Sentou-se no sofá habitual. À sua volta, o burburinho habitual.
Precisa de alguma coisa? Já viu que dia bonito está hoje? Vou já pôr as gotas. Daqui a bocadinho, vamos ao jardim e vai ver que as pernas nem doem tanto. Está calor? Olhe que a partir de agora vai estar mais fresquinho. Eu já vou aí apanhar o novelo que caiu. Está bem bonita a sua renda. Ninguém a quer? Vai ver como fica bem naquela mesa. Só um bocadinho, eu ajeito já a almofada. Levante a cabecinha, porque não quero vê-lo sempre a olhar para o chão. Não gosta deste programa de televisão porque só conta tristezas? Pois, mas também dá coisas giras.
Quando formos passear um bocadinho, pode contar como conheceu o amor da sua vida. Está a ver, teve essa felicidade. Olhe que nem toda a gente se pode gabar disso. Pronto, está tudo em ordem. Se quiserem alguma coisa, chamem. Eu volto já já. Não, não, não demoro nada.
Afinal, o passeio ao jardim ficou adiado. A televisão continua em gritaria a pedir que telefonem para um número que parece tortura de tão repetido.
E o jardim do amor fica mais distante.
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