Por todo o país, há hoje divertidos festejos e desfiles carnavalescos. Durante umas horas, mostra-se o trabalho minucioso de longos meses. Apesar de reconhecer todo esse alegre entusiasmo, eu não teria vontade de enfrentar filas de trânsito e multidões para ver o corso passar. No entanto, o Carnaval de diferentes regiões do interior do país seduz-me e está a atrair muita gente. Poderá ter a vantagem de maior conhecimento e valorização de terras que tantas vezes são esquecidas. Pode ser que para o ano lá vá!
Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros).
Carnaval em Lazarim (Lamego)
Para além deste carnaval que nesta terça-feira tem o seu apogeu, o país e o mundo estão a viver um carnaval cujo fim se desconhece. Por vezes com máscaras, outras sem máscara nenhuma.
Por cá, e à dimensão do nosso país, é o desfile mediático encabeçado pelo primeiro ministro com a sua famigerada empresa e muitos adereços a reboque, uns mascarados, outros não.
Do outro lado do Atlântico, no país mais poderoso do mundo, desfila um corso gigante com cinco letras à frente, ainda mais gigantes, para que se possam avistar em todo o universo (tenho um familiar muito próximo americano que stressa de vergonha pelos desatinos do presidente do seu país).
Bom Carnaval para todos, com saúde e alegria. É que tristezas não pagam as dívidas que a humanidade já está a pagar.
Isto vai mal também no reino de Portugal. Não é saudável ver políticos andar na passerele da vaidade, como se dissessem: ponham os olhos em mim: sou rico e poderoso. A mim, não me atinge qualquer mácula. Eu quero-posso-e-mando e o resto é conversa de quem é uma nódoa.
No imbróglio em que se deixou enredar, o primeiro ministro, nas poucas vezes que fala, omite factos comprometedores como a avultada avença que recebe da instituição, que também depende do estado, preferindo a cabala que jornalistas e adversários políticos tecem, no seu entender. É triste o exemplo do passa-culpas, da vitimizacão, da omissão ou meias-verdades de quem ocupa cargos públicos de tanta importância.
Numa dimensão estratosférica, foi horrível ver Zelensky a ser humilhado na sua visita a Trump - homem tresloucado que vê o mundo como um feudo que julga ter o direito de manipular pelo seu imenso poder e imenso dinheiro. Por isso, calca e humilha quem não lhe interessa ou de quem não gosta.
O vídeo sobre a impensável Riviera de Gaza é um tremendo insulto à humanidade, é dar chutos nos mais fracos e querer brindar junto da estátua de quem domina o jogo do mais forte.
A ânsia do poder e do dinheiro corrompem cada vez mais o mundo, mas tentar demonstrar que a culpa é sempre dos outros - sobretudo dos seus adversários - arruina e mina igualmente a humanidade.
As novas gerações seguirão facilmente estes exemplos que se vão normalizando, em pequena ou grande dimensão, e aos quais vamos assistindo perplexos e impotentes.
Assim, nem apetece brincar.
Bom domingo para todos, com coisas que nos façam felizes e aos outros também!
Esta canção, em forma de carta de um desertor, refere consequências nefastas da guerra, Foi escrita em 1954 por Boris Vian - engenheiro, escritor, poeta, cantautor… (França, 1920 - 1959).
A minha longa experiência de vida tem-me mostrado que pessoas narcísicas e com uma sede imensa de poder e de serem adoradas caem facilmente em jogos de sedução. E nem reparam nisso, enleadas que estão no seu amor próprio.
Atualmente, o mundo sabe cada vez menos como será o dia de amanhã por causa da ambição desmedida de meia dúzia de governantes que se sentem donos do mundo e agem como tal.
Há três anos que a guerra na Europa - sangrenta, como todas as guerras - começou. O sr Putin quis aumentar o império que considera seu e invadiu a Ucrânia, um país soberano.
Agora, o seu errante e igualmente ambicioso amigo, sr Trump, afirma que quem começou as hostilidades foi Zelensky. E acrescenta sempre outras mentiras que considera verdades que todos devem aceitar e que o sr Putin também agradece.
Assim sendo, o sr russo deve esfregar as mãos de contente; o sr americano deve fazer esgares de orgulho por ser aceite por outro aluno poderoso da turma. Juntos, podem invadir toda a escola.
Enquanto isto, o sr americano vai delapidando a educação e o mundo. No frenesim de ser o mais esperto e poderoso da turma, nem repara que está a cair que nem um Putinho em braços ardilosos e bem mais adultos.
Por um lado, é bem feita, por outro lado - o maior e muito pior - é que ambos e outras imitações estão a dar cabo disto tudo.
P.S. Vi agora um excerto de um vídeo, que corre nas redes sociais, sobre a guerra na Ucrânia. Comovente. Preocupante.
Hoje, sábado, tem sido, para mim, e por bons motivos familiares, um dia sem saber notícias. Porém, nas televisões, nas rádios e nos jornais, não faltará o rescaldo do debate de ontem na Assembleia da República, que teve como pano de fundo a moção de censura ao Governo, apresentada pelo partido de A.V.
O principal alvo era o primeiro-ministro, por alegadas e não explicadas irregularidades na manutenção da empresa familiar que possui e chefia.
Ora, o que me faz sobretudo impressão é como é possível ter tempo para gerir uma empresa tão rentável e, simultaneamente, gerir um país. Não me entra na cabeça.
O nosso país é pequeno, mas, mesmo assim, deve dar muito trabalho porque existem áreas que estão em agonia, e que toda a gente conhece.
Por outro lado, a empresa do sr primeiro-ministro também lhe deve dar muito trabalho, a avaliar pelos ganhos com os clientes, mas estes a gente não conhece.
Por estas e por outras, sinto-me frágil porque verifico que fiz muito pouco até agora. E o tempo que me falta para viver será muito mais curto do que o do sr primeiro ministro, que é muito mais novo do que eu. Ele gere um país, gere uma empresa em casa e não lhe falta tempo. Eu apenas giro a minha casa e acho que não tenho tempo, o que é, de facto, censurável.
Pelo que sei, as moções de censura servem para analisar condutas e comportamentos. Por isso, saia para esta mesa uma moção de censura. Sim, é para mim, anónima cidadã que não soube lucrar nem dar lucro pelas fatias de tempo e de solo que lhe couberam.
Atendendo a tanta fragilidade, não está aberta a discussão!
Neste momento, estão a ser libertados reféns-prisioneiros de Israel e da Palestina. Ao longo do dia, as imagens vão passar inúmeras vezes, podendo ver-se a alegria do reencontro e a tristeza de quem já não vê as pessoas que queria abraçar.
Em pano de fundo, estão dois países vizinhos em guerra, isto é, dois em um, no entender de alguns poderosos governantes.
E o sr Trump, na sua desmedida e desatinada ambição imobiliária, cobiça agora a faixa de Gaza, que a guerra tem destruído e matado inúmeras pessoas inocentes, incluindo crianças.
O sr Trump quer fazer dessa faixa, agora em ruínas mas com gente dentro, uma festiva Riviera, alargando as suas ideias estapafúrdias e loucas. Onde ele vê terra vê imóveis ricos para os seus seguidores, ignorando as pessoas que têm o direito de lá viver.
Neste momento, estão a ser libertados prisioneiros e ainda bem. Porém, se o mundo for governado pela lei apenas de alguns, vai ficando cada vez mais prisioneiro e ainda mal.
Domingo, estava eu na ‘minha’ cidade com mar ao fundo, fui a um café com larga esplanada iluminada de sol. Alguns vasos altos, com abundantes suculentas, delimitavam zonas de passagem. Entretanto, duas famílias encontram-se. E logo se ouve a mãe de um menino:
- Zezinho, anda dar um beijinho.
E o pai repete alto e bom som:
- Zezinho, anda dar um beijinho.
E as chamadas do pai e da mãe do Zezinho foram-se ouvindo. Perante a insistência, o menino foi-se escondendo atrás de um vaso. Vendo os pais distraídos a conversar com os amigos, foi-se adelgaçando entre o vaso e o vidro separador e, daí a nada, estava a correr no jardim junto à esplanada.
Assistindo à cena, veio-me à memória o poema ‘Liberdade’ de Fernando Pessoa, a quem roubei o primeiro verso (assinalando-o, como é devido, porque o seu a seu dono). O resto foi para desenhar mais um pouco a engraçada situação:
Não me lembro de nenhuma figura política, ao demitir-se de um cargo ou sendo demitida, que não diga que está de consciência tranquila. Um secretário de estado do atual governo, cuja demissão foi conhecida ontem, repetiu, igualmente, que estava de consciência tranquila.
Esta expressão, com tanto uso e abuso, vai-se tornando vazia do significado que, nestes casos, querem dar, com ar sério e circunspecto. Como se quem a ouve a aceitasse sem pensar ou não tivesse consciência.
E, depois das demissões, chovem até elogios, mas nenhuma referência aos motivos que levaram à cadeira ter ficado vazia. Sobre isso, os governantes nada dizem porque, perante factos, esgotam-se os argumentos que seriam desejáveis.
Esses governantes, tão palavrosos tantas vezes, remetem-se ao silêncio quando as coisas correm mal e ficam-se por uma nota escrita, curta e breve, para a comunicação social sobre o caso e a vida continua.
Esquecem-se, porém, de que a consciência do comum dos mortais vai ficando intranquila. E triste. Como fria tempestade.