terça-feira, 13 de outubro de 2020

Deve ser mesmo bom!

 

O texto que partilho sobre um livro de Javier Marías vem no Expresso Curto de hoje.

Do autor, li  Berta Isla e adorei (pus um post sobre esta obra

 no passado dia 8 de maio).


 

 "Os enamoramentos", de Javier Marías

"Luísa e Miguel pareciam formar o casal perfeito. Maria observava-os todas as manhãs a tomar o pequeno-almoço no mesmo café que também frequentava. Não os conhecia, mas via-os falar e rir, a uma hora em que ninguém tem tempo ou cabeça para nada, e menos ainda para romance ou gargalhadas.

Conversavam como se tivessem acabado de se conhecer e não como se se deitassem e acordassem na mesma cama há anos, se tivessem arranjado à pressa na mesma casa de banho e corressem para deixar os filhos na escola antes de sair para o trabalho. Vê-los diariamente pela manhã, mesmo que nunca com eles tivesse trocado uma palavra, tornava melhores os dias de Maria. Ofereciam-lhe uma visão de harmonia e de entrega que lhe fazia encarar a vida com mais otimismo. Até à manhã em que deixou de os ver. O desencontro repetiu-se durante dias até descobrir que Miguel fora brutalmente assassinado no meio da rua, num crime desprovido de sentido perpetrado por um sem-abrigo que aparentemente perdera a razão.

Não cheguei ainda à parte em que é revelada a verdade sobre a tragédia, mas a história vai muito além do mistério. Eleito o melhor livro do ano em Espanha em 2011, no mesmo ano em que Javier Marías ganhou o Prémio Literário Europeu, "Os enamoramentos" é, sobretudo, um livro sobre o amor e a perda.

Depois de Coração Tão Branco e Berta Isla, é a terceira obra que leio de Marías, considerado o melhor escritor espanhol da atualidade e eterno candidato ao Nobel. Como os outros, está tão bem escrito que só nos faz desejar que o dia tivesse mais horas para nos podermos perder na leitura".

 Joana Pereira Bastos in Expresso Curto de hoje

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

"O Poder de Circe" - Louise Gluck - Nobel 2020

Louise Glück | Lannan Foundation

 

"Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.

Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.

Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,

sob o meu cuidado
e das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.

Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi

que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,

previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas

que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém

vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado".

 

Louise Gluck - Prémio Nobel da Literatura 2020

(Tradução de José Alberto Oliveira)

 

Nasceu em Nova Yorque, EUA, em 1943

Frequentou a Escola de Artes da Universidade de Columbia


Louise Gluck em Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro

 


A coletânea Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro 

foi publicada, pela Assírio & Alvim, durante Porto 2001 / Capital Europeia da Cultura


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Abertura ao outono

 



terça-feira, 6 de outubro de 2020

Amália Rodrigues - Partiu há 21 anos

Não me digam que não!

 

Há dias em que apenas um não pode arrastar muitos outros já ouvidos e muitas situações negativas já passadas. Muitos de nós podíamos falar desses momentos. Contudo, também não se poderá dizer 'Felizes os que nunca ouviram um não'. Fazem tanta falta como ouvir o sim.

Se os nãos prevalecem ao longo da vida, cresce o receio de o ouvir, mais uma vez. Se o não foi alternando com o sim, de forma justa e empática, então o não torna-se leve e a vida também.

Quem está habituado a ouvir sempre sim ou a ouvir sempre não são pessoas infelizes, a meu ver.

Conheço pessoas que se habituaram a ouvir não e que foram perdendo a vontade de serem felizes, achando, o que é horrível, que só aos outros pertence a felicidade.

Quem sempre se habituou a ouvir sempre sim também nunca se esforçou por ser feliz, porque tudo estava, aparentemente, acessível e conquistado.

Seja como for, ficamos contentes quando ouvimos um sim. Talvez por isso, muitas vezes se repete nas mais variadas ocasiões: não digas que não.

Ouvir um não às vezes pode ser necessário; ouvi-lo demasiadas vezes torna a vida mais pesada.

Não me digam que não!



domingo, 4 de outubro de 2020

Como não posso ir a Londres...

 

 ... passeio por algumas fotografias! 

Às vezes, nem nos apercebemos bem como são bons determinados momentos.

Só quando se perdem ou interrompem por longo tempo!













sábado, 3 de outubro de 2020

A pintura e a fotografia

 

Ainda nem sequer se falava na atual pandemia, os pais foram com a menina à National Gallery, em Londres, onde aos domingos de manhã se conta(va) uma história, gratuitamente, numa  das belíssimas salas do museu, a partir de um quadro lá exposto.

Junto da obra de arte, escolhida para a sessão, havia uma carpete, que a contadora disse ser mágica, e que foi desenrolada pelas crianças para se sentaram, voltadas para ela e para o quadro.

Como quase todas as histórias, começou assim: Once upon a time... (Era uma vez...).

E as crianças iam imaginando o que a contadora de histórias ajudava a adivinhar com palavras, bem claras e bem pronunciadas, e objetos que tirava de um cesto, iguais aos da pintura: longos e coloridos mantos acetinados, uma grinalda, um escudo de defesa...

A menina de três anos estava na fila da frente. E, tal como os outros meninos e meninas, tocava os objetos. E experimentava-os. E sentia-os. E fixava a contadora de histórias. E seguia com atenção o enredo mágico também contado na tela colorida.

Ouvindo também a história, a mãe olhava a filha. Apetecia fotografar tanta atenção, mas não o fazia,  para seguir a recomendação de não fotografar as crianças presentes.

Já na rua, a menina continuava a contar a história para si própria, repetindo gestos que tinha presenciado.  

 E a  mãe fotografou este quadro, para si o mais belo.

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Uma crónica e uma pintora

 

Sempre que posso, gosto de ouvir a crónica diária de Francisco Sena Santos. 

Passa na Antena 1, às 8.40 da manhã. Aprendo sempre alguma coisa com o seu

 'Olhar sobre o mundo'.

Hoje falou de Artemisia Gentileschi, pintora barroca, nascida em Roma, no ano de 1593, e

 falecida em Nápoles, em 1656.

Era conhecida por 'la pintora' pelo sucesso da sua obra 

de grande originalidade.

Apesar disso, teve de ter alma e nervos de ferro para singrar e ser compreendida numa

 época e num  meio dominados por homens.

Procurei alguns dos seus quadros e partilho-os agora.

 

O cronista referiu também que os quadros desta pintora vão estar expostos na National Gallery de Londres, aberta também a visita virtual.

 



 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Quando não se tem cão...

 

 ... caça-se com gato. E é bem verdade. Ontem à noite, houve a apresentação do livro Mimos de setembro, da Editora Mimos e Livros, por google meet.

A apresentação dos volumes anteriores foi presencial, com os abraços e beijinhos a que todos estávamos habituados (julgo que esse hábito vai mudar bastante, mas o mais importante é que os afetos não diminuam).

Na sessão, houve o ligar e o desligar do microfone, o abanar de mãos como aplauso, a alegria de falar de um prazer de todos, que é a escrita, etc.

Todos falámos um pouco sobre o poema ou prosa poética que cada um tinha elaborado a partir do tema que era o mês de setembro.

Como acontece nas mais diversas áreas, todos os textos exprimem visões e vivências diversificadas, o que é muito interessante.

Muitos  dos presentes no encontro referiram a falta do encontro presencial.

Outros tantos, nos quais me incluí, falaram do bem que é haver esta alternativa, com vantagens até para quem mora longe e não poderia, naquele dia, deslocar-se ao Porto, onde habitualmente são/eram as apresentações.

De facto, a pandemia tem obrigado a muitas adaptações na nossa vida. Às vezes até nos admiramos de nós próprios!


quarta-feira, 30 de setembro de 2020

"Isto não vai acabar bem"

 

Esta foi uma das frases ditas por Trump a Biden no debate de ontem à noite, nos Estados Unidos.

Como é possível que o governante de um país tão poderoso chegue a este ponto de ameaça, medo, para manter o poder e não perder os gordos privilégios nem os prestados aos seus fiéis seguidores?

E que mal isto faz ao mundo! Os Trump(ezinhos) vão proliferando não só na política, mas nos mais variados setores.

A prática da mentira, da arrogância, do insulto, do desrespeito pelo outro, que é diferente de si próprio, é avassaladora.

Se as pessoas não rejeitarem estas práticas pelo seu voto, de facto,"isto não vai acabar bem".


terça-feira, 29 de setembro de 2020

"Mimos de setembro"

 

 Com a chancela Mimos e Livros, foi publicada a coletânea que reúne textos poéticos de 70 autores. A apresentação será na próxima 4ª f., através da plataforma Google Meet.



Foi este o meu contributo:


Setembro

 

Se me lembro, setembro,

eras  descanso de fim de verão,

silêncio fresco de maresia -

nem que fosse vivido num só dia

 

Se me lembro, setembro,

via-te pela janela ao levantar;

chegavas manso e carinhoso -

azulando o livre dia luminoso

 

Se me lembro, setembro,

de te sentir tranquilo e despojado,

aos rostos e árvores as máscaras tirando -

porém ao seu uso agora obrigando

 

 Não me lembro, setembro,

de um setembro tão virulento assim;

podes impor confinamentos, podes,

mas não afastes a memória

do setembro feliz que guardo em mim.

 

 

domingo, 27 de setembro de 2020

Ruídos

 

Ponho papeladas em ordem

porque há silêncio

abro a janela

entra luz e frescura

mas interrompo a arrumação

e pego num livro

e leio em silêncio

mais tarde

arrumo as papeladas

agora não

trazem-me muitos ruídos

basta-me ter de arrumar as papeladas

 

sábado, 26 de setembro de 2020

Colheita em manhã de outono


 

A lembrar uma sopinha quente



 

Uma sugestão de escrita sobre o Natal

 

LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME IX
Coletânea de poemas e contos 2020

A Lugar da Palavra Editora quer editar (mais) um livro memorável para este Natal. E gostaria de contar consigo! Participe!

REGULAMENTO

1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 27 de outubro de 2020.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para editora@lugardapalavra.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).

4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.

8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.

9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, em www.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.

10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.

11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.

12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.

  1. Será constituído um Conselho Editorial formado por três elementos: ANA MARIA BESSA, MARIA EUGÉNIA PONTE e MARIA ISABEL GONÇALVES.
  1. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.

    15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Diálogos improváveis que deixaram de o ser

1.

 - Filho, que tal a Faculdade?

- Muito fixe, mãe.

- Foram boas, então, as tuas primeiras impressões.

- Mesmo. Já nem me lembrava de estar numa sala de aula.

- E dos teus colegas, gostaste?

- Claro. Poder falar sem ser pelo zoom, a gente conhecer-se pessoalmente, conversar... nem   parecia verdade; foi mesmo fixe.


2.

- Bom dia, setora, desculpe o atraso.

- Bom dia, sente-se então no seu lugar.

- Até me admira não me dizer nada por ter perdido a camioneta.

- O que podia dizer? Só estou a conhecê-lo agora.

- Como assim?

- Vim hoje fazer esta substituição.

- Desculpe, setora, com a máscara, nem reparei que não era a nossa setora.


3.

- Mamã, quando não houver vírus, podemos ir a Portugal?

- Sim, filha, claro. E estamos com a família, brincas com os primos, vamos à praia...

- Gostava tanto de ir. Já não vamos lá há tanto tempo.

- Também tenho saudades de Portugal, filha.

- O vírus ainda vai ficar muito tempo, mamã?

- Não se sabe, filha, mas ele é muito chato e não quer ir embora.

- Mamã, posso começar a fazer a minha mala?

- Já, filha? Ainda nem marcamos a viagem!

- Assim, o vírus não entra porque vê que vamos sair!

 

No final do verão, já passado!

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Um (quase) poema que me chegou

 

O silêncio da casa

 

Deixo coisas por fazer

para que a casa continue assim

em silêncio

não sei se exala passado

ou sobretudo o agora

mas o momento é sereno

e não quero desperdiçar nada

do silêncio da casa de hoje

a cama está por fazer

a cozinha por arrumar

a roupa por passar a ferro

mas nada disso importa

não posso perturbar

o silêncio da casa

olho a tua fotografia

e não te digo nada

volto a olhar

volto a nada dizer

não é preciso

conheces o meu amor

pelo silêncio

- com arrumação,

pressinto que vás acrescentar.

 

15.09.2020