Já deixei muitos livros a meio ou fechados logo no início, sem os voltar a abrir. Ou porque não gostava. Ou porque não me me diziam nada. Ou, se calhar, por alguma preguiça ou, também, pela escassez de tempo, ou pela correria nada amiga de alguma concentração.
Agora, porém, já não o faço. Se começo um livro, tenho vontade de o ler até ao fim. Não sei se é a idade que vai instalando mais paciência, novos interesses, respeito pelas obras de arte como pode ser um livro. Entro no livro como se entrasse num espaço e num tempo com personagens que acompanho e que me fazem pensar, sorrir, conhecer realidades com as quais, às vezes, me identifico ou com outras das quais me distancio. Não para fugir do meu espaço e do meu tempo ou de quem me rodeia, mas para, através das palavras, que me dão muito prazer, chegar a outras histórias que me fazem reparar melhor - julgo eu - no que se passa à minha volta e no mundo.
E já há tantas coisas e vidas interrompidas que é um privilégio começar a ler um livro e levar a leitura até ao fim.
Confesso que são mais os livros que não leio até ao fim que os que leio na totalidade. Tal não acontece com livros relacionados com a minha profissão. Esses são lidos na íntegra sempre.
ResponderEliminarCumprimentos
Pois, os nossos hábitos não têm de ser iguais, é claro. Agora dificilmente me acontece começar um livro e não levar a leitura até ao fim. Como não há tempo para tudo, procuro ler apenas os livros que me interessam.
EliminarBoas leituras, Ricardo, sejam elas de que teor forem.
Ó Maria Dolores, até parece que me leu o pensamento. Acabei de ler o Húmus do Raul Brandão. Fiz um esforço titânico para o levar até ao fim, porque, para além de denso, é muito repetitivo, mas como é considerado a sua obra-prima e altamente elogiado por Saramago, tive vergonha de o deixar a meio, por incapacidade.
ResponderEliminarNa há como fugir, não gostei, embora tenha alguns parágrafos muito belos, como este:
"A Primavera é um fenómeno eléctrico. Na primeira tentativa da flor há fealdade e ao mesmo tempo candura; depois da noite para o dia uma gota de tinta como uma gota de leite. Basta que à névoa se misture o sol, para entreabir, ainda informe. Todos os seres, antes de se vestir, são abortos: têm medo de nascer belos."
Belo excerto que selecionou, Joaquim. Apetece ler e reler para captar melhor os sentidos de fealdade vs beleza com os exemplos de vida humana e de plantas.
EliminarAcho que nunca li o livro na íntegra, mas é outro que quero ler. Oxalá, se eu não gostar, tenha a sua perseverança que também lhe deu alegria, presumo eu.
Pode acontecer-me, mas não tenho esse hábito, deixar livros no princípio ou a meio. Isso, com a idade e a variedade na oferta, acontece-me com os filmes. Nos livros, eu que nem leio assim tanto e que escolho uns porque sim e outros por ter curiosidade em lê-los ou por gostar do autor, leio-os. Pois não hei-de ler um livro que comprei e escolhi?! E e não for tão bom como o julguei? Ninguém mo mandou comprar, leio. Não tem a ver com a idade, é uma questão de princípio e respeito por mim e por eles.
ResponderEliminarEu não tive sempre esse hábito, de facto. Ganhei-o há algum tempo e ainda bem. Também partilho da ideia que se comprei o livro ou se aceitei que mo emprestassem, por que não chegar ao fim? E o que é certo é que não o faço com sacrifício, pelo contrário. Vou sempre descobrindo coisas novas - concorde ou não com elas. E a forma de narrar também me diz muito, às vezes até mais do que a própria história.
EliminarBom fim de tarde, Bea
Boa tarde
ResponderEliminarSe me dá licença.
Um livro é tão importante
Quanto o valor que lhe der
Desde uma grande tristeza
Até ao maior prazer
Há livros em exposição
Muito bem encadernados
Só que por dentro estão
Muito mal elaborados
Há outros misteriosos
Que nos causam arrepios
O melhor é ignorá-los
Para evitar calafrios
Há também aqueles livros
Que por uma ou outra razão
São os que todos nós lemos
São livros de ocasião
Eu tenho um livro na vida
Que leio todos os dias
É com ele que divido
Tristezas e alegrias
E esse livro que eu amo
Mas que me faz tão feliz
Deixou-me maravilhado
Na primeira vez que o li
Vou tratá-lo com carinho
Já que é esse o meu dever
Para quando for velhinho
Ter o prazer de o ler
A mulher é como um livro
Que se abre ao amanhecer
Há sempre nela um motivo
Para o devermos ler.
Obrigado
JR
Boa tarde, Senhor Poeta.
ResponderEliminarSim, os livros são muito importantes ao longo da nossa vida. E dão bem mais alma a uma casa. Gostei da ideia da encadernação que, por si só, pouco diz sobre o conteúdo e sobre a leitura.
E tratar os livros com carinho também é muito importante. Gosto de pôr notas ou sublinhados, mas de os manter lisos e que deem vontade de os ler.
A comparação do livro com a mulher também será pertinente, porque podem suscitar novas descobertas - tal como o homem, diria eu, se também me dá licença.
Obrigada, Joaquim, por tão boa partilha.
Boa noite
EliminarEu é que agradeço por ter esta oportunidade.
De qualquer forma não sou,nem nunca serei poeta, apenas faço umas rimas quando me sinto um pouco mais solitário e nas noites de insónia.
JR
E a poesia também pode ser boa companhia!
EliminarUm bom fim de semana, Joaquim