Era a primeira semana de aulas. A professora sugeriu aos alunos do 10º ano a escolha de uma palavra significativa para eles. A partir dela, encontrariam outras palavras, formando um acróstico.
A turma era simpática e tinha já revelado disponibilidade para o trabalho. A professora não era nova mas conservava um brilhozinho nos olhos quanto à Educação e ainda se emocionava de cada vez que via o filme O Clube dos Poetas mortos.
O trabalho na sala de aula estava a ser realizado em pares e os alunos discutiam a palavra que no momento ganhava para eles mais sentido. E escolheram: Verão, Férias, Praia, Outono, Recomeço, Escola, Amor, Amigos, Amizade... Faltava agora encontrar palavras ou frases, partindo das letras da palavra escolhida.
A professora ia circulando entre os alunos, ajudando-os a optar por nomes, adjectivos, aconselhando-os a não deixar, por exemplo, um advérbio isolado e perdido entre um grupo de desconhecidos.
Celso, porém, estava a fazer o trabalho sozinho. Na mesa à sua frente, duas miúdas riam, olhavam para trás, riam, voltavam a olhar…
Então, já fizeram o trabalho, perguntou a professora, aproximando-se deles. Estão a fazê-lo em conjunto? Elas disseram que não, voltando-se para a frente, sorrindo e cochichando.
Professora, murmurou Celso em voz baixa e em tom de confidência, tenho aqui uma palavra mas não sei se devo escolher outra. E entreabriu o caderno para que a professora a pudesse ler, resguardando-a dos olhares dos outros colegas. A palavra de Celso era Sexo.
As duas alunas voltavam-se para a frente e para trás, mas agora buscando a reação da professora que ia respondendo e sorrindo e pensando e lembrando que são inúmeras as palavras à nossa disposição, mas... Olhava os olhos de Celso com o caderno entreaberto e de sorriso expectante de adolescente entre o tímido e o ousado.
A professora refletia como tudo é natural e também complexo, corrigindo as palavras por ele escritas, tal como estava a fazer com os outros alunos.
Entretanto, Celso estava à procura de uma palavra que começasse pela letra X para completar o acróstico. Daí a nada, ele encontrou a solução e escreveu-a em silêncio, mantendo o caderno apenas entreaberto.
Os olhos de Celso tinham pouso dividido: tanto olhava para as duas colegas da frente como para a professora, a quem mostrou o trabalho completo com receio de o ver censurado perante a turma. E a solução por ele encontrada para a letra X lá estava: Xau, virgindade.
Texto publicado, há uns dois anos, no blogue Terrear.
Grande final!!!
ResponderEliminarbjinhos para a "mãe" da Mariana!
clarinha
Olá, Clarinha
ResponderEliminarAinda hesitei, mas lembro-me tão bem desse momento de aula e da expressão do aluno - entre o querer contar e o querer esconder. Achei piada. Também é isto a Escola/Educação.Digo eu, é claro.
Beijinhos
M.