Ontem, vi o começo de uma notícia sobre a criança cuja ama foi filmada a dar-lhe banho de água fria. Pelos vistos, batia-lhe no rabo ao mesmo tempo. Quando ouvi o choro aflito e sem defesa do bebé, logo mudei de canal. Confesso que aquele choro me perturbou, ficou-me na cabeça e entristeceu-me a noite.
Haver coragem para filmar uma cena assim? Seria por vingança ou posterior acusação? Ter coragem para assistir a tal cenário, sabendo que um ser indefeso estava em sofrimento não justifica o ato, na minha opinião. Mais justo seria retirar de imediato a criança das mãos da mulher que a maltratava.
Por toda a parte, há crianças que sofrem. E que sofrem muito. E não devia ser assim.
São crianças quase andrajosas de Gaza cujas imagens nos entram em casa no dia a dia. E todas aquelas que não vemos, mas que sabemos que existem e que sofrem.
São as crianças que chegam em barcos cheios e periclitantes sobre as ondas e, como já aconteceu, morrem na praia.
São as que sofrem violações e outras formas tremendas de violência, expostas a situações de terror e morte perante a indiferença, tantas vezes, de governantes poderosos do mundo que, com todas as armas e bagagens, não se desviam nem um milímetro da ambição de salvar apenas a sua própria pele.
Felizmente, há crianças felizes, apesar do caos que vai grassando em muitas frentes, mas não podemos esquecer as que têm fome, sede e que vivem sem conhecer o direito mais que devido de ir à escola, de brincar, de viver em paz e sem bombas a rebentar-lhes a vida e a dos familiares que as deixam sós.
Fernando Pessoa disse que ‘o melhor do mundo são as crianças ‘. O pior é que milhões delas conhecem sobretudo o que o mundo tem de pior para lhes dar.