terça-feira, 16 de julho de 2024

As histórias nunca se acabam, mas esta fica por aqui!

 

Quando os filhos ficaram independentes, Nilda ficou a viver só e retomou um trabalho antigo de muitas mulheres da terra: enchedeira de peças em filigrana. Assim, ganhava mais algum dinheiro para si e para ajudar os filhos. 

Como trabalhava em casa,  ouvia os programas de rádio de que gostava e habituara-se também a seguir podcasts com os quais aprendia muito. Se ouvia falar de uma exposição que lhe agradava ou de um filme de que gostaria, ia nem que fosse sozinha, no que há uns anos nem pensaria sequer. Com o tempo e as experiências - umas boas outras más - foi aprendendo a dizer que era bom viver e muito havia para conhecer.

À semana, ia buscar aos ourives os brincos, pendentes, etc , peças que vinham vazias no seu interior, e devolvia-as cheias com os esses de filigrana muito fininha que formavam desenhos pequeninos e delicados que iam resultando de um trabalho minucioso em que as suas mãos hábeis eram ajudadas por uma tesoura pequenina e  uma pequena buxela.

 Para as devolver, depois de cheias com a filigrana, juntava-as num embrulhinho para que os esses de filigrana não se soltassem e saía segurando-o cuidadosamente na mão com as peças para serem soldadas na oficina. Quando se tratava de corações, dizia que levava o coração cheio

Um dia, tropeçou, caiu, o embrulhinho desfez- se e a filigrana que tinha meticulosamente inserido no molde espalhou-se pelo chão. Não se lamentou. Recuperou tudo que pôde e devolveu ao ourives, dizendo, sem drama, o que lhe tinha acontecido. O ourives ouviu-a com atenção e ofereceu-lhe  um coração de prata dourada, como seria o que lhe havia caído das mãos. 

Nilda ficou feliz e disse para si: vou usá-lo no próximo domingo.


4 comentários:

  1. Boa tarde
    A imaginação poderia ir muito mais além mas acabou muito bem.

    JR

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    1. Fui escrevendo todos os dias, sem saber o que iria acontecer a seguir. Gostei muito de o fazer e como vi que houve bastantes leitores, ainda mais feliz fiquei.
      Não sabia como terminar, mas, como a minha terra é terra de ourives, acabou com um coração de filigrana. Bem merecido, acho eu.

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  2. espero que o titulo não corresponda ao final da historia....

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  3. Oh, obrigada! Fico contente pelo seu desejo, mas, por agora, ficará por aqui. Pode ser que a retome um dia.
    Feliz fim de tarde

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