sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Campainha

 

Quando eu era miúda, a minha mãe dizia-nos, a mim e aos meus irmãos, muitas vezes: não é para tocar à campainha. A advertência vinha a propósito de alguma coisa nova que se comprava, alguma notícia que era sobretudo nossa, etc. qualquer coisa que ela entendia não ser para contar a ninguém.

Não sei se foi por isso, mas tenho alguns pruridos em falar de mim num círculo mais alargado, ainda que a minha vida seja comum e anónima.

No entanto, aprecio muitas vezes a coragem de quem fala sobre si com inteireza, verdade e confiança, não para se vangloriar nem prejudicar seja quem for, mas porque o quer dizer, consciente de que o que diz não é motivo para se arrepender mais tarde nem é desabafo inocente que não interessa a ninguém e que apenas introduz ruído.

Com certas coisas que oiço dos outros também procuro ser cuidadosa, não reproduzindo muito do que ouvi, se o assunto é delicado, mesmo que não me tenham pedido segredo. Tenho medo de ouvir: foste dizer... contaste... não era para se saber ...

Fico atrapalhadíssima só de o pensar porque já me aconteceu uma vez ou outra e o que senti foi horrível. Devem ser resquícios do conselho que tantas vezes ouvi na minha infância, sentindo que não estive à altura de o cumprir: não é para tocar à campainha!

Por falar nisso, desculpem, estão a tocar à campainha.

 

7 comentários:

  1. Falar de nós mesmos não é vaidade pessoal?
    .
    Feliz fim de semana.
    .
    Pensamentos e devaneios poéticos
    .

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  2. Em muita coisa que dizemos, mesmo sem querer, falamos de nós. Julgo que não é vaidade. Quem o faz só por vaidade torna-se chato e ridículo até mais não.
    Também um feliz fim de semana - com um bom bocadinho de vaidade, por que não?

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  3. Pura verdade
    ou ficção
    este bem escrito texto
    tem carradas de razão!

    Mas diga-me lá
    por favor,
    o que pensa
    a Mª Dolores
    se eu, que tanto mostro
    de mim,
    em versos ou em imagens
    mas prezo as vidas
    alheias, se farei bem ou mal?

    É que fiquei baralhada
    se serei uma descarada
    ou, corajosa e confiante
    em excesso,
    neste munfo virtual...

    Abracinho. :-)

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    Respostas
    1. Querida Janita,
      com toda a verdade
      e sem qualquer ficção
      digo-lhe que não estava a pensar em si
      - talvez de coisas que oiço na rádio ou televisão -
      quando falei do tocar demasiado à campainha.
      Ai, que até me sinto mal!
      Mas, de facto, se a comparar comigo,
      no poder de comunicação,
      a Janita é rainha
      e eu da missa um sacristão!!

      Mas não fique 'baralhada'
      é o que menos eu quero.
      pergunta se é 'descarada'?
      Ai, valha-me Deus,
      tudo bom e sem excesso,
      cá na minha opinião,
      partilha tanta coisa boa e humana,
      com saber e imaginação,
      tanta coisa que as pessoas irmana
      que apetece visitá-la
      e ajuda a temperar
      alguma vontade mais medrosa
      e mandar logo de seguida,
      como me apetece agora,
      um grande xi-coração
      por mensagem tão bonita
      e entrar ainda mais vezes
      no seu Cantinho da Janita.

      Um abraço, Janita, e um fim de semana ao seu gosto.

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    2. Boa!! 😊
      Bom domingo, Mª Dolores.
      Beijinho

      Janita

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  4. Há coisas que não são de contar. Ou por nos pedirem segredo, ou por sabermos que só prejudicam aqueles a quem aconteceram (nós incluídos), ou porque gostamos que sejam só nossas, temos prazer nisso; há tão pouca coisa que nos pertence. Mas gosto imenso de contar, sobre mim, sobre os outros; sou conhecida por contar inventando sempre um bocadinho. O acto de contar só se completa quando tem a atenção do ouvinte/público.
    Não conhecia a expressão, "não é para tocar à campainha", faz sentido.

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  5. Imagino que será bom ouvi-la, Bea. Aprecio imenso as pessoas que contam as coisas com graça, dando mais vida ao momento.
    Tinha uma colega de trabalho que o que ela contava, e ainda conta, felizmente, mesmo que fosse repetido, apetecia sempre ouvir como se fosse a primeira vez. E então as pequenas peripécias do dia a dia eram um delícia pela maneira expressiva como as contava. Sempre com um bocadinho de pimenta acrescentado, o que tornava o caso, ainda que banal e simples, mais apetitoso.
    Um abracinho, Bea, e um fim de semana bom com bonitas histórias para contar.

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