sexta-feira, 4 de maio de 2018

" A minha filha perguntou-me" - Ana Luísa Amaral

Helena Almeida

A minha filha perguntou-me 

o que era para a vida inteira 

e eu disse-lhe que era para sempre.

Naturalmente, menti, 

mas também os conceitos de infinito 

são diferentes: é que ela perguntou depois 

o que era para sempre 

e eu não podia falar-lhe em universos 

paralelos, em conjunções e disjunções 

de espaço e tempo, 

nem sequer em morte.

A vida inteira é até morrer,

mas eu sabia ser inevitável a questão 

seguinte: o que é morrer?

Por isso respondi que para sempre 

era assim largo, abri muito os braços,

distraí-a com o jogo que ficara a meio.

(No fim do jogo todo, 

disse-me que amanhã 

queria estar comigo para a vida inteira)

Ana Luísa Amaral

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