Há uns tempos, fui a
casa de uma amiga. Dando uma volta pelo jardim e quintal,
contou-me a história de
uma ameixoeira renascida.
Dias depois, surgiu-me, então, esta pequena narrativa que agora partilho de novo
(a primeira vez foi aqui, em julho de 2011).
Obrigada, C.
Por convite do Clube das histórias, este texto será partilhado em breve
e poderá chegar a muitas crianças que, por razões económicas, não estão habituadas a ouvir histórias.
Que bom seria que nenhuma criança se sentisse só!
Obrigada, C.
Por convite do Clube das histórias, este texto será partilhado em breve
e poderá chegar a muitas crianças que, por razões económicas, não estão habituadas a ouvir histórias.
Que bom seria que nenhuma criança se sentisse só!
A ameixoeira que não gostava de estar só
Era uma vez uma
ameixoeira que morava num quintal muito acolhedor. A vizinhança era muito
variada: duas macieiras, três pés de abóbora, um limoeiro, margaridas,
camélias, azáleas, arruda, erva-cidreira, manjericão, lúcia-lima, hipericão…
A ameixoeira dava
frutos muito vermelhinhos. Ameixas escurinhas e aveludadas. Sumarentas e
perfumadas. A família gostava de as
colher e saborear junto à árvore que era a casa onde as
ameixas moravam. Claro que estavam expostas ao vento, à chuva, ao sol, mas era
assim que, naturalmente, desejavam viver. Só não gostavam de cair ao chão
já podres ou secas, porque podiam ser pisadas sem ninguém as apreciar nem
saborear. Se bem que, quando caíam,
ainda tinham a serventia de estrumar a terra, ajudando a que, no ano seguinte,
novos frutos e plantas se desenvolvessem.
Um dia, as folhas da
ameixoeira começaram a secar. De princípio, era uma aqui, outra ali, mas, em
pouco tempo, ficaram todas murchas, escuras e sem viço. Bastava uma pequena
brisa para as fazer cair ao chão. Qualquer aragem as desprendia da árvore e
atirava-as para a terra.
No ano seguinte, o mais certo era a ameixoeira não dar frutos. Era como se uma grave doença lhe
roubasse a vida, tirando-lhe, aos poucos, a seiva e a força.
Ora, junto da ameixoeira,
vivia uma buganvília de cor bem vermelha. No centro de cada flor, raiavam
estames amarelinhos, parecendo alegres e mágicas luzes acesas.
Separava-as apenas um
ou dois metros - a ameixoeira que secava e a buganvília que crescia viçosa.
Como se sabe, as
buganvílias estendem os seus ramos apoiando-se nos suportes que estão próximos
e que as ajudam a trepar. Assim aconteceu.
Os ramos pareciam
braços a estender-se em várias direções. Não como as pernas do polvo que se
agarram ao solo com escondido disfarce para não ser notada a sua presença.
Os ramos da buganvília
crescem sempre com a mesma cor e aos olhos de toda a gente, embelezando os
recantos onde vivem.
Às vezes são um
bocadinho intrometidas porque espreitam às janelas, saltam os muros, entram
pelas portas… São como pessoas muito bonitas, que dão alegria e beleza aos
lugares, mas como também são uma força da natureza, precisam que alguém lhes
oriente o rumo.
Era assim o quintal
onde a nossa buganvília crescia em todas as direções. Um dos ramos foi ter direitinho à velha ameixoeira que parecia desfalecer de tão sequinha e fraquinha.
Um ramo da buganvília
foi ao encontro da árvore raquítica e outro braço – digamos assim – encostou-se
ao tronco, apoiando-o.
Com o tempo, os ramos
deram origem a outros ramos e pareciam gostar daquele amparo que encontravam na
velhinha ameixoeira que, em silêncio e quase escondidinha, ia recebendo
renovada energia.
Apesar de parecerem
abraçá-la, os ramos da buganvília nunca a taparam, para que ela pudesse sempre
respirar à vontade. Na verdade, a buganvília abraçava-a mas
deixava sempre espaço para a ameixoeira.
O tempo foi correndo e
quem passava por lá perto só tinha olhos para a buganvília, porque a ameixoeira,
quase escondida, parecia uma bengala fininha em que a formosa trepadeira se
apoiava mostrando toda a sua beleza e vigor.
Um dia, a dona da casa
foi ao quintal apanhar couves para a sopa e passou perto das duas árvores. Se
estivesse com pressa ou a pensar em mil coisas ao mesmo tempo, nem teria reparado no
que lhe saltou logo aos olhos. A ameixoeira, que parecia até então estar a
desaparecer, tinha novas folhinhas verdes a crescer. Como se renascesse numa nova primavera.
A senhora olhou várias
vezes com atenção, afastou uns raminhos da buganvília com a mão para verificar
se não era a trepadeira que a tinha invadido, mesmo sem querer. As
folhinhas renascidas eram mesmo da ameixoeira. Pelo aspeto, por certo a árvore
até já daria fruto no próximo ano. Via-se também pelo tronco que estava mais forte.
Foi então que a dona
da casa, para quem cada planta tinha uma história como tem qualquer pessoas, logo
chamou a família para ver a ameixoeira renascida.
E o neto, um menino de
cabelo forte aos caracóis, olhou para a avó e disse:
- Ó avó, se calhar a
ameixoeira não gostava de estar sozinha!
A avó sorriu-lhe e imaginou a compota vermelhinha de ameixas que faria
no ano seguinte.
De uma coisa não se podia
esquecer: pôr na mesa um raminho de buganvília ao lado da compota reluzente e
saborosa.
Gostei muito da história.
ResponderEliminarum beijinho e uma boa semana
Que bom, Gábi,obrigada. Estou a gostar muito de escrever algumas histórias para crianças. O mais difícil é publicar e a pandemia não ajuda.
EliminarUm beijinho
M.
Uma bela história de amor à mãe natureza!
ResponderEliminarObrigada pelo comentário. Fiquei muito feliz.
ResponderEliminarMuita saúde
M.