Hoje, tive uma turma do 11º ano. Era a primeira aula do ano letivo. Falámos do que é habitual nesta altura: conteúdos, critérios de avaliação, visitas de estudo...
Ora, ao enunciar os textos/as obras a estudar, escapou-me um poeta fabuloso que é Cesário Verde. Como se não bastasse o facto de a sua obra ter sido por muitos ignorada durante a sua (curta) vida (1855-1886). Felizmente, um amigo, reconhecendo o valor da obra poética que tão bem conhecia, possibilitou a sua publicação e divulgação.
Gosto muito das pequenas histórias que os poemas de Cesário contam. E dos quadros pintados por palavras, sendo frequente a abundância de sensações (visuais, olfativas, tácteis...).
Para me redimir do esquecimento, li, no final da aula, aos alunos, um poema de Cesário. Embora fosse de manhã, pareceu-me que houve uma boa adesão à luz vinda "De tarde".
"De tarde
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas".
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