sexta-feira, 29 de setembro de 2017

"Com licença poética"

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado, poeta, contista e professora brasileira, nascida em 1935

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Conduzir, ou não, no século XXI

Dizem os jornais que, na Arábia Saudita, a lei permitirá que as mulheres conduzam. Mas só no próximo ano, porque é necessário tempo de preparação para que tal aconteça, porque, até agora, só aos homens a lei concedia esse direito.
E estamos em pleno século XXI.
E eles vão ter de olhar para elas e elas para eles. E ainda bem, porque os olhos, tal como o algodão, não costumam enganar. A menos que se faça como cá que, quando não dá jeito, nem se olha só para não dar passagem ou para passar à frente! 
E o número de pessoas que vão dizer "Vê-se logo que é uma mulher a conduzir" vai ser incomparavelmente maior. As primeiras vão ter a vida mais dificultada, mas não se devem importar muito, porque serão das mais corajosas.
Não sei é se lá também chamarão nomes, escolhendo o tratamento por tu: "Anda mais devagar, ó palerma". "Vai mas é pra casa". "Tiraste a carta por correspondência" e outros mimos, enquanto se abre a janela para chatear já que se está chateado.
Mas, felizmente, as mulheres, por cá, conduzem carros, motas, autocarros, elétricos... Não sei se o metro, mas em Paris ou Londres já vai sendo comum.
Porém, cá em Portugal e já no século XXI, um casal estava com amigos e ela disse que gostava de conduzir, que trazia a carta de condução sempre consigo, mas que não o fazia porque o marido não deixava. Ele, pondo-lhe o braço sobre os ombros, disse que a condução não era para mulheres. Ela encerrou o assunto com um sorriso seráfico e um encostar de cabeça no ombro dele.
E eram pessoas que viajavam, embora, creio, nunca tivessem ido à Arábia Saudita.
Mas lá como cá, muitas coisas mudam e, muitas vezes, para melhor.
Não sei se, no caso do tal casal, ele já precisou que fosse ela a conduzir. Nesse dia, ele não hesitaria em dizer-lhe: Despacha-te, parece que não tens carta de condução!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Antes e depois


Como a formiga!


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Também o tempo estava outonal

 
São sempre bonitas e variadas estas festas ao ar livre em Serralves.
Por isso, as pessoas de diferentes gerações aderem em massa.
Ontem, pelo meio da tarde, veio uma chuva constante e miúda. Em pouco mais de uma hora, Serralves ficou quase deserto. 
No prado, mantiveram-se umas tendas com crianças que, abrigadas e acompanhadas de monitores, continuavam a aprender a reciclar, a pintar...
Não muito longe, uns fornos continuavam acesos e fumegantes, preparados para o pão para as bifanas, que era suposto servir até às 19 h.
Tal como na história de olhar o copo meio cheio ou meio vazio, felizmente cheguei pelas quatro horas e ainda deu tempo para ouvir um pouco de história infantil, musicada e muito bem contada (1ª e 2ª fotos); olhar o prado bem animado, com muitas barraquinhas, onde havia castanhas assadas e café, ver as hortinhas e as abóboras colhidas e alinhadas; ouvir os animais que vivem na quinta; ver muitas crianças deliciadas a brincar com a palha cortada (ai como a Clarinha também gostaria!); olhar as árvores tingidas de tons avermelhados e amarelos, passar pelos grandes cogumelos, espalhados pela quinta, feitos com materiais reciclados, assistir a uma instalação com uma jovem que se movimentava e exprimia utilizando uma pequenina casa de madeira colocada sob as árvores...
E chegou a chuva - que é mesmo muito necessária, mas que, no momento, não vinha a calhar. Não era muita mas molhava mesmo!
Pois, não se pode ter tudo!

domingo, 24 de setembro de 2017

Os dois irmãos

Pont de Moret, 1893, Alfred Sysley
Não havia muita diferença de idades entre os dois irmãos. Ambos tinham emigrado, há muitos muitos anos, mas para países diferentes. O trabalho, nesse tempo e em Portugal, não ia de feição e a liberdade vivia estrangulada.
Casaram. Tiveram filhos. Tiveram netos. Mantiveram, porém, o aperto, embora diferente. Era a língua. Era a lonjura. Era a solidão. Era a precariedade do trabalho. Era a saúde que já tinha falhado várias vezes. 
Foi sobretudo a pós-reforma. Para onde iriam se regressassem a Portugal? Tinham-se mantido ambos nos países de acolhimento, como se o tempo fosse eterno e a vida se mantivesse intacta.
Os dias continuavam e os obstáculos não lhes  matavam os sonhos.
Um deles, o mais novo, fazia exercício físico que o tirava de casa todos os dias.
E dizia com um sorriso sonoro e prolongado, a pedir elogio e reconhecimento: Estou a trabalhar para a maratona.
O mais velho persistia ligado ao seu amor pela vida, mas entristecia pelos ciúmes da mulher. Que lhe roubavam carinhos e sorrisos.
E desabafava como quando namoravam: eu amo-a tanto!
E isto passava-se em dois países europeus diferentes. Separados por montanhas, cidades e muitas realidades, umas diversas, outras semelhantes.
Separados sempre tinham estado os dois irmãos.
Aproximava-os a idade: um ia fazer oitenta e oito anos, o outro tinha festejado mais um.

sábado, 23 de setembro de 2017

Castanhas. É outono!


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Vou seguir o conselho

"Já ouviu falar em virtuosismo na música? Se não sabe o que é, ouça este disco sem palavras, só sons. Fica-se reconciliado com a vida. Algumas faixas vai reconhecê-las sem dificuldade, embora vestidas com outras roupagens – El Dia Que Me Quieras, Adiós Noñino – outras vão surpreendê-lo tanto que não vai cansar-se de as ouvir."

Nicolau Santos, Expresso Curto de hoje, 22 set.

Dióspiros ao sol


Ligação à terra


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

"Identidade" - Muitas fases da lua

Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.

Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.

Mas como as inscrições nas penedias
Têm maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.


Miguel Torga, in Penas do Purgatório

Sol ou lua?

Van Gogh, 1888

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Outono e Lua Nova

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Manhã



Monet - 1872



segunda-feira, 18 de setembro de 2017

domingo, 17 de setembro de 2017

"Grão de Mar"


Lá no meu sertão plantei
Sementes de mar
Grãos de navegar
Partir
Só de imaginar, eu vi
Água de aguardar
Onda a me levar
E eu quase fui feliz
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim

sábado, 16 de setembro de 2017

Metade ou inteiro?



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

"Quintas de leitura"


Ontem à noite, o anfiteatro da Biblioteca Almeida Garrett encheu-se para assistir às "Quintas de Leitura" sobre a obra de Sophia de Mello Breyner.
É muito bom ver como tantos eventos no Porto são participados e aplaudidos.
Este poema foi o primeiro a ser escutado, dito por Catarina Salinas. Muitos outros se seguiram, lidos por Cristiana Sabino, Mariana Magalhães Teresa Coutinho e Pedro Lamares. As palavras sabiam à verdade e limpidez de Sophia.
Para além da música, das canções, da leitura de um ensaio, de imagens, de silêncios, de convívio, de emoções...

Joana Machado - Do You Know?


Esta voz do jazz esteve também ontem na Biblioteca Almeida Garrett.

Sopa de Pedra - Estrigadeiras

Ontem, na Biblioteca  Almeida Garrett, as vozes bem articuladas deste grupo fizeram-se ouvir.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A mentira nem sempre tem perna curta

Goste-se ou não do estilo, toda a gente conhece o Tony Carreira.
Um dia, o cantor vinha a Gondomar e um aluno perguntou-me se eu ia ver o espetáculo. Disse-lhe que não e logo me perguntou se eu não gostava do cantor. Como a minha resposta foi de novo negativa, ele respondeu-me:
- Ó Setora, não acredito, todas as mulheres gostam dele!!!
E o Multiusos encheu-se, tal como as salas por onde passa.
E o que é certo é que o problema do plágio, que ontem foi levantado pelo Ministério Público, já é antigo e bastava consultar a internet para ver facilmente as poucas diferenças e as muitas semelhanças entre grandes êxitos com canções mais antigas de outros autores.
E, infelizmente, nesta área e noutras, há pessoas que enriquecem sorrindo às mentiras e maldizendo, como se fossem vítimas, as verdades que incomodam. E este vício adocicado de xicoesperto atinge muitas gerações.
Quando isto acontece, os outros serão vistos como uma massa de gente que ficou pela emoção e não atingiu a razão.
Oxalá a mentira tenha cada vez mais perna curta para que Portugal dê exemplos de um país civilizado. E não falta talento e criatividade.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Como nas séries com final feliz


Um dia, ela decidiu fazer nova toalha de renda para a mesa da sala. Habituara-se a ter a mesa coberta com uma toalha de renda desde que se casara, havia mais de  cinquenta anos. Olhava para as duas toalhas de renda que tinha feito e, mais do que o tempo e trabalho que tinham exigido para a sua execução, lembrava-se de todas as histórias que as tinham acompanhado. 
Costumava concluir aquilo a que se propunha e meteu mãos à obra.
Como se levantava todos os dias com o nascer da manhã, o trabalho iria avançar e haveria uma nova toalha para assistir a novas histórias e embelezar a sua sala. A menos que houvesse algum percalço porque a idade já ia avançada, mas não pensava muito nisso.
Como estava entusiasmada com o projeto da nova toalha, partilhou a alegria com as amigas. Uma delas, mais pronta para a palavra farpada, disse:  "Tantos metros de renda? Ainda morres antes do fim".
Lá foi tecendo, tecendo, tecendo... De vez em quando, punha a toalha na mesa para ver melhor o efeito e a renda que ainda faltava. Ficava contente porque aumentava e estava a ficar bonita. 
Concluiu-a sem custo nem stress. Nesse dia, como habitualmente, encontrou-se com as amigas e falou-lhes da conclusão da toalha. E que, felizmente, continuava bem viva. Todas compreenderam e começaram a rir. Tal como nas séries com final feliz.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Ontem sabia a outono




Ontem, ao fim da tarde, já parecia outono. Aqui onde vivo, é claro.
Apesar de a terra estar seca, as plantas precisarem de água, sentia-se um vento fresco e o céu ia-se pintando de névoas cor de fogo perto do sol que se recolhe cada vez mais cedo.
Gosto do tempo assim. De serena nostalgia. De alguma doçura que se vai guardando para o inverno.




domingo, 10 de setembro de 2017

Também as palavras da professora

Vou começar por Era uma vez... mas foi (quase) tudo real.
Era uma vez duas meninas que andavam numa escola do primeiro ciclo, a que então se chamava escola primária.
As meninas da fila da frente eram as que iam continuar a estudar, atrás ficavam todas as outras. Outras e não outros porque as salas de aula não eram mistas.
Ora, as meninas da fila da frente requeriam mais atenção da professora e muitas delas já estavam habituadas a ter em casa e em qualquer sítio outras atenções, quase desconhecidas das meninas das filas de trás e quanto mais atrás fossem colocadas, mais habituação havia às desatenções.
As professoras seguiam as cartilhas pelas quais também se tinham formado, porque o tempo era de condenação de qualquer atitude crítica ou mudança.
Porém, uma professora que pegou na turma do 4º ano, ou 4ª classe como se dizia, começou a reparar numa menina das filas de trás, que gostava de estudar, que era boa aluna e que deveria continuar os estudos. E começou a dizer-lho e a repetir que tinha de o fazer.
A menina ficava entusiasmada e corria no regresso a casa para dizer à mãe o que a professora achava, mas a mãe tinha muito que fazer, muitas preocupações e quase nem a ouvia. E isto repetiu-se várias vezes até que a menina, com dez anos, concluída a escolaridade obrigatória que eram os quatro anos da escola primária, ficou em casa como a grande parte das meninas das redondezas.
Mas o gosto por saber mais e as palavras da professora não se esbatiam e, mais tarde, a menina foi estudar e concluiu um curso universitário com boas notas. Pelo caminho, teve de enfrentar obstáculos que as meninas da fila da frente não tinham tido porque a corrida começara a ser preparada muito mais cedo.
Um dia, passados muitos muitos anos, uma menina das filas de trás encontrou uma das meninas da fila da frente. E conversaram longamente, como nunca o tinham feito na escola primária.
E a menina, que estava sempre na fila da frente, contou que tinha deixado de estudar, por vontade própria, logo nos primeiros anos do liceu.

Boas notícias

Os jornais falam hoje, abundantemente, das colocações no Ensino Superior. E todos nos regozijamos, acho eu, com este acesso crescente a mais formação, o que será sinal, desejamos todos, de mais prosperidade, felicidade e inserção no mundo de hoje.
Claro que depois, no final de muitos cursos, muitos jovens sentem o desânimo de não terem trabalho ou, se o têm, é em áreas diferentes daquelas para as quais estudaram e mal remunerado. Estou a lembrar-me de uma rapariga que conseguiu as melhores notas do Ensino Secundário da escola que frequentou, foi considerada a melhor aluna do curso universitário que escolheu e que hoje vai ajudando, precariamente, num escritório onde faz serviço burocrático para o qual não estava vocacionada.
Ouvi há pouco uma diretora de Universidade referir a necessidade de diferentes instituições trabalharem em rede para que os estudantes tenham melhores condições para concluirem os seus cursos e também para encontrarem saídas profissionais.
Possam em breve os jornais dar essas boas notícias.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Mesmo irritante!

Ontem, fui a um Centro Comercial e utilizei o tapete rolante. A descer havia uma única pessoa para além de mim. O tapete ia deslizando, eu ia caminhando, mas essa pessoa, parada no meio do tapete e de mãos na cintura, ocupava todo o espaço, impedindo a passagem.
Continuei e, quando já estava muito perto dela, pedi licença para passar. Como a senhora não ouvira os meus passos, acho que se assustou um pouco e deu-me passagem.
Não sei se depois se encostou à direita, como deveria ser, porque não olhei para trás.
Logo a seguir, fui levantar dinheiro numa caixa multibanco.
Atrás de mim, uma pessoa estava tão próxima que eu quase ouvia o seu respirar. Se tossisse, eu apanharia, por certo, com o bafo no pescoço.  
Apetecia-me dizer que se afastasse um pouco, o que não tive nem teria coragem de fazer. 
São pequenas coisas, é certo, mas evitá-las só traria um pouco mais de conforto aos demais.
Mas há quem não pense nisso. Ou quem não saiba que deve pensar nisso.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Praia em (quase) outono



Comemoração do 150 aniversário do desembarque dos Liberais no Mindelo

Praia de Mindelo - Vila do Conde

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Pingos


Espinafres e bombas


Como já estamos em setembro, quando me levanto e abro a janela, olho a cor do céu e o chão para ver se choveu. Porque o ano vai de seca e a chuva é precisa como água para a boca. Hoje via-se que tinha chovido, embora pouco.
Para além de ser bom para o ambiente, poupa-me trabalho a regar o quintal. E os espinafres ficam mais viçosos e verdinhos.
Eu sei que há problemas maiores do que gostar de ver o quintal regado, como as bombas destruidoras que têm sido lançadas da Coreia do Norte e não só. Pelo poder narcísico de loucos, que se julgam deuses.
E pensar que eles acedem às bombas com a facilidade como eu colho espinafres no meu quintal!

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HAMPSTEAD - um filme cool!


 Quando vi anunciar o filme HAMPSTEAD, logo fiquei com curiosidade de o ver, porque é uma zona de Londres onde já fui várias vezes e de que gosto muito. Pelo enorme parque, pelas mansões com jardins floridos, pelos pubs antigos e confortáveis, pelas lojas pequeninas, pelas ruas estreitas com vasos coloridos à janela...
Deliciei-me a rever no filme, de Joel Hopkins, alguns desses espaços.
A história, em si, pareceu-me demasiado cor-de-rosa: uma mulher viúva (Diane Keaton), vive num bom mas degradado apartamento em Hampstead. Os dias são passados com atividades de voluntariado e a tentar resolver problemas financeiros. 
Um dia, do sótão, avista um homem (Brendan Gleeson) que vive numa barraca, numa zona do parque (Hampstead Heath), quase escondida pelo arvoredo. 
Conhecem-se, ela fica fascinada pelo estilo de vida daquele homem que optou por viver sozinho no local há dezassete anos e apaixonam-se.
Mais não digo, porque também não gosto que me contem o final dos filmes.
Agradou-me a vida em contacto sereno com a verdade da natureza, a ternura revelada pelo casal, mas apetece dizer que, na vida quotidiana, tudo seria bem diferente, embora saiba que a uma obra de arte não se deve pedir que retrate apenas a realidade.
Seja como for, o filme motivou-me a voltar a Hampstead e a Hampstead Heath.