Poema Fala de Mãe e Filho
“Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?”
Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.
“Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar?”
Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.
“Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?”
Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.
Mia Couto
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