Irene Lisboa nasceu a 25/12/1892 e morreu a 25/11/1958, há 56 anos. (Imagem enviada pela Poetria) |
Havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante, sem música.
Como um gesto, uma pancada brusca e sóbria.
Para quê todo este artifício da composição sintáctica e métrica?
Para quê o arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras, pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo.
Vejo, admiro, desejo?
Ou sim ou não.
E como isto continuando.
E gostava para as infinitamente delicadas coisas do espírito…
Quais, mas quais?
Gostava, em oposição com a braveza do jogo da pedrada, do tal ataque às
coisas certas e negadas…
Gostava de escrever com um fio de água.
Um fio que nada traçasse.
Fino e sem cor, medroso.
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito!
Amor que se não tem, se julga ter.
Desejo dispersivo.
Vagos sofrimentos.
Ideias sem contorno.
Apreços e gostos fugitivos.
Ai! o fio da água, o próprio fio da água sobre vós passaria,
transparentemente?
Ou vos seguiria humilde e tranquilo?Irene Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário