Em resposta a um pedido, esta foi uma frase sugerida por uma colega e amiga para inscrever e oferecer aos professores do mesmo Departamento.
Também a recebi. Achei-a bonita, simples e clara. Sobretudo para quem trabalha a palavra como se cuida da terra que se quer mais fértil.
Gosto da ideia de as palavras serem geradoras de algo que contribui para que as pessoas se sintam bem, aproveitando o que está ao seu alcance e vale a pena.
Sem sol, sem chuva, sem ar não sobreviveríamos, mas sem palavras, essas dádivas seriam menos sentidas e vividas.
A experiência ensina que as palavras são polivalentes. Às vezes estimulam, outras tantas ferem. Porém, completam a “harmonia” e a união, sem as quais a vida seria amarga e fria, mesmo sendo efémera.
Gosto de palavras. De preferência simples e concretas. Que traduzam verdades humanas e cores da natureza. Disponíveis e plenas. Pacientes e livres. Discretas e presentes.
Releio a frase partilhada e ocorre-me o poema de Eugénio de Andrade que a seguir transcrevo. Não digamos nunca que as palavras dos poetas são palavras vãs.
AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
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