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A tangerineira
Era verão. Os dias amanheciam já quentes e as tardes tornavam-se
abrasadoras. A Ana estava de férias e adorava passar as tardes a ler debaixo da
sua árvore preferida: uma tangerineira enorme e de copa frondosa, que, no inverno,
se enchia de frutos doces e sumarentos e, no verão, amaciava com a sua sombra
as tarde escaldantes na aldeia.
Depois do almoço, depois da cozinha arrumada, enquanto a mãe dormia a
sesta, a Ana sentava-se à sombra da tangerineira a ler. As leituras sucediam-se,
e nas páginas do livro sentia-se a frescura das folhas verdes da tangerineira.
E as personagens da história sentiam-se também protegidas pela sua sombra.
Mas um dia a árvore secou. Era já muito antiga e muito velhinha. Foi
preciso cortá-la, ficou só o tronco grosso e abandonado. A Ana teve de procurar
outras sombras no quintal para poder continuar a ler naquelas tardes quentes de
verão, mas não havia nenhuma que se assemelhasse aos braços protetores da sua
tangerineira. A ameixoeira tinha folhas finas e pequenas; a figueira, largas e
recortadas. O sol lançava com facilidade os seus raios sobre as páginas dos
livros. As personagens queixavam-se, encolhiam-se, franziam o sobrolho àquela
luz que as inundava. A Ana não tinha como as proteger.
Os anos foram passando, a menina cresceu, morou noutras casas sem
tangerineiras que abrigassem as personagens das histórias que continuou a ler.
No lugar onde existia a sua árvore preferida, nem o tronco sobreviveu; foi
arrancado pelos braços fortes do cunhado, que agora habita a casa. Nesse espaço
florescem rosas de todas as cores, que cheiram a livros e têm a frescura das
folhas verdes da tangerineira.
Maria da Glória Poças
Há professoras de Português que escrevem mesmo bem! Com singeleza e qualidade perlocutória.
ResponderEliminar;)
Concordo completamente contigo.
ResponderEliminarBeijinho
M.
Quando a Glorinha me mandou esta sua história, respondi-lhe logo que estava muito bem escrita e que o final estava lindíssimo!
ResponderEliminarHoje, com mais tempo, gostaria de lhe dizer que um outro pensamento me ocorreu: "Quem me dera ter escrito este texto!"
Penso que este é o maior elogio que se possa dar a quem escreve.
E nem todos são disso merecedores...
Parabéns, Glória! E obrigada por seres minha amiga!
Quanto a vós, Mariana, Dolores e Vítor, que posso eu dizer?
Apenas, que temos todos muito bom gosto (Que se dane a modéstia!...)! E muita sorte em estarmos tão bem acompanhados...
;-)
beijinhos para todos (inclusive para a Ana, a feliz personagem do conto)
IA (às vezes, prima Zá)
Ora assim é que é! Continuemos, então, a partilhar histórias.
ResponderEliminarBeijinhos para todos
M.