Atravessámos o rio e fomos caminhando até ao quartel da Serra do Pilar. Vejo ainda a multidão a crescer com olhos incrédulos e palavras hesitantes - tal como nós. E inquietações. E dúvidas. E questões.
O regime caiu? Vivemos em liberdade? Já podemos falar mais à vontade? Vamos deixar de ter tanto medo?
Íamos de mãos dadas e tu falavas da guerra colonial que conhecias. Dizias acreditar que ia terminar e assim não haveria tantos mortos, muitas vezes sem saberem porquê. E que os jornais censurados diziam ser mortes por acidente, escondendo que eram vidas perdidas em combate.
E eu lembrava-me de poemas que lia na biblioteca onde tantas vezes vira outros jovens a entrarem de repente e a sentarem-se, como se estivessem a ler ou a estudar, e logo aparecer a polícia à paisana que os levava sem qualquer explicação.
E do professor de história que estava a responder a perguntas na aula e que foi admoestado por permitir a infração da lei do silêncio por parte dos alunos.
E da palavra medo que fazia parte dos meus dias, não sendo nada politizada, como a grande maioria das pessoas, muitas das quais nem iam à escola porque tinham de trabalhar em idade de brincar. Medo da polícia, medo da pide, medo dos trovões, medo dos castigos de Deus, medo dos poderosos, medo dos outros...
Nesse primeiro 25 de Abril, muita gente tinha o transistor encostado ao ouvido para ouvir as notícias de Lisboa. Era uma revolução? Era uma revolta? E «depois do adeus»?
Havia espanto e muitas interrogações nos olhares, mas pressentíamos a mudança, ainda que tardia.
.Embora muito jovem lembro-me tão bem do dia da liberdade. Belo texto que gostei de ler
ResponderEliminar.
Também escrevi sobre o dia da liberdade … abraço.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Sim, também não esqueço. Maravilhoso.
EliminarJá li o seu post e até usei maiúsculas para o comentar.
Um abraço
Obrigado. A sua simpatia é tão bela e bonita, como belo e bonito, o o maravilhoso 25 de abril. Abraço.
EliminarEu era ainda pequena, teria uns 12 anos, lembro apenas algumas noticias de rádio. :)
ResponderEliminar-
As agruras do tempo ...
Beijos e uma excelente semana.
Bom dia, Cidália.
EliminarComo ja era ais velha, lembro-me perfeitamente do primeiro 25 de Abril.
Sem ele, não estaríamos aqui a escrever com gosto e em liberdade.
Um beijinho e boa semana.
Aconteceu à maioria, Maria. Não sabíamos o que aí vinha. Mas o que veio, veio por bem. E é fora de dúvida, estamos hoje num mundo muito diverso do que, então, conhecíamos. Viva Abril e suas conquistas.
ResponderEliminarDisso não tenho dúvidas, Bea, 25 de Abril SEMPRE. E custa-me muito ver ou ouvir renegá-lo. Ou porque não viveram o antes ou porque ainda não aprenderam que o mundo mudou ou não querem a mudança ou porque esperam um salvador, etc.
EliminarBoa semana de primavera, Bea
Eu estava numa aula de Trabalhos Manuais...no Magistério Primário em Silva Porto...Angola!
ResponderEliminarMeus pais nunca falaram de política e ainda bem pois meu pai era alfaiate e nós tínhamos dois funcionários que pertenciam à Pide!bj
Então, o melhor seria mesmo o silêncio!
EliminarO tempo não era também de se falar muito de política, pelo menos cá, pelo que conheço, a não ser que as pessoas fossem politizadas, o que não foi o meu caso.
Um beijinho, Gracinha, e que todos os nossos olhares continuem em liberdade.