quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O caixilho



O dia do casamento foi esplendoroso. A chegada da noiva, no seu vestido alva e longamente bordado, fez esquecer a longa espera dos convidados. Os pés deixaram de doer pelo aperto dos sapatos altos e as gravatas já não pediam o alongamento do pescoço em busca de algum alívio.
Belo casal. Belas fotografias tiradas dentro e fora da igreja. O que era difícil era escolher a mais bela pela luz e pela captação dos sorridentes momentos.
A mãe da noiva gostou tanto de uma fotografia que resolveu encaixilhá-la e oferecê-la ao casal. Ficaria num lugar bem visível da casa.
Os dias passaram, os meses também e já se contavam três anos de casamento. Três anos é pouco tempo, mas é muito quando se fecham todos os sorrisos e desaparecem os motivos para uma espera compensadora.
Como as discussões não abrandavam nem as palavras se adoçavam, o casal optou pela separação. O melhor era cada um seguir a sua vida e para isso era preciso que os teres e haveres fossem divididos. Alguns foram devolvidos à procedência.
Assim sendo, um dos primeiros objetos a ser retirado da casa foi a fotografia. Nem mais. Ele iria levá-la já a casa da ex-sogra, que a tinha emoldurado e oferecido. Como a senhora não estava em casa, o ex-genro deixou o objeto. Esteve para escrever e juntar um bilhete, mas não o fez, porque disse, de viva voz, ao ex-sogro que, atendendo à separação, gostaria de devolver a oferta. Que não levassem a mal, mas nenhum dos dois queria guardar a fotografia e não queriam destruí-la.
Três dias passaram. Ao abrir o mail, o ex-genro viu uma mensagem da ex-sogra, onde se lia que aceitava a devolução da fotografia, porém, fazia questão de uma coisa importante: ele tinha de lhe pagar o dinheiro que tinha gasto no caixilho!

2 comentários:

  1. E está tudo dito no último período!
    E não é só o valor do dinheiro que ali, no caixilho, está em causa...
    Tantas outras coisas... até porque todos nós gostamos de encaixilhar a nossa vida, principalmente os momentos bons, como se isso impedisse que eles nos escapassem!

    beijinho e une bonne rentrée!
    IA

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  2. Obrigada, IAzinha.
    Pois, quase nada na nossa vida é linear e a fotografia que se escolhe para encaixilhar pode contar muitas histórias que começaram ou ... que chegaram ao fim.

    Bisous et une bonne rentrée aussi.
    M.

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