domingo, 12 de junho de 2022

Hoje lembrei-me da palavra riscote

 

Tenho uma tia que foi modista durante muitos anos. A minha irmã e eu, quando éramos pequenas, gostávamos muito de ir para casa dos meus avós, onde ela ainda morava, porque a sala de costura era um lugar muito alegre e onde havia tecidos e carrinhos de linhas de muitas cores e feitios. Preferíamos as tardes, porque era quando estavam as raparigas a quem a minha tia ensinava costura. Enquanto costuravam, iam comentando as coisas que aconteciam com elas, sobretudo se falavam dos rapazes que lhes faziam a corte, e soltavam grandes e juvenis gargalhadas. Para nós, era uma festa.

Pois bem, em cima da mesa onde a minha tia estendia os tecidos para o corte - muitas vezes tirado dos moldes da revista Burda - havia vários riscotes, com que ela marcava, com traços intermitentes e precisos, as linhas que a tesoura grande e bem afiada ia seguir e cortar. 

Às vezes, pedíamos-lhe para marcarmos também com o riscote a roupinha das bonecas que fazíamos com bocadinhos de tecido que sobravam. Depois, olhávamos para as mãos que ficavam mais ásperas e tingidas da cor do riscote. E esfregávamos os dedos para sentir o pozinho colorido  entranhado.

Quando chegássemos a casa, tínhamos de lavar as mãos, sem mais delongas. No dia seguinte, logo que pudéssemos, lá nos escapávamos para a sala onde a minha tia trabalhava e onde não faltava o riscote, que também ajudava a riscar algumas tardes divertidas.

 

8 comentários:

  1. Boa tarde
    Frequentava também em novo a casa de um alfaiate na minha terra e recordo me muito bem do riscote e como ele o usava com verdadeira perícia.

    JR

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  2. Sim, os alfaiates também tinham de o ter sempre à mão para que tudo assentasse bem. É que não brincavam em serviço. Agora é arte que estará a escassear. E as modistas também já foram em maior número, antes das lojas de roupa bonita e mais barata.
    Bom domingo, Joaquim.

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  3. Tempos felizes, diferentes, que não voltam mais.
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    Um domingo feliz.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  4. De muitas coisas nem tenho sequer saudades, mas dias felizes eram, são e serão sempre bem-vindos.
    Um abraço

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  5. Muito bem. Gostei bastante do texto :)
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    Emoções esvoaçando no areal...

    Beijos. e uma excelente semana.

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    1. São daquelas coisas simples que também preenchem a nossa memória.
      Um beijinho, Cidália

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  6. Meu pai era alfaiate mas não me lembro desse nome...😉... Bj

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  7. Mas o seu pai usava-o com certeza, ou então tinha outros modos de marcar os cortes. Havia uma modista perto de mim, com muito talento e mão certeira, que, diziam, cortava os tecidos a olho.
    Um beijinho, Gracinha

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