Hoje o Expresso Curto é escrito por Germano Oliveira - editor online.
Do que li, destaco o seguinte que quero partilhar.
Assim, podemos proteger-nos ainda mais deste pesadelo,
pensando na maravilha que será o pós-pesadelo.
'...pedi ao meus amigos que me dissessem o que mais querem fazer no pós-quarentena, reivindiquei-lhes uma frase, “uma coisa curta mas forte”, e o que eu ando a ler e aqui exponho são os meus amigos, a melhor literatura da minha vida, e isto é o que eles vão cumprir imediatamente depois de vencermos seja lá o que for que está em curso:
Quero abraçar pais e irmãos, quero uma cerveja gelada na praia, quero voltar a respirar maresia e perder o medo do abismo;
Abraçar a minha mãe, o meu pai e a minha irmã. Com a força com que nunca os abracei;
Abraçar pessoas. Família, amigos, colegas, talvez até pessoas random;
Abraçar alguém;
Quero que a minha casa seja assaltada pelos meus, beijá-los e abraçá-los infinitamente;
Demorar-me lá fora. Viver como se todo os dias fossem uma manhã de sábado;
Quero ir para a praia e ficar a olhar para o mar;
Voltar a abraçar a minha neta;
Ir de Lisboa ao Porto a pé;
O que eu mais quero fazer no pós-apocalipse é chegar à conclusão de que não aprendemos nada com isto;
Abraçar e beijar o Miguel;
Abraçar e beijar, rir-me sem pôr a mão à frente da boca num jantar cheio dos meus;
Quero voltar a olhar para o mundo sem ter medo. Que é o que sinto neste momento quando me cruzo seja lá com quem for. E é um sentimento horrível, descontrolado, estúpido;
quero voltar a beijar as lágrimas da miúda e dizer-lhe que está tudo bem: já não caem por medo, é alegria. quero abraçar os meus pais e fingir que não perdemos tempo. quero ser inconsciente com os amigos de sempre e com os amigos que chegaram há dois dias. quero beber e cantar na rua. seguir sem retrovisor, ser sem me apertarem o pescoço;
Beber. O meu vinho acabou de acabar;
Abraçar e olhar todos nos olhos. Tê-los comigo por inteiro;
Levar a minha filha ao parque, ao maior de Lisboa. O do Alvito;
Abraçar-te, minha joia, meu amor, meu calor de quarentena;
A primeira coisa que faria seria um jantar com as minhas pessoas, mesmo que num sítio barulhento, com vinho de pressão servido num jarro mal amanhado e um prato de comida sensaborona e provavelmente oleosa. Lá no fundo, e porque a insatisfação com o presente está na natureza do ser humano, sei que iria reclamar com a falta de cuidado do serviço, irritar-me-ia com os tiques daquele amigo mais maniento e juraria que não mais tornaria àquele lugar. Mas não ia estar a pensar em tudo o que se passou, comigo e com o país, entre o momento em que escrevo e esse jantar. Creio que é isso que quero ter: um pretexto para ter a certeza de que tudo já passou;
Sentir um beijo na cara da minha mãe e apertá-la num abraço;
Dar abraços;
Ir a um concerto com amigos, abraçá-los, sentir-me pequeno no meio da multidão e encontrar conforto na minha pequenez, porque ninguém é sozinho;
Render-me (ao contacto e não à distância);
Depois de o caos acabar, e pensando que provavelmente já vamos estar no verão, quero sentar-me a beber vinho branco gelado com os meus melhores amigos numa noite em que até a brisa seja quente;
Abraçar a minha mãe com muita força, cheirar o ar do verão à noite, ir a Fátima, beber às gargalhadas com os meus amigos à volta da mesma mesa.
Este país vai acabar todo abraçado, alcoolizado e aos beijos depois disto, é uma emergência ficarmos nesse estado triunfante: tenho uma amiga, na verdade não é uma amiga mas um planeta, que está a escrever um diário do seu isolamento, eu li partes e um dos dias acaba assim: “Estamos a ganhar em amor”.
Tenha um bom dia'.
Mais palavras para quê?
Felizmente, também tenho bons grupos de Whatsapp.
Depois do pesadelo, quero dar-vos a todos abraços.
Celebrar ainda mais a família, a amizade
e tantas coisas boas que nos rodeiam e que pareciam invisíveis!
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