Flores de agosto
Procuro-vos, flores de agosto. As que nascem nos caminhos que me levam à infância vestida de verão. Aquelas que via romper, espontâneas, na beira dos riachos, nos campos, nos muros, nos cômoros que subíamos e descíamos em desenfreada correria, para ver quem chegava mais depressa ao cimo ou ao fundo.
Ainda sem saber que os pés sujos da poluição as calcariam de morte.
Procuro-vos, flores de agosto, junto de límpidas nascentes antigas e charcos, onde rãs coaxavam em estreladas noites de claridade azul.
Ainda sem saber que as nascentes secariam e os charcos seriam terra seca e gretada.
Procuro-vos, flores de agosto, debaixo de árvores que eram abrigo de brincadeiras à sombra fresca do verdor da idade.
Ainda sem saber que muitas florestas seriam queimadas pelo fogo de loucuras várias e de tresloucadas ambições.
Procuro-vos, flores de agosto, nas dunas esquentadas pelo sol ou arrefecidas no silêncio noturno da maresia.
Ainda sem saber das barreiras para humanos invasores.
Procuro-vos, flores de agosto, nos montes que percorri na certeza pueril de alcançar a distância.
Ainda sem saber que o tempo é veloz e inalcançável.
Procuro-vos, flores de agosto, revisitando lugares que então floriam felizes.
Desejando que possam voltar.
Sabendo já que a infância, não.
Maria Dolores Garrido, in coletânea Mimos de agosto, p. 49, Mimos e Livros Edições, set. 2021
Bom dia
ResponderEliminarA infância não volta , mas não se apaga nas nossas memórias .
Lindo demais para passar despercebido.
JR
Obrigada, Joaquim.
ResponderEliminarÉ sempre bom ouvir boas palavras logo pela manhã.
Um dia muito bom para si
Em boa hora os coordenadores da colectânea se lembraram da sua poesia Maria Dolores. Está também presente em outros Mimos ou só de Agosto?
ResponderEliminarTenha um dia bom.
Tenho participado sempre dos Mimos de...
EliminarFui verificar e já houve 6 edições. Foi uma boa ideia da Editora, sem dúvida.
Os coordenadores divulgam a iniciativa e, quanto a mim, espero que me venha uma ideia, como acontece com os outros participantes, acho eu.
É um texto simples, mas, para mim, retrata os lugares onde eu e outras crianças brincávamos uma boa parte do dia.
Um dia feliz para si, Joaquim
A infância não volta mas ... recordá-la desde que tenha sido bonita... é viver o presente
ResponderEliminar.
Um dia feliz … cumprimentos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Não volta, mas não fico presa ao passado, felizmente. Recordo muitas coisas boas e outras não. Como em todas as idades.
EliminarUm dia bonito para si, Ricardo
Tão bonito este texto. As flores voltam todos os anos ao mesmo lugar. A Infância não!
ResponderEliminar(aqui onde moro, existe um arbusto desde que me lembro ser gente, floresce todos os anos)
*
Enquanto a solidão me perseguir...
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Votos de um dia feliz. Beijos
Oxalá esse arbusto seja preservado, Cidália. Que bonito. Já a deve ter inspirado, não?
EliminarUm beijinho
Um texto delicioso. Parabéns, Maria.
ResponderEliminarObrigada, Bea. E a sua opinião conta. Mesmo.
EliminarUm dia bom para si
Um Mimo de Agosto que se lê com prazer em qualquer mês do ano.
ResponderEliminarUm texto que é uma pérola a salvaguardar da passagem do tempo.
Se me permite um pequeno àparte deixe que lhe diga que a amiga Mª Dolres já me pareceu o "Senhor Impontual". Tive de recorrer ao dicionário para saber o significado desses tais «cômoros».
E, assim sendo, já saio daqui muito mais rica e muito contente por a saber incluída nessa Colectânea de Mimos.
Quem não gosta de ser mimada?
Um beijinho e muitos Parabéns, amiga Dolores.
Ai que engraçado, Janita. Olhe se o Sr Impontual passa por aqui!!!
ResponderEliminarQuanto à palavra, fui confirmá-la no dicionário, porque sempre ouvi 'combro', mas desconfiava que não estava bem e não queria que ficasse com erro.
Quanto ao resto, obrigaaaada, Janita, sempre querida e generosa.
Beijinhos e bom descanso
Gostei imenso do texto, é excelente.
ResponderEliminarParabéns pelo talento.
Bom fim de semana, amiga Maria Dolores.
Beijo.
Obrigada, amigo Jaime.
ResponderEliminarExcelente fim de semana.