A publicação da coletânea de texto poético e tema livre, Livro aberto, tem fins solidários - apoio ao desporto adaptado. A organização e produção editorial são de Ana Coelho, da Rádio Voz de Alenquer.
Enviei dois textos para possível publicação. Um deles foi o que agora partilho.
Capa de Sara Santos - no prefácio, a autora justifica-a. |
Carta de amor aos livros do meu pai
Desculpem, livros do meu pai, se sou ridícula, mas Fernando Pessoa, pela voz de Álvaro de Campos, também escreveu cartas de amor ridículas.
Se eu pudesse, queridos livros, plantaria, numa única estante, os autores da vida do meu pai.
Mais visíveis a todos os olhares, ficariam os livros de Camilo Castelo Branco, que o meu pai começou a ler enquanto belo jovem sonhador. Não sei bem o que o atraía: se a ousadia louca do autor, se as incontáveis paixões vividas e contadas, se a luz que dele vinha ainda que a visão lhe fosse sendo escurecida...
Amo-vos, livros do meu pai, porque, percorrendo as vossas páginas, encontrei vida humana e meandros complexos do amor, às vezes às escondidas, porque o tempo era de escassez mas fértil em proibições. Também lá estavam O crime do Padre Amaro e Os Maias, de Eça de Queirós, que li de ouvido à escuta, para que não visse interrompidos os momentos de paixão mais exaltada que eu não queria perder.
Livros do meu pai, vós sois pedras seguras que edificaram o meu amor pelos autores, pelos livros, pelas histórias, pelo conhecimento aberto do mundo.
Amo-vos, livros do meu pai, porque foram os pais do meu amor pelos livros.
A todos abraço, já sem receio de ser ridícula, mas com a alegria de todos poder ver e percorrer. Ainda que com laivos de tristeza de já não ter tempo para todos poder ler.
Está uma bela carta de amor. E, já agora, agradeça também ser filha de seu pai, Maria.
ResponderEliminarParabéns pela carta que não soou a carta ridícula, mas a gratidão e amor pelos livros. Muito bem escrito, aliás. O ridículo amoroso é outra coisa. Que, por acaso, acho muito querido. Como sabe, enche-se de nomes pequenos que até encompridam e de palavras que só ao amado soam perfeitas. Em criança, o meu filho mais velho chamava-me fofinha; e eu, herege, convertia-me. Néctar e ambrósia em simultâneo e numa só palavra. Embora não escrito, é amor do que falava e usava Pessoa nas suas cartas e recadinhos ridículos.
Boa tarde, Maria.
Obrigada, Bea. Infelizmente, o meu pai já cá não está, mas talvez gostasse desta carta. Não era dado a elogios caseiros, mas eu veria pela sua expressão. E ainda mais contente ficaria porque falo de Camilo Castelo Branco, de quem falava com verdadeira paixão.
EliminarQue bom ser 'fofinha' para o seu filho. É muita ternura sentida e merecida.
Sobre as cartas ridículas de Pessoa, as que são conhecidas e dirigidas a Ofélia parecem mesmo improváveis e acho-lhes muita graça.
Uma noite boa e descansada, Bea.
Oh! As cartas a Ophelinha são tão bonitas e ternas, tão cheias de um si mesmo amoroso e diverso que estremecia a garota e nasceu talvez por ela e para ela. Tenho dúvidas acerca da vontade de Fernando Pessoa as ver publicadas, mas agradeço-as nessa pureza de amor, tal qual como são.
EliminarPensar que havia na complexidade do seu ser um cantinho simples e quotidiano onde Ophélia morou, desvanece qualquer.
Sim, essas cartas - que estão disponíveis na net - são uma ternura e nem parecem escritas por Pessoa. Os diminutivos com que tratava o seu amor eram também muito mimosos.
EliminarSe calhar, o poeta não gostaria de as ver publicadas, ou talvez sim, porque eram tantas as almas dentro da sua alma.
Um sábado feliz, Bea.
Excelente. Maravilhosa publicação!! :)
ResponderEliminar.
O pouso da ousadia...
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Beijos
Um excelente fim de semana!
Obrigada, Cidália. Sempre simpática.
ResponderEliminarBeijinho e um fim de semana a seu gosto.
No tempo dos meus avós namorava-se à janela e/ou vigiadas de perto - raparigas - pelas mães ou avós - esqueciam-se do que tinha passado -. Não se sabe como é que a grande maioria tinha que casar à pressa por estarem grávidas. Devia ser por obra do espirito santo, lol.
ResponderEliminarCartas de amor eram - hoje já não se escreve - é mais sms - eram todas ridiculas... mas tão bonitas de ler. Eu escrevi e recebi muitas...
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Desejando um Feliz fim de semana.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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O meu pai queixava-se de ter namorado com a minha mãe estando ela sempre à janela!
ResponderEliminarQuanto ao resto, Camilo Castelo Branco - de quem eu falo - conhecia bem as paixões, mais ou menos escondidas, para as poder tão bem contar nos seus romances.
Feliz fim de semana também, Ricardo.
Uma bonita carta de amor. Na minha casa, os meus pais nunca andaram na escola. Minha mãe não sabia ler, meu pai aprendera com o filho do patrão um miúdo da mesma idade do meu pai, que quando saía da escola ia ter com o meu pai ao monte onde ele guardava o gado. E em troca da brincadeira que tinham enquanto o gado pastava, ensinou o meu pai a ler e a escrever.
ResponderEliminarE na minha casa havia apenas dois livros. Uma Bíblia velhinha herdada de um bisavô do meu pai e o "Amor de perdição" que ele comprou depois de ter visto o filme.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Bom dia, Elvira
ResponderEliminarQue bonito seria ver os dois meninos: um a ensinar e outro a aprender a ler, mas ainda bem que a escolaridade se tornou obrigatória e não apenas boa vontade.
Muita inteligência e capacidade não se desenvolveram por essa falta.
Um abraço, Elvira, e obrigada pela partilha.
Que declaração amável e profunda.
ResponderEliminarA fonte de nossas inspirações, são verdadeiras obras de nossas vidas.
Forte abraço
Obrigada, Calebe, também concordo.
EliminarIgual abraço para si.
Olha que floritas azuis tão bonitinhas.
ResponderEliminarBom domingo.
São inglesinhas, mas também as temos por cá. E com a chuvinha que cai por aqui ficam ainda mais formosinhas.
ResponderEliminarUm domingo florido, Bea.