Era uma vez uma professora. Como tantas professoras.
Talvez mais velha do que muitas professoras, mas continuava a gostar de ser
professora. Às vezes, a professora zangava-se. Queria que os alunos estivessem
atentos. Queria que os alunos fizessem os trabalhos de casa. Queria que os
alunos falassem e escrevessem corretamente. Queria que os alunos respeitassem
os outros. Queria que os alunos não fizessem barulho. Queria que os alunos
falassem na sua vez…
Mas às vezes gostava de sorrir, de dizer algumas
graças, de improvisar quadras a propósito de ocorrências ou momentos engraçados
– ou sem graça nenhuma – que se passavam na aula.
Pois bem, num dia em que o sol batia na janela e
aquecia a sala, a professora, ainda assim, mandou correr a vidraça. Porém,
abriu a porta, porque a sala de aula parecia uma estufa e ninguém era uma semente
na terra que precisasse de tanto aquecimento húmido para germinar.
E uma aluna, ao ouvir o pedido da professora,
levantou o braço e foi empurrando, empurrando a pesada vidraça larga, que se ficou por
uma abertura estreita até a professora dizer que estava bem.
Foi quando, de repente, se ouviu: ai, ui, que
horror, fogo, fecha a janela!
E a
professora, olhando os alunos e sem perceber ao certo o que se passava, foi
ficando zangada com a confusão. De repente, olhou para a janela e escancarou os
olhos ao ver um grande zangão, mesmo encostado à vidraça e a olhar para dentro
da sala.
E como a imaginação não tem fronteiras, logo se
ouviu:
- É um zangão curioso..
- O zangão quer explicações de graça.
- O zangão vai fazer exame e já começou a estudar.
- O zangão é esperto porque fica do lado de fora…
Foi então qua a professora – que tem uma costelita
parecida com uma qualquer de S. Francisco de Assis, disse:
- Deixem lá o bicho. Também tem direito à liberdade.
Mas, realmente, o melhor era ir à vida dele.
E, de repente, o zangão caiu no peitoril da janela e
desapareceu dos olhos dos alunos que o olhavam com curiosidade.
A professora disse então:
- Dava para escrever uma história gira. O título
poderia ser: “O zangão e a professora zangada”.
E logo a Mi-Mi abriu o rápido sorriso e disse: ó
setorinha, ó setorinha!
Ao mesmo tempo, talvez o zangão, agora desaparecido,
espreitasse uma nova sala de aula, podendo até ouvir:
Vai-te embora, zangão molengão,
Vieste para os alunos contar
Ou para fazer pim pam pum?
Não nos venhas desconcentrar.
Como já somos quase trinta
Não queiras ser um trinta e um!
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