Já no aeroporto de Gatwick, cheguei à fila da TAP para regressar ao Porto. Do outro lado da fita separadora, vejo um jovem triste lendo e escrevendo no telemóvel. Parecia estar a receber uma má notícia. Cerrando os lábios, os olhos enchem-se de lágrimas, que tenta conter e disfarçar, limpando-as com gestos rápidos.
Fito-o, mas logo desvio o olhar. Estou a ser indiscreta, penso para mim. Não resisto e volto a fixá-lo. Apetece-me sorrir-lhe para lhe mostrar solidariedade.
Deixa-o em paz, Maria, não és a Madre Teresa de Calcutá. Ele prefere passar despercebido, continuo a dizer para mim.
Reparo que ele repara que o observo e desvia o olhar.
Mais uns passos e deixo de poder olhá-lo de frente pelo evoluir da fila.
Deve ter ficado aliviado, continuam a dizer-me os meus botões.
Já no avião, vejo o rapaz das lágrimas a entrar. E mais surpresa fiquei quando se sentou precisamente a meu lado - ele do lado da janela, eu no lugar do meio.
Que coincidência, pensei eu.
Já de cinto apertado, ousei perguntar-lhe:
- Are you ok?
Sorriu, respondeu que sim e acrescentou que ‘a friend’ tinha mudado de cidade.
Sorri-lhe.
Passado algum tempo, já no ar, ele dormia a bom dormir com o rosto apoiado na camisola que encostou à janela, por onde eu via o céu azul-avermelhado de fim de dia.
Como o assento do lado do corredor estava vazio, mudei-me para lá.
Assim, ele tinha mais espaço para esticar as pernas compridas e, mais confortavelmente, continuar a dormir. E, só ele sabe, talvez a sonhar.
Foi uma tristeza que, na aparência, foi vencida pelo sono (talvez nem fosse tão grande; ou foi a descida da adrenalina a provocar a sonolência). E a Maria deu espaço.
ResponderEliminarE gosto que volte a casa. Embora, neste conversar, a distância seja uma espécie de constante matemática. Acho que gosto por si, penso que revê as suas coisas e as suas plantas, e há todo um mundo de pertença que retoma.
Sim, uma tristeza juvenil que muitas vezes é bem maior do que parece, mas que um bom sono também ajuda a afastar.
EliminarA minha mãe, que adorava estar em casa a tratar, dentro e fora, das suas coisas, exclamava muitas vezes: minha casinha, meu lar!
E não é que também muitas vezes repito a expressão??
Um dia bom, querida Bea.
Sentimento compreensivo. O meu elogio
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Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e devaneios poéticos
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Também era fácil no momento, amigo Ricardo!
EliminarUm dia bem poético!
São os "contratempos" ou as situações do dia a dia. Gostei de ler:))
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É preciso acreditar...
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Beijos, e uma boa noite.
E também as amizades e paixões juvenis - que causam desgostos, mas também alegrias.
EliminarUm beijinho, Cidália