sábado, 7 de novembro de 2020

Conversa entre o afetivo, efetivo e também com afeto!

 

- Estou muito contente.

- O seu filho renovou o contrato?

- Ainda melhor: ficou afetivo. 

- Que bom ter ficado efetivo. É uma garantia.

- Ficar afetivo era o que ele mais queria e eu também.

- Então estão de parabéns por ele ter ficado efetivo.

- Nem quero acreditar.

- O seu afeto também ajudou.

- Ele é muito responsável e trabalhador.

- E afetivo também.

- Sim, agora é afetivo!

- Pois!

"Com Açúcar, Com Afeto" - Nara Leão

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Hoje, lembrei-me deste poema!


Modigliani, 1918

Bucólica

A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga, Diário, 1941


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Conversa com o Pai Natal dentro

 

- Pai, já sei os que presentes que quero para o Natal.

- Sim, filho, e o que é?

- Já pus cruzinhas na folha que recebemos da loja.

- Deixa ver. Mas são bastantes, filho. Fica caro.

- Pois é, mas eu tenho um truque.

- Um truque? E qual é?

- Eu escolho os mais baratos.

- E os outros? Ficam sem efeito?

- Não, os outros, peço-os ao Pai Natal!


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Entrando, de novo, no barco O Dois Amigos, de Kirmen Uribe.

 

O livro de Kirmen Uribe não fala só de pintura, mas este tema é retomado no excerto que agora escolhi e partilho e no qual é referido um quadro famoso de Picasso.

As 182 páginas do romance trazem até ao leitor pedaços da vida de três gerações com viagens, encontros, desencontros, chegadas, partidas, criação artística ...

Todos os 23 capítulos têm um título.

Neste, há referência a Stornoay - cidade de uma ilha da Escócia.


 


Picasso - Les demoiselles de Avignon

George Braque - Man with a guitar

Picasso - Ma jolie


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Biden ou Trump? O mundo com os olhos postos nos EUA

 Tal como qualquer cidadão, sinto apreensão

 pelo que hoje vai ser decidido (ou não!) nos EUA.

Confesso que nos últimos dias já me custa ver as imagens e escutar os sons

 daquele ser humano egocêntrico e corpulento, de cabelo

em barco, que goza com todos, menos com os seus que o defendem.

Não é só a democracia de um país que está em causa, mas o mundo, 

onde vão nascendo pequenos clones.


Para palavras mais sustentadas do que as minhas, 

partilho excertos do Expresso Curto de hoje, do jornalista João Silvestre, com o título

"Dia D nos EUA. Será de Donald ou de derrota?"

 

 "É 59ª eleição presidencial nos EUA. Mas não é uma eleição qualquer. Não apenas o país enfrenta uma violenta segunda vaga da pandemia como, apesar da recuperação do PIB no terceiro trimestre, vive sérios problemas na economia. Está em causa a reeleição de Donald Trump que, a confirmar-se, avisam alguns, pode ser um perigo para a democracia americana. Leia-se, por exemplo, o editorial do New York Times publicado a meio de outubro que classificava Trump como “a maior ameaça à democracia americana desde a Segunda Guerra Mundial”. Ou o texto do famoso colunista Thomas Friedman, no mesmo diário duas semanas antes, que recorria igualmente à história para colocar o nível da ameaça à democracia acima da Guerra Civil, de Pearl Harbour ou da crise dos mísseis de Cuba. Ou ainda as palavras de Clara Ferreira Alves no Expresso que avisava que se a eleição correr mal a Trump, não hesitará em atiçar as milícias da igreja de fiéis, e em desafiar a ‘lei e ordem’”.

Na verdade, há sinais de que as coisas podem complicar-se. Há quem garanta que Donald Trump tem um plano para ganhar mesmo não ganhando, antecipando a declaração de vitória antes de estarem contados todos os votos, ou que poderá tentar declarar uma fraude se os números não lhe forem favoráveis. Nada tranquilizador é o facto de as vendas de armas nos EUA terem disparado no mês de outubro (...).

A poucos dias da eleição, para gáudio de Trump, saíram os dados do PIB dos EUA no terceiro trimestre que deu um salto de 33,1% – na taxa actualizada, ou seja, quatro trimestres a crescer ao ritmo de 7,4% que foi o efectivamente registado naqueles três meses. Mas isso não esconde a dura realidade para o inquilino da Casa Branca: a pandemia e crise económica vieram baralhar drasticamente as contas de Trump que contava ter um ano 2020 de grande pujança (...).

A pandemia é um dos principais pontos de confronto entre ambos. Trump tem sido acusado pela forma como lida com a pandemia e, em particular, por não ter suficiente cuidado. Agora, um estudo da universidade de Stanford estima que os seus comícios tenham provocado 30 mil infetados e 700 mortos – uma notícia do Expresso com direito a reação da Casa Branca

(...)".

 

Elida Almeida - Bidibido

 
Elida Almeida nasceu em 1993, 
na cidade de Pedra Badejo, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Esta canção, incluída no último disco da cantora,
foi sugerida há dias pelo jornalista Jorge Araújo, no Expresso Curto.
Para além da música, achei o vídeo maravilhoso.
Saliento os rostos das crianças e as mãos das mulheres nas tarefas quotidianas.
  
 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Conversa com menos enfeites

 

 - Podes acreditar. Se quiseres, faz as contas.

- Sim, acredito, claro.

- Enfeitei a campa durante sessenta anos!

- Incrível. Uma vida.

- Sim, uma vida e quase sempre com flores cultivadas por mim e pelas minhas irmãs.

- Ainda melhor, então.

- Nunca gostei de comprar flores, preferia sempre as de casa.

- Que trabalhão! Boa homenagem a quem partiu.

- Foram os pais, foram os tios, foram irmãos...

- A família é grande.

- Agora, já não posso ir enfeitar nem tratar das flores.

- A vida atual é diferente, mas o seu exemplo será seguido.

- Não faltam catos por aí. Mas deixem ficar os que têm picos.

 

domingo, 1 de novembro de 2020

Os livros também são luzes


 

Gosto muito de livros que, para além de uma boa história, nos permitem conhecer e viajar pelo mundo.

O Dois Amigos, de Kirmen Uribe (escritor basco, de 50 anos), cumpre bem esses critérios.

Hoje, Dia de Todos os Santos, partilho um excerto do romance sobre um quadro.

Também achei muito interessante a ligação do que o narrador vai vivendo  com lembranças, vivências, questionamentos...

 

 


 

 

sábado, 31 de outubro de 2020

Halloween - com abóboras e luzes dentro!

 



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Joan Baez & Paul Simon - The Boxer

'The Boxer'


I am just a poor boy
Though my story's seldom told
I have squandered my resistance
For a pocket full of mumbles
Such are promises
All lies and jests
Still a man hears what he wants to hear
And disregards the rest
When I left my home and my family
I was no more than a boy
In the company of strangers
In the quiet of the railway station
Running scared
Laying low, seeking out the poorer quarters
Where the ragged people go
Looking for the places
Only they would know
Lie la lie, lie la la la lie la lie, lie la lie
Lie la la la lie la lie, la la la la lie
Asking only workman's wages
I come looking for a job
But I get no offers
Just a come-on from the whores
On Seventh Avenue
I do declare
There were times when I was so lonesome
I took some comfort there
La la la la la la la… 
 
 

'Já tinha idade para ter juízo!'

 

Ela tem um quintal. Não é grande, mas suficiente para ter umas hortaliças, umas árvores, uns espaços com relva...

Cada vez gosta mais do quintal. Até arranjou um bocadinho a que chama o jardim da Clarinha para a neta que vive em Londres e que, por causa da pandemia, este ano não o verá. E para outros netos que poderão vir.

Pois bem, resolveu fazer uns arranjos para que tudo ficasse mais bonito e funcional. Abriu os cordões à bolsa (não sabia era que lhe meteriam a mão no bolso) e chamou um jardineiro que já conhecia de uns pequenos trabalhos. Combinaram o preço.

- Sim, aqui fica bem pedra pequena com tela por baixo para evitar as ervas daninhas. Aqui planto relva...

Chegou o dia em que a carrinha trouxe os materiais. Onde haveria pedra foi lançada casca de pinheiro (por acaso, até gostava mais, mas é muito mais barata) sem a tela, como havia sido combinado e que se usa sempre nestes casos.

Não via a tal relva para plantar. Pensou que estaria mais escondida. Passado pouco tempo, vai ao quintal e vê que a relva, afinal, estava a ser semeada, o que é bem mais barato.

O rosto fechou-se-lhe mas a boca abriu-se e disse o que achava que tinha de dizer ao jardineiro desonesto, que muito adaptou, menos o preço.

Ele virá reparar algumas coisas, e eu - porque disse ela, mas foi comigo que se passou - terei de reparar melhor que, de facto, há muitas pessoas em quem não se pode confiar. De facto, já tinha idade para ter juízo.

Resta-me uma esperança: que Trump perca as eleições!


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

MEO fado!

 

Há poucos meses, decidi mudar para um pacote mais económico de telemóvel, porque achava que estava a pagar demasiado para os consumos que fazia.

Porém, quando se liga para a MEO (se calhar para as outras operadoras é a mesma coisa) para tratar de um assunto com um operador, dão-nos música tempos infinitos e assim perdemos, de cada vez, mais de uma hora da nossa vida. Com esta tática, muitas pessoas desistirão, o que acaba por dar jeito à operadora.

No final do diálogo, quem nos atende pede uma avaliação, de 1 a 10, relativamente à sua prestação. Depois de várias chamadas - umas mais amistosas do que outras - em que tive de contar sempre a mesma história, uma funcionária, muito calma e muito simpática, disse-me que sim a tudo e que já estava a efetuar as mudanças.

No final, perante o pedido de avaliação, eu dei o máximo, isto é, 10, porque ia pagar menos, não precisava de perder mais tempo a ligar e a senhora transmitia confiança e competência. Eu estava radiante.

Pois bem, no mês seguinte, a conta que me chegou era quase igual. Tinham mudado o pacote, sim, mas mantiveram as subscrições que eu, inexplicavelmente, pagava e que aumentavam imenso a conta.

Mais umas horas perdidas da minha vida até conseguir anular as tais subscrições. 

Na última ligação que fiz, a primeira coisa que eu disse é que não me pedisse a avaliação final, a menos que pudesse também avaliar a MEO. 

E tenho pena, porque foi a única funcionária que resolveu bem o que eu legitimamente pretendia.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Quando uma hora é mais do que uma hora

 

Precisava de estar pronta às oito horas. Podia levantar-me às sete e meia. 

Quando vi as sete, que bom, posso ainda ficar mais meia hora.

Sete e meia. Só mais um bocadinho. Quase adormeço.

Oito menos um quarto. Ui! Tão tarde.

Levanto-me a correr, vou à cozinha e ponho o café a fazer.

Abro a janela da sala, como é costume. 

Estranho, a janela da casa em frente já costuma estar aberta.

Está fechada e é dia há bastante tempo. 

Eles lá sabem e não há horas certas para abrir janelas.

Vou buscar o telemóvel para ver se tenho mensagens.

Não terei tempo para responder.

Quero estar pronta às oito horas.

Olho o ecrã com o relógio que nunca se engana!

Seis e cinquenta?

Ainda? Olho mais uma vez.

Sai-me um oh! de alívio e de quase felicidade.

Confirmo: seis e cinquenta.

Não, não vou acertar o relógio do quarto!

 

"Todos somos só um"

 

We are all one 

 

It is because we feel that we are separate from nature that we also feel it is okay to manipulate it, pollute it, and cause it harm.

We project our inner turmoil onto the planet, causing outer turmoil.

Nearly all of the disasters of our time—war, famine, oppression, social injustice, environmental pollution, extinction—arise from this delusional belief that we have an existence independent of the world we live in.

All of this misery, all of this destruction, all of this pain and suffering, is caused by our failure to realize that there is no separation and that really we are all one.

 

Joseph P. Kauffman

 Postal enviado pelo Clube das histórias

 

A minha tradução (desculpem-me se houver falhas):

 

Todos somos só um

Sentindo-nos separados da natureza, sentimos que a podemos manipular, poluir, prejudicar.

Projetamos as nossas perturbações no planeta, causando perturbações alheias.

Quase todos os desastres do nosso tempo - guerra, fome, opressão, injustiça social, poluição ambiental, extinção - surgem desta crença delirante de que temos uma existência independente do mundo em que vivemos.

Toda esta miséria, toda esta destruição, todo esta dor e sofrimento são provocados pelo fracasso que é não compreender que não há separação e que, na realidade, somos um só".

 


domingo, 25 de outubro de 2020

Nem podia acreditar no que ouvia...

 

Tinha chegado aos 50 anos, sem nunca ninguém lhe ter dito que gostava dela. Também não se lembrava de o ter dito a ninguém. Nem à família, apesar de toda a sua dedicação. Não fora habituada a isso. Nem a abraços, nem a beijinhos. Em plena pandemia, nem lhes sentia a falta, porque não tinha sido educada com esses mimos.

Porém, não era uma pessoa fria. Sorria até bastante, embora muitas vezes de boca fechada. E guardava quase sempre alguma distância entre si e a outra pessoa, como se já adivinhasse os vírus atuais.

Habituara-se também a não partilhar o que lhe ia na alma. Guardava para si. Às vezes, apetecia-lhe chorar, mas se em casa lhe perguntavam o que se passava, logo dizia que era um cisco no olho. Não se falava mais do assunto e continuavam-se as tarefas, porque havia muito que fazer.

Um dia, foi a uma consulta ao hospital e reconheceu uma enfermeira lá da terra. Lembrava-se dela quando era pequena. Nos tempos em que se brincava e corria nas ruas. 

Começaram a conversar e tornaram-se amigas. Um dia, a enfermeira disse-lhe: gosto muito de si.

Nem podia acreditar no que ouvia. Uma pessoa a dizer-lhe que gostava muito dela. Nunca lhe tinha acontecido. Ficou sem jeito e conseguiu dizer que estava muito feliz com aquela amizade.

Em casa, repararam que andava contente.

E andava, de facto. Quem sabe - pensava - se seria um sinal que viria a encontrar o homem com que sonhava há tanto tempo. E lhe dissesse: gosto muito de ti; amo-te; és a mulher da minha vida; demorei a encontrar-te, mas vieste ...

Mas nada disse, nem à jovem enfermeira de quem se tinha tornado amiga.



Quando 10 ainda são 9!

 

Depois do pequeno almoço, gosto de abrir o computador e ficar na mesa da cozinha, ainda com cheirinho a café.

Olho para o pequeno relógio que tenho bem perto: 10 h.

Olho depois para o écrã do computador: 9 h, que é a hora certa.

Às vezes dava jeito que não fosse só uma vez no ano!


sábado, 24 de outubro de 2020

'Fresco' em dia fresco!

 

Talvez por estarmos no outono,

hoje lembrei-me da palavra 'fresco/fresca', que tem diferentes sentidos, consoante o contexto.

Há uns anos, fiz um trabalho sobre esse vocábulo. 

Costumo guardar essas coisas (embora atualmente me esteja a despojar de muitas delas).

Agora dava-me jeito, mas deve estar gravado noutro computador mais antigo. 

Também não faz mal, porque as situações são recorrentes no nosso dia a dia.

 

 

Vejamos, então, algumas ocorrências da palavra 'fresco'. 

Haverá muito mais exemplos, e até melhores, de certeza:

 

 

- Adoro pão fresco. Se estiver a sair do forno, ainda melhor (quente).


- Este vinho branco é melhor quando está fresco (frio).

 

- Vou vestir o casaco; hoje está fresco (tempo frio).

 

- A sopa de nabos está fresca e cheira bem (acabada de fazer).

 

- Gosto de me levantar pela fresca para organizar as minhas coisas (de manhã cedo).

 

- Tu és fresco, és! (habilidoso, malandro).

 

- É bonito vê-los assim a sorrir um para o outro: parecem casados de fresco (recém-casados). 

 

- Cada fresco do teto da Capela Sistina, em Roma, tem um significado diferente (obra pictórica).


- Prefere ficar em casa em sossego; diz que ainda está tudo muito fresco (recente).

 

- É bom ir ao quintal e trazer hortaliça fresca (acabada de colher).


- O peixe fresco português é do melhor que há (não congelado).


 

E pronto, hoje está fresco e ficamos por aqui.

 

Vou aquecer a sopa de nabos. Espero que esteja boa, como ontem, quando estava fresca!



 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Os pássaros de Trump

 

Hoje, durante a madrugada, vi parte do debate entre os dois candidatos às eleições de 3 de novembro à presidência dos Estados Unidos da América.

Acho a postura de Trump irritante e provocadora, apesar de se ter moderado bastante e seguido regras que lhe foram impostas. Desta vez, deve ter sido mais bem aconselhado a domar os seus instintos de lançar constantemente farpas e teorias rápidas dos seus tweets, sempre à espera de muitos likes.

Um dos temas agendados foi o Ambiente, como não podia deixar de ser num país poluidor e que tem rasgado acordos como o de Paris.  Trump, na sua intervenção, disse gostar muito do ambiente e da água limpinha!!!!!

Ora, melhor e mais informada síntese qualquer leigo em leis ambientais, comigo incluída, não faria, apesar da necessária e comum preocupação ambiental!!!!

Sobre a Energia Eólica disse não concordar com ela porque os aerogeradores matam os pássaros. Não sei se tal acontece, mas as vantagens desta fonte de energia renovável parecem inquestionáveis nos países onde existe.

Não o sabia a olhar para o céu para ver as aves!!!!

E oxalá voe do poder porque ele é a prova de que uma única pessoa pode intoxicar milhões de outras. Umas já no poder, outras a namorá-lo; umas mais frágeis, outras poderosas...

Se Trump perder as eleições, até terá mais tempo para olhar os pássaros. Ou para se mirar, narcisicamente, na água limpinha!