Na ida, coube-me o lugar junto à janela do avião. Ao meu lado, iam duas mulheres que viajavam em trabalho que era comum. Não se conheciam. Começaram a falar e a conversa durou as duas horas de viagem. Uma era mais faladora do que a outra. Repetiu várias vezes que gostava de falar. E falou longamente. E contou amores e desamores, partidas e regressos, gostos e desgostos...
Eu ia olhando pela janela do avião, fechava os olhos de vez em quando, mas, mesmo que não quisesse, ia ouvindo as histórias de vida que estavam a ser contadas.
No final, trocaram contactos, depois de toda uma vida ter voado enquanto durou o voo até Londres.
história 2
Quando estou em Londres, vou muitas vezes ao Waitrose local fazer as compras do dia. Há uma senhora na caixa que fala com os clientes, enquanto faz os seus registos. Ele é o tempo, ele é qualquer fait-divers do dia... Ah, e também sorri bastante. Já tem uma certa idade e as palavras são ágeis como as mãos que, ao longo do dia, põem centenas e centenas de embalagens, com outros tantos sorrisos, do lado da recolha pelos clientes.
Interrogo-me sempre se continua a sorrir depois de um dia de trabalho.
história 3
Fui com a família ao Museu dos Transportes, que abre ao público apenas algumas vezes no ano. Aceitei a ideia de bom grado, embora tivesse pensado, para os meus botões, que teria um interesse relativo, porque estou mais habituada a ir aos museus de arte.
Enganei-me. Passámos lá várias e boas horas. Havia comboios e autocarros desde os primórdios dos transportes públicos e muitas atividades para as crianças que os adultos acompanhavam com agrado.
De facto, a evolução dos transportes públicos com vista à qualidade de vida das pessoas é também uma importante forma de arte.
história 4
Quando chegámos ao Museu dos Transportes de manhã, logo parámos numa atividade. Um homem e uma mulher estavam sentados em frente a uma mesa e, com a ajuda de cada criança, era mostrado o movimento elétrico do comboio. A nós coube ser a senhora a fazer a demonstração, sempre com a colaboração da criança.
À tarde, voltámos a passar nesse lugar. A Clarinha quis participar de novo. Enquanto esperávamos pela nossa vez, assisti aos mesmos movimentos da senhora para que as crianças compreendessem o funcionamento do comboio na sua linha. A atitude positiva e interativa com as crianças era a mesma da manhã. Embora tivesse repetido inúmeras vezes a operação, parecia ser sempre a primeira vez a fazê-lo.
história 5
Na viagem de regresso, encetei diálogo com a senhora que vinha ao meu lado no avião. Vivia em Londres há dezenas de anos. Nas traseiras da casa, tinha uma pequenina horta e algumas flores. Na horta tinha dois pés de couve galega para fazer caldo verde de vez em quando e um arroz de feijão com couve a fugir do prato. Disse-o com algum regalo no sorriso.
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