sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Portugal à vista?



No aeroporto, em dia de muita chuva e de muito inverno, muitas famílias despediam-se de jovens que partiam para países da Europa ou de outros continentes, onde tinham encontrado trabalho. Muitos seguravam apenas uma pequena mala, porque o low-cost assim o exige e a contagem dos dinheiros também ajuda a contar uma história mais feliz.
E outras regras tiveram de aprender a cumprir, porque muitos haviam partido sós e, mesmo em grupo, cada um teve de se adaptar a novos hábitos e a outras solidões.
Muitos transportavam o computador, onde armazenavam teses e artigos, no desejo sonhado de publicação.
Havia lágrimas em muitos rostos e pedidos de “quando chegares, dá notícias” e conselhos: “não te esqueças de pôr as alheiras no frigorífico”, “protege-te do frio”… Uma das mães ainda disse: “tem cuidado a atravessar a rua!”. Como se a sua menina não tivesse trinta anos!
Do lado de cá do vidro, todos esperavam pelo aceno repetido e atento dos que partiam, depois do check-in, e antes da descida das escadas rolantes a caminho do avião.
Quando os familiares regressavam aos carros, tinham menos palavras para dizer e reparavam mais no frio e na chuva. Mas também se lhes adivinhavam sorrisos nos rostos por saberem que os filhos tinham sido acolhidos por outros países e valorizados por outras gentes.
E assim se vão redescobrindo novas terras e novos mares.
Até quando tão desejados e sem Portugal à vista?

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