Eu tinha chegado à cidade com mar ao fundo. Fui tomar um café. Por dentro do balcão, o homem magro e sempre lesto repetia o habitual 'obrigado'. Nunca parava para que os clientes não esperassem. Era a hora da meia de leite e da torrada ou croissant.
Nas mesas, casais de meia idade com bom ar e bom peso iam saudando, sorridentes, outros casais conhecidos ou amigos com idênticos ar e peso que iam chegando. Quando saíssem, talvez dessem as mãos e sorrissem. E ainda melhor se fosse um para o outro.
Reparei que uma freira com roupa mais leve do que o habitual se sentava a uma mesa onde estava outra mulher com ar ascético, o que não impede o prazer de bons sabores logo a começar o dia. Num olhar e pensamento mais rápidos, diria que elas pareciam destoar. Ou eu também. E dei comigo a interrogar-me se este verbo ainda tem cabimento nos dias de hoje.
Felizmente já não se destoa tanto como antigamente. Quando uma qualquer diferença era notada, como a cor de pele, a idade, a maneira de vestir, etc, logo se olhava e os mais indiscretos comentavam nem que fosse em surdina, que não deixava de ser ruidosa.
Fui pagar à caixa. O homem magro sempre em movimento agradeceu como fazia a todos os clientes. E, dando-me o troco, olhou rapidamente para mim, como também fazia com todos os clientes, e 'um dia feliz', disse ele.
Um domingo também feliz para todos, digo eu também, embora não nos possamos olhar. Se pudéssemos, seria bom que fosse com mais tempo e mais vagar.