Junto de uma bomba onde costumo meter gasolina, há uma casa com muitas rosas à volta. Como a bomba de gasolina é à moda antiga, o cliente fica sentado no carro, enquanto o funcionário põe o combustível. É nesse tempo que olho, mais demoradamente, para essa casa.
Lembro-me dela como nos recordamos de todas as casas bonitas por onde passamos muitas vezes, mesmo sem nunca lá ter entrado.
E a memória que tenho dessa casa é com as pessoas que nela viviam, com cortinas de linho nas janelas lavadas e claras, com rosas pequeninas a florir em todas as primaveras, com a viva beleza do presente tão feliz que exibia eternidade.
Agora já não se veem pessoas na casa. As janelas têm tinta a esboroar-se e, como está tudo fechado, já não acenam as cortinas. Acho que eram bordadas.
Tudo parece ter desaparecido. Tal como o tempo.Tal como os olhares lisos da juventude.Tal como as vozes que agora já não sobem nem descem as escadas, cada vez mais graníticas.
E, contudo, as rosas pequeninas continuam a florir!
"Eram rosas pequeninas
ResponderEliminarque pintalgavam a casa…
Eram as vozes traquinas,
que trepavam nas escadas,
Era o grosseiro granito,
que refulgia com o tempo…
Era o linho nas vidraças,
onde burilavam chilreios
em todas as primaveras…
(Felizes os que ainda os ouvem!)
E o tempo sempre nascia
nessa granítica harmonia
a que se chamava A Casa!
Agora, só há poeira
nas janelas bem cerradas,
no granito embrutecido,
onde o tempo já não nasce!
Apenas, teimosas, persistem,
em recatada timidez,
essas rosas cor-de-rosa
que o tempo-mau não desfez!"
Bem, Dolores, foi o que nasceu da tua belíssima e contemplativa descrição!
Obrigada pelo momento!
Um bom fim de semana!
beijinho,
IA (ou IAzinha)
Eu é que te agradeço. Melhor era impossível.
ResponderEliminarObrigada e um abraço.
M.