Há dias, recebi um presente. Um belo presente. Um presente diferente. De uma querida amiga. Um poema para cada uma de um pequeno grupo de amigas. O meu foi este que agora partilho. Ela lá sabe por que o escolheu. Obrigada, Idalina.
(Bea, um bom motivo de gratidão, pegando nas suas palavras do seu blogue Erva Príncipe)
LÍNGUAS
Contenho vocação pra não saber línguas cultas.
Sou capaz de entender as abelhas do que o alemão.
Eu domino os instintos primitivos.
A única língua que estudei com força foi a portuguesa.
Estudei-a com força para poder errá-la ao dente.
A língua dos índios Guatós é múrmura: é como se ao
dentro de suas palavras corresse um rio entre pedras.
A língua dos Guaranis é gárrula: para eles é muito
mais importante o rumor das palavras do que o sentido
que elas tenham.
Usam trinados até na dor.
Na língua dos Guanás há sempre uma sombra do
charco em que vivem.
Mas é língua matinal.
Há nos seus termos réstias de um sol infantil.
Entendo ainda o idioma inconversável das pedras.
É aquele idioma que melhor abrange o silêncio das
palavras.
Sei também a linguagem dos pássaros – é só cantar.
Barros, Manoel de, Poesia Completa, 2016, Relógio d´Água, p. 363
Poema lindíssimo que me fascinou ler
ResponderEliminarFeliz ano novo.
Também gostei muito. Obrigada.
EliminarTambém lhe desejo um Ótimo Ano Novo.
Um bonito poema que não conhecia.
ResponderEliminarAbraço, saúde e um feliz Ano 2023
Vale a pena ler este poeta brasileiro, que nasceu em 1916 e faleceu em 2014.
EliminarOutro abraço e desejo também um Ano Novo muito Feliz.
Gostei muito do poema pelas imagens que evoca. Feliz 2023 Dolores e um grande beijinho
ResponderEliminarConheço (ainda) poucos poemas de Manoel de Barros, que parece arrancar poesia a partir de tudo o que o rodeia. Outro beijinho, Gábi, e Feliz Ano Novo.
EliminarTambém gosto muito 💜
ResponderEliminarQue bom. Eu também.
EliminarBeijinho
A sua amiga pensou em si e no que de si conhece para escolher o poema. Atitude original, gesto bonito, a Maria Dolores ficou grata. Mas sempre lhe vou dizendo que prefiro - de longe - as palavras mal amanhadas e sinceras ao verso de poema feito pelo melhor poeta. O poeta escreveu sem me pensar; a minha amiga escreve para mim. E com isso me faz única (não é o que todos queremos?).
ResponderEliminarMas a verdade do poema mantém-se - há, nos idiomas e dialectos, muito do povo que os criou. Como é visível na análise expressa
Olá, Bea, que, mais uma vez, vê o outro lado das coisas. E fica-se a pensar. E também se valorizam outras dimensões que podiam ficar mais obscurecidas porque ninguém as validou.
EliminarMas, Bea, pensando bem, quem escolhe um poema para alguém pensa nesse alguém e é como se lhe escrevesse, mesmo sendo intermediário.
Gostei da frase 'com isso me faz única'. Sim, também acho ´que é o que todos desejamos. Oxalá 2023 traga bocadinhos dessa boa possibilidade.
Uma grande escolha poética.
ResponderEliminarNão conhecia, obrigado pela partilha.
Boa semana e um feliz ano de 2023, amiga Maria Dolores.
Um beijo.
Sim, uma grande escolha. Essa minha amiga encontrou um poema que tivesse a ver com cada elemento de um grupo. Maravilhoso.
EliminarFeliz 2023, amigo Jaime
Abraço