Ontem de manhã, veio uma única utente na repartição. À chegada, perguntou-me com alguma agressividade se tinha de tirar a senha. Eu disse-lhe que não, porque não havia mais ninguém. Olhou à volta como que amedrontada. Perguntei-lhe qual era o assunto e ela começou a tossir. Instintivamente, afastei- me ainda mais do que é exigido. Ela pôs o cotovelo à frente do rosto e começou a chorar.
Fiquei sem saber o que fazer, enquanto a minha colega, sem dizer nada, espalhava spray desinfetante no balcão.
A utente, mulher de uns 40 anos maltratados, disse, com crescente agressividade, que não estava infetada, que tinha feito teste e deu negativo. E quem se julgava a funcionária para vir logo desinfetar vírus que não tinha.
- Se calhar, é você que os tem na sua cabeça.
Vi-me na necessidade de intervir.
- Vamos, então, tratar do seu assunto.
A utente continuava voltada para a minha colega.
- Queria ver se fosse uma pessoa chique, se você vinha logo limpar. E sem uma palavrinha nem um olhar. Como se eu fosse um monte de vírus. Estou farta de ser humilhada dentro e fora de casa. Venho aqui, desinfetam; vou à polícia queixar-me, dizem-me que desinfete por enquanto!!!
De repente, a utente saiu, batendo com a porta e sem dizer o assunto que a tinha trazido ali.
À noite, ouvi notícias sobre o aumento da violência doméstica em tempo de confinamento social e senti vontade de falar com a utente. Se ela voltar.
essa só se vai intensificar nestes dias, mas as autoridades reforçaram que os apoios policiais vão continuar.
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