Ela dorme a sesta - mais longa do que me parece necessário, mas logo me vêm à memória as suas palavras: - cada um sabe de si.
No sofá antigo e baixinho do velho quarto da costura, leio versos breves de uma jovem poeta - Lígia Silva, que trabalha numa loja de bombons.
Oiço chamar.
Filha, por que está a luz acesa?
A luz é do sol. Mãe, não podemos apagar a luz do sol.
Pensava que era de noite.
É de dia, mãe, e o dia está bonito. Posso abrir as janelas do quarto?
Hoje é o Dia da Mãe?
Sim, mãe.
Deixa-me descansar mais um bocadinho. A luz faz-me mal à cabeça.
Volto a sentar-me onde estava. Abro agora o livro de Teolinda Gersão que também tenho entre mãos.
Um gato, de vez em quando, empoleira-se no parapeito da janela e estende-se, dormente, ao sol.
As camélias vermelhas baloiçam na brisa.
Que passa na tarde em liberdade.
E logo vejo a minha mãe a regar as plantas de manhã cedo,
a costurar na velha máquina Singer,
a entrar a casa com uma cesta de hortaliças acabadinhas de colher,
a fazer os rolinhos de bacalhau, o guisado a saber a cominhos, o bolo de bolacha como nunca mais vi nenhum...
Como tudo nos ficou na memória.
Volto ao presente.
Sim, mãe, vou já.
Não, mãe, ainda não é noite,
mas, mãe, não me peça para apagar a luz do sol.
Lindo. Lindo
ResponderEliminarMomentos breves que se vivem e nos quais só nós vamos reparando.
EliminarAdoro ✨🙏
ResponderEliminarQue bom, Gracinha.
EliminarGostaria de ter tido assim uma conversa no dia da Mãe.
ResponderEliminarTerá (tido) outras talvez mais iluminadas.
ResponderEliminarUm beijinho, Bea