O desafio foi: escrever sobre uma situação de pânico. Mário Cláudio
disse mais uma vez: escrever é expor-se.
Era uma noite de maio. Quente,
abafada, de céu carregado. Os rostos estavam rubros e transpirados.
Adivinhava-se uma forte trovoada. Eu encontrava-me a uns trinta km de casa. As
filhas eram pequenas e esperavam-me. A estrada era por entre penhascos. Eu
olhava o céu e via-o de fogo. Meti-me no carro, fechei as janelas porque não
suportava aquele ar quente e parado. Fiz-me à estrada. De repente, vejo o primeiro
relâmpago e logo a seguir muitos mais seguidos de fortes trovões quase em simultâneo.
Se parasse, ficaria entre as árvores gigantescas, se continuasse, caminharia
para o abismo. O céu em brasa abria-se ruidosamente, a estrada parecia afunilar
e tornava-se interminável. Deixei de pensar e conduzia como uma máquina que
apenas faz o que foi programado.
Millet
Sentia o horror de me sentir um
ser demasiado pequeno perante uma natureza que se impunha como gigante
enfurecido. Uns grossos pingos de chuva começaram a cair, um vento sem controle
fazia rodopiar as folhas secas que batiam contra o vidro. Nenhum carro passava
e o tempo também não.
Só perto de casa a tempestade
amainou.
Quando circulo nessa estrada,
mesmo que os céus e as árvores estejam sossegados, ainda sinto o quase pânico
desse regresso a casa em noite turbulenta de trovoada.
(Nota: Brontofobia é o medo de trovoadas)
(Nota: Brontofobia é o medo de trovoadas)
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