Conheço-o desde que se casou. Um homem alto, simpático, com as suas camisas aos quadradinhos, calças de bombazine e pulover. Foi serralheiro durante muitos anos e trabalhava por turnos. Às vezes, penso que teria tido capacidade e inteligência para uma profissão, por exemplo, ligada à saúde.
Quando chegava ou partia de madrugada, tentava não acordar ninguém, sobretudo a mulher, a quem sempre chamou pelo petit nom e que sempre foi o amor da vida dele. Continua a sorrir com as histórias de namoro que ela sempre conta. Fica alegre com a sua alegria, apoia-a na sua tristeza, poupa-lhe os desgostos que pode e, mesmo sem pensar em promessas feitas, sempre esteve presente 'na saúde e na doença, na alegria e na tristeza...'
Pois bem, depois de muitos anos de trabalho dedicado, veio a reforma. E as doenças dos familiares com quem viviam. E os seus cuidados diários. E as sua mortes. E as preocupações e ajudas mais variadas de pai. E as chamadas de vizinhos que viviam sós e precisavam de alguém...
Sempre o vi em atividade e quase esquecido de si próprio. Para ele, os outros, sobretudo a família mais próxima, sempre contaram mais. Uma vida inteira de disponibilidade e generosidade, sem má cara, sem más palavras, sem qualquer queixa, sem azedume, sem cobrar nada.
Como a idade não perdoa, apesar de ter saúde, ouve muito mal, mas continua sempre a ajudar a família. Tal como durante toda a sua vida, pouco tempo lhe sobra para ele, a não ser a leitura do seu JN e os jogos do seu FCP. No entanto, não deixa de dizer, como sempre ouvi: se precisares de alguma, diz, não tenho nada que fazer, estou reformado.
Houvessem mais pessoas assim, sempre disponíveis e voluntárias para ajudar e o mundo não seria tão cruel e injusto. Só é pena ser adepto do FCPorto, lol.
ResponderEliminar.
Saudações cordiais.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Bom dia
ResponderEliminarQuem diria !
JR
Um bom dia para si, Joaquim, tenha ou não que fazer. Também sabe bem ter tempo livre (embora também nisso eu não seja lá muito bom exemplo!).
EliminarConcordo consigo, embora ache que cada um de nós também deve ter direito a ter o seu tempo.
ResponderEliminarQuanto ao clube, ah ah ah!
Um bom dia, Ricardo
Crónica extremamente interessante e que me serve como um fato, não por medida, mas comprado no pronto-a-vestir.
ResponderEliminarPorquê? Porque também sendo reformado, ou desocupado, como cá por casa me chamam, não tenho rigorosamente nada para fazer. Sim, porque ir às compras, limpar a casa durante um ou dois dias da semana e tratar do condomínio, não é praticamente nada. Sobra-me tempo para a leitura, para os filmes e para ouvir música, é sem dúvida um "dolce far niente", mas saiba Maria Dolores como invejo os que saem de casa às 8 horas a caminho dos empregos.
Por vezes penso "que contributo posso ou devo ainda dar ao mundo, num quadro de saúde estável?"
Já pensei fazer voluntariado em alguns dias da semana, ou tirar um curso para me manter ocupado (tocar um instrumento, informática, culinária, etc.), ou arranjar um part-time (talvez numa imobiliária), mantendo-me deste modo socialmente activo, mas todos os projetos acabam inevitavelmente por ficar na gaveta.
Depois de três corridas à volta do quarteirão ou um pouco de bicicleta, regresso rapidamente a casa, para me enterrar no sofá e fazer aquilo que mais gosto - ler, ouvir música, ver cinema, seguir três ou quatro blogs - não descurando os afazeres diários, a referida lide doméstica e sempre ao dispor dos de cá de casa.
E continuo neste impasse!
Entretanto, lembro a história do Maurice Chevalier quando lhe perguntaram como se sentia uma pessoa aos setenta anos. «Menos mal», respondeu. «Se considerar a alternativa.»
No entanto para mim, na casa dos sessenta, estar vivo, quero que seja bem melhor do que "menos mal".
Gostaria de encarar a vida não apenas como um dado adquirido, mas também um bónus, uma dádiva, com cada dia vindouro convertido numa experiência para ser saboreada.
O tempo não será eterno!
Mas, Joaquim, pelo que diz, não é tão desocupado assim. Enumerou vários afazeres que levam o seu tempo, para além da disponibilidade que revela. Ver filmes, ler livros e seguir alguns blogues também são atividades que preenchem bem o tempo, embora sem os deveres de cumprir horários como quando se está no ativo e se trabalha fora.
EliminarDepois de muitos anos de trabalho, tem-se o direito e até a necessidade de fazer uma gestão diferente do tempo.
Mas se o dia lhe sobra assim e gostaria de o rentabilizar, se calhar, tem mesmo de pensar numa atividade que lhe interessa e inscrever-se. Há, por exemplo, universidades seniores com oferta muita interessante, muito variada, pelo que oiço, e muita gente sente-se muito bem no tempo que lá passa, porque aprende, convive, trabalha competências, etc.
Há, portanto, muita coisa que se pode fazer para continuar a saborear cada dia. Às vezes, o que custa é dar o primeiro passo. Depois de dado, tudo parece mais simples.
Uma boa noite, Joaquim
Um texto que me deixou com uma profunda admiração e respeito por esse excelente homem que toda a vida pensou mais nos outros no que em si.
ResponderEliminarLembrei-me de uma rubrica que lia em tempos, numa certa revista que não adianta dizer o nome, até porque nem me ocorre.
Tinha por título "O Meu Tipo Inesquecível". Várias pessoas participavam contando casos de alguém que haviam conhecido ou conheciam, que as tinha tocado de forma especial. Algumas até se diziam ter sido influenciadas por esses casos exemplares.
Pois, este 'seu' senhor alto, simpático, com as suas camisas aos quadradinhos, já eu o adoptei como o meu «Tipo inesquecível».
Um beijinho e boa noite, amiga Dolores!
Uma pessoa exemplar. Não conheço um reformado assim. Mas nunca entenderei o não ter que fazer da reforma. Reformada, Tenho idênticos problemas a quando estava no activo: obrigo-me a optar, os dias são insuficientes para cumprir tudo.
ResponderEliminarÉ mesmo exemplar. E não fantasiei. É daquelas pessoas anónimas que nunca serão conhecidas e é pena. Quando ele diz que não tem nada que fazer, é, tenho a certeza, para que aceitem ou peçam mais facilmente a sua ajuda, sempre que precisem. Quanto a afazeres, sempre os teve em abundância, porque faz as coisas em vez de estar à espera que as façam
EliminarTambém estou reformada - às vezes digo que estou reformulada - mas feliz ou infelizmente, nunca tenho tempo para fazer tudo o que queria fazer e ao meu ritmo. E gosto de ter, de vez em quando, um tempinho para mim.
Uma noite descansada, Bea
Boa noite, Janita
ResponderEliminarNão me lembro de ter lido essa rubrica. Devia ser bem interessante e também devia contrariar a generalização que se faz tantas vezes sobre o mundo ser cada vez mais egoísta. Há exceções, sim senhor. E ao que eu disse sobre ele poderia acrescentar muito mais, como o bom humor e fazer cozinhados à moda antiga de comer e chorar por mais.
Janita, uma boa noite e sonhos bons para um bom descanso.
Há pessoas assim, sempre disponíveis. Mas são raras...
ResponderEliminarGostei do seu texto.
Continuação de boa semana, querida amiga Maria Dolores.
Beijo.
Bastante raras, de facto, embora existam. felizmente.
ResponderEliminarBoa noite, amigo Jaime