas vezes infantil e imprevisível, chamando-me, com os braços estendidos, espreguiçadamente, Sa-tur-ni-no. Como a um gato que não se quer ver fugir pela janela.

Foi quando ela me ouviu dizer, atónita e descrente da minha convicção:

-  Quando chegarmos a Portugal, o melhor para ambos é tratarmos da nossa separação.

Com mais segurança do que habitualmente, fechei a pequena mala.

E Londres passou a ser, de facto e para mim, a melhor cidade do mundo. Cinzenta, perplexa, mas liberta.

 

 

domingo, 23 de outubro de 2022

O melhor quarto de hotel do mundo - pensou Saturnino

 

A minha mãe, que sempre gostou de rimas, dizia que me podia chamar apenas Nino, enquanto eu fosse pequenino, e que, quando crescesse, logo se via porque até lá canta a cotovia.

Quando me dizia isto, e poucas vezes me falava do assunto, sorria, mas eu, no sorriso dela, via frieza, desamor e ficava a odiar ainda mais o meu nome. Mesmo sem querer, o desgosto de me chamar Saturnino sempre me fez recuar no tempo e vasculhar más recordações, embora no presente encare com mais naturalidade o que acontece e que não podemos controlar.

Eu esquecia isso tudo quando a minha mulher me chamava Saturnino com doçura e alegre naturalidade. Nessas ocasiões, sentia-me, de facto, um homem com nome normal como se me chamasse António, João ou Luís, embora tivesse consciência da mais que provável efemeridade da situação.

Um dia, fomos a Londres e eu próprio me surpreendi com o que viria a passar-se. Estávamos a celebrar o nosso segundo ano de casamento.

 Ela captava muito bem a pronúncia de diferentes línguas e repetia muitas palavras ou sons que ia ouvindo. Costumava até dizer que se vivesse mais do que uma semana num país estrangeiro, quase se esqueceria da língua materna. Eu achava exagerado, mas relativizava tudo quando ela me chamava com meiguice pelo nome.

Uma tarde, andávamos a passear, de mãos dadas, no Green Park, vimos muitos pássaros numa árvore frondosa e um deles tinha um cantar que se distinguia. De repente, largou a minha mão e disse apontando para o pássaro:

- Sat, look!

Foi a primeira vez que me chamou Sat e pronunciou de tal maneira que ouvi Sad. Eu estava tão habituado a que as pessoas ligassem o meu nome à tristeza que irrompeu, na minha cabeça, um turbilhão de más memórias e começámos a discutir.

 Foi quando ela disse com azedume que eu não lhe dava a alegria suficiente que ela desejava para viver feliz. E esperava que, quando tivéssemos filhos, se parecessem com ela e nunca comigo, porque o mundo já tem amargura que chegue e eu aumentava-a em cada dia.

Fiquei desanimado e ainda mais vulnerável. O meu ar de derrota enfureceu-a. Disse-me então que estava farta de mim e do meu nome e que, durante algum tempo, nem queria ver-me por perto. Como estávamos junto de uma estação, correu para o metro e nem tive tempo de ver a linha que seguiu.

Muitas vezes, quando discutíamos, desaparecia por umas horas e, quando regressava, chamava-me Saturnino com voz doce e tudo passava.

Pouco tempo depois, entrei, devagar, na mesma estação de metro e dirigi-me ao hotel, ficando na sala junto ao átrio a ver as fotografias que havia na parede. Quase todas mostravam sítios conhecidos de Londres: a Tower Bridge, o Big Ben, o rio Tamisa, o palácio da rainha, etc. Tudo muito turístico, tipo postal ilustrado de todos os quiosques, sem deixar de ser bonito.

 Pouco depois, quando entrei no quarto, deparei com ela a experimentar, com ar de eterna harmonia e felicidade conjugal, uma lingerie vermelha que estava a estrear e perguntou-me com voz doce:

- Saturnino, gostas?

Claro que gostava. Era maravilhosa e o corpo dela merecia-o, tornando-o ainda mais sensual. Disse-lho, olhando-a com voraz atenção.

Acabámos por ficar muito tempo no quarto e ouvi-a repetir, com voz melíflua:

- Amo-te, Saturnino.

Aquele quarto passou a ser o melhor quarto de hotel do mundo.

 

Saturnino continua a viver aquelas horas na cidade. Vai descobrindo o que é possível. E também em si próprio? 

 

sábado, 22 de outubro de 2022

A melhor cidade do mundo ou Quando ela me chamava Saturnino

 

Confesso que me sentia imensamente feliz quando ela me chamava carinhosamente pelo meu nome que é Saturnino. Sim, Saturnino. Nesses momentos, até o achava comum como António, João ou Luís, sentindo-me normal, como se tivesse também um nome normal, embora essa sensação de normalidade não fosse habitualmente duradoira.

Tenho amigos também com nomes esquisitos, como Bráulio, que até custa a pronunciar por parecer uma trava-línguas; como Adolfo que logo faz lembrar o que ficou na história por tanto mal que fez à humanidade; como Leocádio, a que associo um animal enfurecido a correr na selva, a Octacílio e muitos outros, sei lá eu.

Mas, quando ela me chamava Saturnino de forma carinhosa, até esquecia a tristeza que o meu nome me cravou na cara desde criança.

Um dia, na escola, a professora perguntou-me:

- Saturnino, por que estás tão sotur - no?

Quando reparou na semelhança de som, nem acabou a palavra. Como podia gerar risota, emendou logo e em vez de soturno, disse triste.

Outra vez, a minha turma tinha de dizer o nome de um planeta. O meu companheiro de carteira, que era muito gozão, disse quase a gritar:

- Eu deixo o saturno para o Saturnino. Foi gargalhada geral. A professora tentou conter-se e começou a assoar-se para disfarçar o riso.

De facto, chamar-me Saturnino foi, desde muito cedo, um empecilho à minha felicidade. Eu sentia-me inseguro com medo das reações das pessoas quando ouviam o meu nome.

Em pequeno, quase nunca ouvi a minha mãe chamar-me pelo nome, o que também me marcou. Ficava-se quase sempre por "filho, isto; filho, aquilo". Acho que se arrependeu de ter concordado com a escolha que queria marcar como não sendo sua.

Foi-me dado este nome porque, quando eu nasci, os meus pais tinham uns amigos que aceitaram ser meus padrinhos, mas com a condição de eu me chamar Saturnino. Diziam que gostavam muito do nome, que já não havia crianças que se chamavam assim, o que era uma pena, porque o nome era bonito e estava a cair no esquecimento. Os meus pais aceitaram, porque a minha mãe não queria parecer ingrata, uma vez que aquele que viria a ser o meu padrinho, e que também se chamava Saturnino, tinha arranjado trabalho para o meu pai.

Saturnino continuará a narrar a sua história. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Vá lá, um sorrisinho!

 

Devo ser antipática ou, como se diz por cá, talvez morcona (acho tão feia esta palavra; deve haver outras do género noutras regiões). 

Isto tem a ver com um parênteses do post anterior. Se tiveram paciência (obrigada!) de ler, viram que tinha havido uma coisita menos agradável na pequena feirinha biológica aonde fui sábado de manhã. Só tem três vendedores e os compradores também não são muitos, embora o número vá crescendo, felizmente.

Habitualmente, compro mais coisas a um dos vendedores, porque gosto do que vende, como vende e tem pão variado. Ele não tem cartão multibanco e eu quis pagar com mbway, como habitualmente. Eu também tinha pouco dinheiro. Porém, demorou um par de minutos a tentar fazer a operação, mesmo com a ajuda do vendedor que é muito mais novo do que eu. Duas pessoas esperavam a sua vez de pagar. Não gosto nada que haja esperas por minha causa. E ainda menos quando olhei e nem um sorriso, para amostra de qualquer compreensão ou empatia.

Será que sou antipática e não mereço nenhuma atenção? Será que sou aquilo que já referi no início do texto e de cuja palavra não gosto? - Pensei eu com os meus botões.

Não sei, mas o que penso é que quem vai a uma feirinha biológica, para além dos vegetais com menos adubos podia ir compostando mais umas camadinhas de paciência e simpatia, quando ninguém está a perder tempo ou a desrespeitar o tempo dos outros. 

Ah, acabei por pagar com dinheiro, para ser mais rápido. Nem assim houve um olhar sorridente.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Hoje é 4ª e ainda me lembro bem do sábado passado

  

Fui à feirinha de produtos biológicos que há ao sábado de manhã, não muito longe de minha casa. Tinha sido interrompida duas semanas para dar lugar a tasquinhas, das Festas do Concelho - Senhora do Rosário/ Festa das Nozes (Ah, aconteceu uma coisa que me desagradou, mas depois conto, porque agora prefiro falar do que gostei).

Deixando as verduras em casa, para sopas, saladas e outras misturas boas de sertã,  fui à cidade com mar ao fundo aonde gostava de ir mais vezes, mas o tempo corre, faz-nos correr também e nem sempre vamos aonde gostávamos de ir. A livraria Bertrand, como habitualmente, chamava-me sem me ver. E entrei, é claro.

- Precisa de ajuda?

- Sim, obrigada, queria ver livros da senhora que recebeu o prémio Nobel de Literatura (de repente esqueci-me do nome dela - Annie Hernaux, que também estava na capa da revista do Expresso e cuja entrevista queria ler).

- Oh, lamento, mas já não temos nenhum. Recebemos livros duas vezes e duas vezes esgotaram. Os anos (dizia Ojanos) foi o primeiro a esgotar.

Nova remessa virá, pensei eu. E ainda tenho tantos livros por ler. E fiquei-me pelo último livro para crianças de Mia Couto, com ilustrações maravilhosas de Danuta Wojciechowska - O rio infinito.

A cidade com o mar ao fundo tem ainda peixeiras na rua que apregoam o peixe, disposto em pequenos carros de mão, onde não falta um bocadinho de areia da praia que agrada porque lembra frescura e sempre pesa mais um bocadinho na balança. Também os há com frutas da época ou vindas de fora e que agora se libertam, respirando a brisa fresca da maresia. Uma rapariga muito magra, com andar veloz de alguma loucura, segurava na mão duas laranjas que agradecia à vendedora. Nunca parava, olhava para trás e agradecia repetidamente, enquanto se afastava em passo cada vez mais rápido.

Daí a nada, era hora de almoço e outro ponto me chamava - Grão de soja, um restaurante simpático, económico, bem iluminado de comida vegetariana e saborosa.

À tarde, depois de ler o que me interessava na revista do Expresso, ouvi A Força das coisas, de Luís Caetano, na antena 2, um programa das 16 às 18h. Vale a pena para quem gosta de livros e de ouvir pessoas que também gostam de livros e de outras artes.

 

Deixem-me acreditar que, apesar de todos os problemas no mundo, ainda são legítimos os nossos pequenos/grandes prazeres.


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

terça-feira, 11 de outubro de 2022

'E que a guerra não chegue cá'

 

Hoje, falando ao telefone com uma amiga,  na despedida, ela disse a frase que pus em título, naquele momento em que se está para se desligar e se ouve vezes sem conta: Xau...  xau...  beijinhos... beijinhos... 

Às vezes, esta fórmula é repetida de forma bem sonora, outras vezes em voz mais baixa, mas só no tom parece variar.

Esta minha amiga disse coisa diferente para finalizar a conversa, embora logo acrescentasse a cruel realidade:  mas infelizmente a guerra já chegou e sentimo-la todos os dias no bolso.

O que ela queria dizer é que por cá ainda não há mísseis nem soldados invasores com ordens devastadoras. E esperemos que não e que quem vive bem perto os estrondos da guerra - alimentada pela ambição do poder que leva à cegueira e à surdez de tudo - possa ir limpando os destroços, embora da memória nunca limpe a morte e a destruição.

Já não me lembro como, finalmente, nos despedimos. Se calhar, também foi com Xau... beijinhos... É que há certas expressões que parece que vieram para ficar. Oxalá a guerra, não.