terça-feira, 8 de setembro de 2020

No Auchan, mas podia ser Pingo Doce, Continente...

 

Levantou-se pela hora do costume. Sempre antes das nove. Mesmo vivendo sozinho, parecia ouvir a voz antiga da mãe: daqui a bocado é noite.

Como quase todos os dias, o que tinha para fazer não era muito demorado. Hoje, tinha de ir ao supermercado. A fruta tinha acabado, o pão e o queijo também.

Podia almoçar lá. Uma vez, tinha travado conhecimento com uma mulher bem bonita e sorridente que também estava sozinha a almoçar. Pediu-lhe o número de telefone, ela esquivou-se, mas o prazer do momento já ninguém lho tira.

Podia ser que hoje acontecesse uma situação semelhante e até tomar café juntos. Juntos, isto é, na mesma mesa, porque manteriam as distâncias e também as sociais.

Vestiu uma camisa preta e umas calças da mesma cor. Viu-se ao espelho. Como estava moreno, gostou da imagem que viu. Molhou o pente e penteou o cabelo para trás. Estava um pouco comprido, mas devia ficar-lhe bem, porque já lho haviam dito por duas vezes. Devia ser verdade porque acabaram sempre a frase por: 'A sério!'

Chegou ao supermercado e aproximou-se do balcão. Sentou-se no banco de pernas altas. Olhou à sua volta. As mulheres que via sozinhas pareciam apressadas ou estavam muito interessadas em escolher ou ver os preços dos produtos.

Acabou por almoçar no balcão solitário e triste. Talvez no exterior encontrasse alguém a tomar café e gostasse de conversar um bocado. 

Saiu e dirigiu-se para um dos pontos onde serviam café.

As quatro mesas estavam cheias de gente animada.

Acabou por tomar o café ao balcão solitário. Agora menos triste, mas a alegria estava distante, apesar de a sentir bem perto.

Entrou de novo no supermercado, comprou a fruta, o pão e o queijo e voltou para casa para ver um filme.

No dia seguinte, iria a outro supermercado. Talvez uma roupa mais clara desse mais sorte.


6 comentários:

  1. Não deixas um comentário em nenhum blog, caramba! Se não fossem o Ryc@rdo e a Cidália, o teu espaço era um deserto, Mariana (já li, é a junção do primeiro nome das tuas filhas, portanto, Maria e Ana).
    Até contas e escreves cenas engraçadas, mas sociabilizar-te é que não. Se um dia ficares sozinha, como o personagem deste conto, talvez percebas quão importante é dar e receber.

    Dias muito teus!

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  2. Obrigada pelo comentário e por ler algumas coisas que aqui partilho. Tenho pena de não poder tratá-lo pelo nome, mas, como se fica pelo anonimato, não posso.
    Os comentários, ainda que poucos, são sempre bem-vindos e a todos gosto de responder. E também fico muito feliz por ver o bom número de visualizações.
    Comento em vários blogues amigos. Já agora, podia dizer se também tem blogue? Gostava, acredite, de o visitar. E de deixar um comentário, de certeza positivo.
    Quanto ao resto, espero que a minha vida fale por mim.

    Um dia muito feliz para si.
    M.


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  3. É preciso ter muita paciência, minha querida M (também Dolores)!
    Este teu "admirador" anónimo está muito ressentido por não deixares "um comentário em nenhum blog" (principalmente no dele, ou dela, deduzo). E termina com um "caramba"! Caramba, digo eu! É homem ou mulher do Norte. Só não se identifica.
    Mas são recentes as suas visitas, porque se recuasse no tempo de vida desta tua Mariana, veria que só não estás!
    Poderás não ter tantos comentários como têm alguns blogues. Mas também há comentários que nem isso são! Mais parecem um picar de ponto, em jeito de quem quer dizer:"Olha, não se esqueçam de mim, que eu estou aqui!...".

    Fica bem, minha querida!
    E, quanto a este nosso anónimo, enfim só tenho a dizer que, sim, tem razão: é importante dar para receber! Mas é preciso ver o que se dá, pois corremos o risco de receber o mesmo!
    Isaura

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  4. Obrigada, Isaura, gostei muito do teu comentário.
    E nada foi combinado, é claro.

    Há bocadinho, visitei o teu blogue "Bem-vindo ao Paraíso", sempre inspirador. Gostei de ouvir de novo a "Pedra Filosofal" e da piada do Joãozinho, que vem mesmo a propósito do tempo em que vivemos.

    Um abraço
    M.

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  5. E porque não resisti a ler os comentários que antecedem queria subscrever o segundo. Eu venho aqui muitas vezes e não visito os blogues porque vêm comentar o meu, poderia até nem ter um blogue, visito-os porque como aqui gosto de ler o que escrevem os seus autores.
    um abraço de uma fã, mesmo que às vezes venha só ler e não comente

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