domingo, 28 de abril de 2024

Hoje procurei -te na cidade com mar ao fundo

 

Sabia que estavas lá 

Mas bem mais próximo do que há uns anos

Em que os comboios se enchiam de jovens para mergulhar em ti

No calor da idade e do verão 

Agora aproximas-te cada vez mais 

Quando tantas pessoas se afastam umas das outras

Talvez porque se sentem também afastadas

E não ousam aproximar-se

Com medo de mais um desencantado afastamento


Hoje procurei-te 

E sabia que estavas lá 

Com todas as pedras para que não avances mais

Havendo certeza de impossíveis recuos.


É muito difícil dizer amo-te

Mas abeirando-me de ti

Quero pedir-te

Que não te aproximes mais

Porque o amor não é invasão 

Eu sei que estragámos 

E continuamos a estragar muito do que te engordou

Fazendo-te penar

Peço-te desculpa pela parte que me toca

Mas não impeças ninguém de te vir visitar 

No lugar em que tu moras

Sem extravasares marés de culpabilidades

Ao fundo desta cidade pequena e ‘rural’


Perdemos muita coisa ao longo da vida

Mas a liberdade de te olhar onde moras será um ganho

Que nos ensinará a proteger-te e a dizer mais facilmente 

‘Amo-te, Mar!’


sábado, 27 de abril de 2024

A favor de mim falo e não só, é claro!

 

O título parece um tanto vaidoso, porque o mais comum é dizer-se ‘contra mim falo’. Há dias que penso nisto e hoje resolvi arriscar, não só a pensar em mim, mas em muitas mulheres do meu tempo (não gosto desta expressão, mas à falta de melhor…).

Pois bem, antes do 25 de Abril, a grande maioria das raparigas não prosseguia estudos para além da 4a classe e bastantes até ficavam aquém desse ano de escolaridade. Umas porque tinham de trabalhar para a família, outras porque o destino da mulher seria aprender a ser boa dona de casa e a ser cuidadora - dos filhos, do marido, dos mais velhos… e para isso entendia-se que não eram precisos estudos. O pensamento do governo vigente era até que quanto menos se soubesse, mais submissão  (palavra que detesto) havia, o que dava bastante jeito à ditadura.

Aqui entra a D. Lucinda, a minha professora da 4a classe que muito insistiu para que eu continuasse os estudos. De nada valeu, mas desse elogio nunca me esqueci. E talvez ficasse a germinar, porque uns anos mais tarde retomei os estudos e, felizmente, com sucesso, porque concluí o meu curso na Faculdade de Letras do Porto.

Conheci outros casos que, como eu, apesar de os estímulos serem escassos, não desistiram do sonho de  estudar e fazer outras coisas de que também gostavam e a que tinham direito por mérito próprio. 

Porém, não foi nada fácil sobretudo frequentar turmas em que os outros alunos eram muitíssimo mais novos, fazer exame no liceu em que tudo era desconhecido, etc, mas até à Faculdade, a cujo exame de admissão dispensei, cada aprovação era um passo em frente e um obrigada tácito à minha professora por ter acreditado em mim, ajudando-me a acreditar também mais um bocadinho, num tempo em que o elogio era fugidio, para não dizer ausente.

Talvez por causa disso, às vezes na minha vida sinto ter chegado tarde, mas fui chegando a algumas coisas para as quais não parecia estar predestinada, digo para mim própria em horas de mais otimismo.

E tantos casos houve semelhantes ao meu, sobretudo de raparigas que gostavam de ter continuado a estudar, mas não o puderam fazer na devida altura, faltando-lhes a força de recomeçar mais tarde e tornando a sua vida bem mais triste.

Felizmente, para além de falhas e erros, todas as crianças e jovens têm o direito e o dever de frequentar a escola, um dos maiores bens que o 25 de Abril nos trouxe. E, apesar do cansaço justificado de muitos professores, o trabalho educativo que se faz nas escolas é imenso e com imenso amor. Mas tantas vezes desconhecido. O que vale é que o estímulo fica em muitos alunos, como também me ficou o da minha professora da 4a classe.


sexta-feira, 26 de abril de 2024

Era uma vez na Alemanha


Antes do 25 de Abril de 74, era eu menina e moça e a minha irmã também, fomos passar um tempo a uma cidade no sul da Alemanha, onde tínhamos um tio. Estava casado e pertencia então a uma família alemã cujo patriarca era culto, gentil e simpático, com uma larga experiência de vida e que havia participado na Segunda Grande Guerra.
A língua que todos usávamos era a francesa e à noite, ao jantar e ao serão, falávamos de variadas coisas, o que para nós também era novidade, uma vez que estávamos mais habituadas a ver a televisão, na época canal único.
Uma vez, falávamos de Portugal e o velho e simpático alemão referiu a ditadura que então vivíamos no nosso país. A minha irmã e eu, na nossa ruralidade - como diria o prof. Marcelo - reagimos contra essa afirmação. Como no tempo a confirmação de qualquer ideia estava sobretudo nos livros, ele foi buscar uma enciclopédia e leu o excerto que afirmava a existência de uma ditadura em Portugal.
Quando chegámos ao nosso país, o diálogo daquela noite foi-se avivando em muitos momentos nos quais nem reparávamos antes, porque assim tínhamos sempre vivido, sem qualquer discussão sobre o assunto. 
Alguns anos passaram e Abril de 74 floriu e mudou Portugal. De facto, tínhamos vivido numa longa ditadura de 48 anos que se tinha enraizado demasiado ao ponto de algumas ramificações continuarem a existir.
O velho e simpático patriarca alemão já morreu há muito tempo, porque a vida humana é finita. A Liberdade, essa, esperemos que não.


quinta-feira, 25 de abril de 2024

Um bom sinal? Oxalá que sim.

 

Hoje, no final das celebrações do 25 de Abril, na Assembleia da República, os deputados do PS cantaram

‘Grândola, Vila Morena’ e só as bancadas do Chega e CDS se ausentaram, tendo ficado todas as outras. 

Oxalá seja um sinal de maior união. Se assim for, é bom para a democracia.




quarta-feira, 24 de abril de 2024

Venham mais cinquenta!

 






terça-feira, 23 de abril de 2024

A propósito do pássaro que já não vive na minha cozinha


Hoje cheguei à cozinha 

E não  ouvi o pássaro cantar

Nem esvoaçar na gaiola

Nem baloiçar de alegria


Jazia inerte no chão frio da gaiola

De olhos abertos mas não para a vida que eu queria


Há semanas que somam tristezas

A vida das palavras foge várias vezes

Gravando solidões

No emaranhado triste da interpretação

Do que é dito e do que é calado


E há amanheceres assim

Chega-se à cozinha 

Desejando o cheiro a café acabado de fazer

E vê-se um pássaro morto na gaiola


Como ir ao encontro de um abraço

E ouvir um grito surdo de desilusão 


Abri a janela.

Para um possível e último voo do pássaro

Levado nos braços carinhosos de um anjo 


Fiquei a olhar pela janela

E esqueci - me do café quente.



Os dias têm várias estações, mas não só do tempo!

 

Hoje de manhã cheguei à cozinha e não vi o canário a saltar ou a baloiçar-se alegremente, como de costume. Fiquei triste. Jazia no chão da gaiola. Vivia cá em casa desde a morte da minha mãe. Tinha vivido na casa dela longo tempo. Talvez tivesse morrido de velhice. Nunca gostei de gaiolas, e hoje muito menos. Disseram-me há pouco com um sorriso: Foi ter com a antiga dona. E o sorriso, que também é consolo, soube-me bem. E revi as mãos da minha mãe a pôr bocadinhos de miolo de pão ou pedacinhos de maçã na grade da gaiola.

Ainda tenho bem presentes as imagens de ontem, na Biblioteca da Escola Filipa de Vilhena, no Porto, onde apresentámos, a Cristina Pinto e eu, o nosso livro das Fadas a duas turmas do sétimo ano de escolaridade. Os miúdos mostraram agrado, interagiram, mostraram curiosidade sobre os materiais, etc. Foram momentos bons e felizes.

Sempre que posso, não consigo desligar-me das notícias. E hoje, tal como ontem à noite, fala-se muito dos nomes escolhidos, pelos diferentes partidos, para cabeças de lista das próximas eleições europeias, mas de quem se fala mais é do jovem comentador, atualmente na SIC, para representar o partido do governo. Ainda não tem 30 anos, não tem experiência política, mas são-lhe apontadas virtudes como a da inteligência. E achei piada ao primeiro ministro afirmar que Sebastião Bugalho representa na perfeição os jovens que decidem ficar em Portugal. Porém, acrescento eu, afinal também querem mandá-lo para fora! 

Nunca sabemos como começa, decorre e termina o dia. Espero ver, logo às 8 da noite, na RTP 3, o programa ‘Os filhos da madrugada’ da Anabela Mota Ribeiro. Os convidados nasceram perto do 25 de Abril de 74 e falam da sua experiência de vida. São documentos interessantes e ainda mais nos dias que correm. Para lembrar também que os dias têm diferentes estações e, felizmente, podemos falar delas!


segunda-feira, 22 de abril de 2024

Aqui se fala de uma menina cujo pai tinha um carro e da Berta que nunca nele entraria

 

A minha escola primária ficava a mais de um km de casa. Eu ia a pé, como a grande maioria das crianças, fizesse sol ou estivesse a chover. E os poucos transportes públicos não entravam sequer na equação. Lembro-me de uma menina cujo pai tinha carro e tempo de a levar e trazer. Só a menina entrava no carro e, mesmo quem morava muito perto nunca tinha a sorte de ter boleia. Havia meninas vizinhas que sonhavam chegar a casa de carro. Nem que fosse só uma vez.

Um dia, vinham duas meninas a pé da escola. Uma delas era a menina cujo pai tinha carro, mas, nesse dia só muito dificilmente chegaria a horas, daí o atraso.  Nisto, o carro do pai da menina parou e ela entrou logo de seguida. A outra menina, sorrindo ingenuamente, dirigiu-se com ela também à porta. Seria naquele dia que chegaria de carro a casa. Porém, a porta logo se fechou e o carro arrancou. A menina viu-o desaparecer e continuou em desconsolo o seu percurso a pé. 

Dentro da escola, as aulas decorriam como sempre. As duas filas da frente eram ocupadas pelas meninas que iam fazer o exame de admissão ao liceu, tal como a menina que tinha entrado no carro do pai e fechado logo a porta sem quaisquer palavras de despedida para a menina que ficará em terra. O grupo  sobressaía pelas batas branquíssimas de entremeios de rendas. 

Nas filas a seguir, ficavam as meninas remediadas, de rostos bastante bem alimentados, mas que não iam continuar a estudar. Seguiriam o caminho das avós e das mães. Nas filas de trás, estavam as meninas mais pobres, algumas delas descalças, mal vestidas e muito magras. Eram as que menos sabiam as matérias e as que mais apanhavam com a régua porque não faziam os deveres e não aprendiam a fazer as contas. Eu estava no grupo das remediadas e numa das filas atrás de mim estava a Berta. Nunca mais a vi depois desses tempos de escola primária antes do 25 de Abril de 1974. Não sei se a reconheceria se a visse agora. Quase de certeza que não. Nem ela a mim. Seria mais fácil o reconhecimento se houvesse o espírito de entreajuda, e não degraus a fechar ou a descer cada vez mais.



domingo, 21 de abril de 2024

O regedor Amado

 

Uma das figuras da minha aldeia, na minha infância, era o regedor. Nesse tempo, nunca lhe conheci o nome. Nem quase ninguém, acho eu. Era o regedor e bastava. Para o baixo mas entroncado, a sua voz forte ouvia-se à distância. Só a calava se queria chegar a qualquer lugar pela calada e assim surpreender o infrator.

 Quase toda a gente tinha medo do regedor, porque ele tinha o poder de dar voz de prisão. Por isso, quem roubava alguma galinha, ou hortaliças dos campos, ou fruta das árvores, ou chamava nomes a alguém, etc. logo se dizia que ia ser chamado ao regedor.

O regedor era casado e tinha filhos. A mulher andava por casa e de avental; os filhos escondiam-se no meio do milho e atiravam pedras. Sabia-se que eram eles mas, como eram filhos do regedor, ninguém os acusava. O melhor era não fazer queixa, porque ele podia ficar zangado, saber de coisas que ninguém sabia, inventar outras e, assim, tramar os queixosos, sobretudo os mais fracos.

O tempo foi passando, chegou o 25 de Abril e o regedor perdeu, naturalmente, a função. Recolheu a casa e quem o via a tratar do quintal dizia que parecia mais pequenino e que a terra lhe tinha colhido a voz.

Poucos anos depois, morreu. Desde que tinha deixado de ser regedor, as pessoas da aldeia chamavam-no pelo nome e, no dia da sua morte, diziam umas às outras: Morreu o Amado. 

Dizem que alguém acrescentou num desses momentos: Morreu o Amado. Morreu aquele que nunca o foi.


sexta-feira, 19 de abril de 2024

Mais cego é quem não quer ver...

 

Ouvi o sr primeiro ministro dizer que será ‘clarissimo’ hoje à tarde na AR, como, aliás, sempre foi.

Referia-se ao tema do IRS que o governo diz reduzir muito e que a oposição e os media dizem ser só um pouquinho para a maioria dos portugueses. E, apesar das contas, da argumentação, da justificação, da baralhação, etc, as vozes do poder levantam-se, apontando para uma corrente ‘cristalina’ que os outros querem manchar.

E nem o benefício da dúvida é dado. E nem a possibilidade de reconhecer algum erro parece estar em cima da mesa. E nem a referência às contas do governo anterior é admitida. 

A bela casa de Espinho do sr primeiro ministro fica junto ao mar. Pudesse ele parar um bocadinho e olhá-lo.  Não resolvia todas as ambiguidades, mas tornaria com certeza tudo um pouco mais cristalino.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Marque já! Faça já a sua reserva! Não falte!

 

Não sei se por cansaços acumulados, quando recebo mails que parecem acelerar o tempo e empurrar o destinatário para uma resposta rápida - e afirmativa, é claro - o que faço quase sempre é apagar, ainda que a proposta até tenha interesse. Nem me apetece continuar a esmiuçar muito. É como se ouvisse o que gosto cada vez menos de ouvir: Faz! E agora! E tem de ser depressa!

Cada vez gosto menos de agir sob pressão. Já bastaram e bastam as obrigações e deveres a cumprir em muitos dias.

Hoje, quando abri o mail, logo vi o apelo de uma ‘ativista literária’, a quem reconheço muito mérito pelo trabalho realizado, mas ler numa proposta de atividades e quase logo ‘Não falte’ tira-me a vontade de aderir, seja gratuito ou seja a pagar.

Compreendo que estas técnicas publicitárias surtam efeito na maioria dos casos. E eu, embora faça zapping nos intervalos publicitários, reconheço valor e criatividade sobretudo a frases  - quase sempre curtas  e eficazes - que vendem um produto e ficam na memória.

Mas não, não me digam para marcar já, reservar agora, encomendar no momento, não faltar ao convite… é que fico logo sem vontade de ler ou ver o anúncio. Serei a única pessoa a fazê-lo? De certeza que não. Não sei se também por cansaços acumulados.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

‘Milicanquices’

 

Nunca vi esta palavra escrita, mas ouvi-a muitas vezes quando era criança e adolescente. Hoje procurei-a num dicionário online, mas também não estava lá.

Pois bem, a minha mãe usava-a muito quando nos via, a mim e à minha irmã, a fazer coisas que para ela não tinham importância, em vez de fazermos o que ela entendia que devíamos fazer.

Por exemplo, mandava-nos regar os vasos  - as plantas sempre foram essenciais para a minha mãe - e se demorávamos a recortar, por exemplo, fotos de atores e atrizes de cinema do JN, que o meu pai comprava todos os dias, logo ouvíamos. ‘Acabem com essas milicanquices’.

Ontem, domingo, estive em casa. Gosto muito de ficar em casa ao domingo. Organizo a mente, ao mesmo tempo que organizo a mesa da sala agora com trabalhos para apresentar numa escola, a propósito de um livro infantil. A minha mãe diria que eram milicanquices. Ou talvez não. As pessoas mudam com o tempo. Tenho pena de já não poder falar com ela sobre o assunto. E de lhe perguntar se foi ela que inventou a palavra Milicanquices. Cá para mim, foi porque as palavras para ela também eram essenciais, embora não tanto como as plantas.


domingo, 14 de abril de 2024

Afinal, a mentira tem perna comprida!

 

Hoje, as notícias focam-se nos ataques do Irão a Israel. Ontem, prevalecia o tema da baixa do IRS para muitos portugueses e que foi promessa afirmada e reafirmada pela AD em campanha eleitoral. A verba de 1500 milhões de euros era tentadora e cativou muitos votos. Quem não gosta que mais algum dinheiro lhe entre na conta?!

Mas, afinal, havia outra verdade maior que não entrou nesta verdade pequenina do governo e que fez passar por verdade grande e sedutora: 1300 milhões  já vinham do anterior governo e já eram um dado adquirido. Para o ‘choque fiscal’ ficariam apenas 200 milhões de euros.

Ainda assim, o líder parlamentar veio (que remédio!) reafirmar que as pessoas é que não tinham percebido, não tinham estudado, não tinham lido com atenção o seu programa. Todos tinham estado distraídos, menos o governo. 

Esta situação fez-me lembrar a história de um homem que todos os meses dava uma quantia aos netos. Chegado o Natal, deu-lhes a mesma quantia, num envelope bonito e diferente, dizendo que era o seu presente de Natal.

Como acho piada às palavras, verifiquei que o líder parlamentar, na defesa do governo e sobretudo do primeiro ministro, usou a palavra ‘cristalino’, no mínimo cinco vezes, para atestar que o governo estava certo e que todos os outros estavam errados, apesar das imagens e das afirmações registadas.

É pena quando ao poder vem colada tanta sobranceria e vaidade. E a mentira, que se diz ter perna curta, em política, e como mais uma vez e neste caso bem  se comprova, entra de perna comprida.



quarta-feira, 10 de abril de 2024

Fica, ambiente de trabalho!


Há dias que estou sem computador. E, embora haja dias em que não abro o computador, acho que a vida é bem melhor com computador e a funcionar bem. Para mim, é claro.

No fim de semana, ao abri-lo, desmaiou-me. Apagou-se, tentei reanimá-lo, desligando e ligando o cabo, carregando delicada ou apressadamente no botão, mas nada. Fui à loja onde costumo ir. Com novo cabo, de repente, vi o que eu queria: o computador a ganhar vida e a acender-se. Fiquei feliz e vim logo para casa. Logo que pudesse, poderia utilizá-lo, acedendo ao ambiente de trabalho, onde guardo textos que me são queridos e importantes.

Ontem, ao fim da tarde, teria o prazer de voltar a abrir o computador e abrir-me ao meu mundo que também lá mora. Mas, qual quê. Os sinais de vida haviam de novo desaparecido. Não podia crer. E agora? E os textos urgentes para rever? E a história para continuar? Por que raio não faço cópias de coisas que moram no ambiente de trabalho e que podem desaparecer de repente?! Apetecia-me dizer palavrões para aliviar.

Neste momento, o dito - desculpa chamar-te assim, meu necessário e amigo computador - vai ser substituído,  

A vida das pessoas e das coisas é finita, mas, querido e velhinho computador, não leves contigo o meu ambiente de trabalho. 

À hora do almoço, vou ligar para a loja e vou saber como estás. Desculpa, se estou a ser egoísta, mas o que me preocupa mais são os trabalhos do ambiente de trabalho. Ao longo destes anos, ajudaste-me muito. Obrigada. Mas, deixa-me confiar que à hora do almoço vou saber que o que está no ambiente de trabalho continua a alimentar a minha vida.


domingo, 7 de abril de 2024

Ontem, respondi a uma personagem!

 

Faço parte de um grupo de amigos que gosta de ler e de escrever e que costuma participar em coletâneas, nomeadamente, da editora Lugar da Palavra. É uma prática já com mais de uma dezena de anos. Por exemplo, em dezembro, é publicada uma coletânea sobre o Natal; houve já uma edição de doze volumes com o título Mimos de…, dedicados a todos os meses do ano; no momento continua a realizar-se Anjos da prosa e da poesia, etc.

Pois bem, nós escrevemos os nossos textos e partilhamo-los entre nós e são momentos bons a que já nos habituámos.  Quase sempre há elogios, mas também sugestões, deteção de gralhas, etc. 

E é curioso que, apesar de ser uma coisa restrita, há quem faça uma análise ao pormenor, de consolar a alma. 

Como atualmente estamos a escrever para a coletânea Anjos da prosa e da poesia, um dos elementos do grupo falou do momento que estava a viver, através de uma personagem que criou e cujo nome achei sugestivo. Ora, não sei se por causa do nome, dei a minha opinião sobre o texto, escrevendo à personagem e não à autora do texto. Deu-me muito prazer fazê-lo. A personagem também já me respondeu e parece que gostou, assim como ‘a outra metade’, isto é, a autora do texto.

São pequenas coisas que, se lhes acharmos piada, alegram a vida. E, ao fim e ao cabo, todos nós temos um bocadinho de personagem, apesar da realidade que nos convoca a toda a hora. Não acham?


Bom fim de tarde de domingo,


P.S. Em breve, envio o regulamento para a coletânea Anjos da Prosa e da Poesia. 



segunda-feira, 1 de abril de 2024

Se eu tivesse um diário...

 

 ... dispensaria o 'Querido diário' e hoje escreveria:

Nesta Páscoa, tenho a família cá em casa. Antes da sua vinda, fiz uma lista para o supermercado para que não me esquecesse de nada. A folhinha foi deixada em cima da mesa da cozinha e fiz muitos acrescentos, sempre que me lembrava do que cada um gosta.

Na Sexta-Feira Santa, o mais pequenino fez anos e a família de Londres chegou ao aeroporto F. Sá Carneiro, cheiinho de emigrantes de visita à terra e de muitos turistas em busca de novas terras.

Levei um raminho de camélias do jardim para a minha neta e pus na cadeirinha do carro. Ela gostou da ideia e queixou-se da cadeira não ser de pessoa normal, segundo ela, na graça dos seus oito anos.

Chegados à festa de aniversário, eis a correria feliz no reencontro dos primos e amiguinhos. A minha neta vivia momentos sempre desejados: brincar com os primos portugueses, o que só acontece de vez em quando,  como com os primos americanos. Às vezes, fica triste por não ter família mais perto.

E ver crianças contentes e felizes é, por si só, uma festa.

Mas as festas, para mim, não são o meu forte. Sobretudo no antes. Aprecio muito mais o durante e ainda mais o depois. Sobretudo se estou ligada à preparação. Quando sou apenas convidada, o constrangimento é menor.

Mas foi uma festinha bonita e ainda mais bonito foi ver o meu neto, que fazia três anos, a correr feliz.

Ontem, dia de Páscoa, veio o compasso logo de manhã. Não contava com a sua vinda tão cedo. Ficámos no hall da entrada, ainda com sacos de presentes da véspera. Eram simpáticos os elementos da visita pascal. Perguntaram aos meninos se queriam tocar o sino-campainha. Claro que sim. Achei bem o pequeno gesto e lembrei-me de igrejas bastante vazias e ainda mais de jovens.

À tarde, foram a uma caça ao ovo, em Gaia. Vinham divertidos e os meninos com desenho de um coelhinho nas carinhas larocas.

Preferi ficar em casa. Gosto de intervalos em que organizo a casa e a mente. Quando chegaram, havia arroz de polvo e pataniscas. Gostaram e fiquei contente.

Hoje, foram a outro lugar de diversão com priminhos. Para memória desta Páscoa ainda a decorrer e até agora feliz. Felizmente.

Com a casa silenciosa durante horas, escrevi mais uma página de uma história que estou a escrever com uma amiga e parceira de escrita.

Em breve, terei de novo a casa cheia e vou querer ouvir aventuras da tarde.

Já sei o que vou fazer para o jantar. Para já, vou tirar a loiça da máquina e descascar cebolas e cenouras.

PÁSCOA FELIZ!